Humanismo
é uma palavra para resumir a realidade do homem. Foram muitas as formas de
entendê-lo ao longo da História e muitas as suas faces. A cultura ocidental
explicitou as realidades de um ser que era histórico e vivia numa sociedade que
também era. Mudam os indivíduos, mudam as sociedades humanas. Essa forma de tratar
o homem nele identificou estratos: matéria viva e consciência espiritual. Esses
estratos resumem uma totalidade plural, que quer dizer que o homem não é só
matéria viva, mas consciência psicológica e espírito, ou melhor, uma totalidade
singularmente individual. Com algo comum com os outros e muito de somente seu.
Um ser que embora tenha uma parte material submetida às leis da física, possui
também emoções e sentimentos de alta complexidade e uma razão que lhe dá
liberdade e exige responsabilidade.
Com
a evolução da cultura, a criação artística e a análise racional das possibilidades
humanas pelas ciências e pela filosofia, a razão reconheceu, nesse modo de ser,
um valor inesgotável. O homem foi descrito como um valor que o diferencia dos
demais e lhe confere importância. Miguel Reale resumiu essa condição dizendo
que o homem era um valor irredutível e, ao mesmo tempo, um valor fonte. Com
isso resumiu que o homem tinha um valor inalienável e que podia reconhecer
valor nas coisas ou atribuir-lhes valor, como, por exemplo: o equilíbrio da natureza,
os bens materiais e as organizações sociais que são valores por causa do homem.
Uma
das maiores dificuldades dos primeiros cristãos foi mostrar que uma pessoa
divina viveu verdadeiramente essa condição humana. Que Ele teve fome, porque
era matéria, sentiu-se angustiado, por era consciência psicológica e era capaz
de ensinar de forma racional porque era espírito como seus semelhantes. E ainda
assim, possuindo todos esses atributos humanos era também divino porque existia
desde sempre ao lado de outras pessoas igualmente divinas e espirituais.
Espirituais não só porque pensavam, mas porque essa condição nas pessoas
divinas era magnífica expressão de perfeição eterna e amor infinito. Sem
conseguir entender isso muitos cristãos minimizaram a realidade humana de Jesus
e ao reconhecê-lo Deus, pouco valorizavam sua condição humana, impressionados
por sua divindade. Porém a Igreja, desde o início dos tempos, insistiu que
Jesus era verdadeiramente homem, embora não perdesse sua condição divina.
Por
reconhecê-lo verdadeiro homem e verdadeiro Deus, a Igreja celebrou sempre seu
nascimento e morte, como forma de mostrar que Ele se fez carne (Jo 1-14), e
embora fosse o Logos e razão de todas as coisas, encarnou-se e foi nosso
companheiro de caminhada. E justo porque reconhece essa humanidade como
verdadeira, a Igreja confirmou aquilo que a razão aponta: precisamos cuidar do
homem e estabelecer as bases de um humanismo que não deixe de reconhecer a
historicidade, a pluralidade, a liberdade responsável e a dignidade da criatura
humana.
Por
isso, a festa do natal de Jesus de Nazaré, que novamente comemoramos em 2019, é
oportunidade para restabelecer a confiança em Deus Senhor da História. O Natal também
afirma que a vida humana está investida de dignidade e valor. É esse cuidado
com o homem, esse respeito a sua condição que a comemoração do aniversário de
Jesus vem reafirmar a cada ano. Isso não é comunismo, mas um ideal de vida onde
a terra é casa de irmãos, diferentes no modo de viver, distintos nas suas
capacidades de dons e riquezas, nem todos igualmente sensíveis ou inteligentes,
mas todos merecedores de cuidado e respeito. Não porque uns se aproveitem de
outros, mas porque são irmãos nas suas diferenças.