Há poucos dias o mundo foi tomado de comoção pelo
falecimento do papa emérito Bento XVI. Todo mundo esperava e sabia que ia
acontecer uma hora ou outra, como o falecimento de um ente querido à beira da
morte. Mas a emoção é inevitável.
Bento de XVI, além da graça da santidade, ele era respeitado pelo seu humanismo, filosofia, teologia, antropologia e outras especialidades
científicas. O mundo sabia que nele estava depositada a cultura cristã acumulada
de séculos. E por isso que, quando viu a morte colhê-lo, ficou literalmente
órfão. Aos órfãos deixou uma pequena herança póstuma: uma escatologia do cristianismo. Isso para que não sintamos medo. O não sentir medo é recorrente na teologia da Igreja: Nada menos do
que 366 vezes é repetido: "Não temas", na Bíblia. Não temer o quê?
1. Pecado
Se você fez algo errado e sentiu-se culpado e o remorso o
acompanha dia e noite martelando na consciência. Liberte-se pela confissão.
Após a confissão sente-se confortado, leve e feliz por entregar-se a Cristo.
Justamente porque o pecado separa a pessoa de Deus. Para libertar-se do pecado
é preciso arrepender-se e voltar novamente a Deus. Por isso, não é preciso ter medo do pecado mas
fazer o que Deus pede.
2. Raiva
Às vezes outras pessoas podem, sem ser por maldade,
espalhar inverdades a seu respeito. Isto poderá provocar em ti uma raiva. Ao
entregar a Deus Ele o ajudará a vencer. Por isso, não sinta medo da raiva, mas
aplique o remédio certo para vencê-la.
3. O
medo
Não temer o medo. Quando o sentires lembre-se do que
aconteceu com os apóstolos e o Senhor. Os apóstolos sentiam medo do mar e o
mestre mostrou-lhe que junto com ele não precisava ter medo. O medo é um
estímulo aversivo que provoca um desejo de luta ou fuga. Quem confia em Deus
sabe que não precisa ter medo. Basta pedir a ajuda de Deus.
4. Dor
Se sentires tristeza por ver os pais se separarem, confia
no senhor, pois a reconciliação deles trará muito alegria para ti, Não deve
temer o futuro, pois Deus pode provocar-lhe a reconciliação e a alegria virá
novamente para ti.
A dor, que pode ser física ou psíquica, também pode ser
ajudada fisicamente ou espiritualmente. A dor física pode ser aliviada pela
medicina e a espiritual com o auxílio de Deus. Por isso, seja confiante em Deus
e não tenha medo.
Bento XVI contrapõe o “medo” ao amor e confiança. Assim
como os filhos podem temer o pai ou amá-lo, da mesma forma podemos ter uma
relação temerosa com o pai ou amável com o "Abbá! Pai!"
Na oração que o mestre nos ensinou, guardada desde o
início do cristianismo, a Igreja escolheu : “seja feita a tua vontade”.
E é precisamente o tratamento que os cristãos dão a Deus
que afasta deles todo medo. Como uma criança que está nos braços do pai nada
teme.
Como homenagem póstuma publicamos, em anexo, um texto
extraído do livro: O que é o Cristianismo.
«Che cos’è il cristianesimo» (Mondadori): il suo testamento spirituale.
“ Uma
expressão essencial da relação com os mortos é, em todas as religiões tribais,
o culto aos ancestrais, visto principalmente no passado em oposição à visão
cristã da vida e da morte. Horst Bürkle propôs uma nova apropriação e
representação do culto aos ancestrais que me parece digna de consideração. Ele
mostra que o individualismo que se desenvolveu no Ocidente e representa a mais
forte resistência ao culto dos ancestrais é, na realidade, também oposto à
imagem cristã do homem que se vê protegido no misterioso corpo de Cristo.
O
vínculo do homem com Cristo não é apenas um relacionamento eu-você, mas cria um
novo nós. A comunhão com Jesus Cristo introduz-nos no corpo de Cristo, isto é,
na grande comunidade de todos os que pertencem ao Senhor e, portanto, atravessa
também a fronteira entre a morte e a vida. Nesse sentido, a comunhão com aqueles
que nos precederam é parte essencial do ser cristão. Permite-nos encontrar
formas de comunhão com os mortos, que talvez na África se apresentem de forma
diferente da Europa, mas em todo o caso permite-nos fazer uma transformação
significativa do culto dos antepassados.
Agora,
porém, surge a questão de como a crença em um Deus pode superar o mundo dos
deuses. Verbite Wilhelm Schmidt argumentou que a crença no Deus único está na
origem da história da religião e foi progressivamente mais e mais ofuscada
pelas múltiplas divindades, até que foi capaz de suprimir os deuses mais uma
vez. Ele mesmo finalmente admitiu que tal desenvolvimento não pode ser provado.
Em
vez disso, de alguma forma sempre se soube que os deuses não são simplesmente o
plural de Deus, Deus é um Deus no singular. Ele existe apenas na unidade. A
pluralidade de deuses se move para outro nível. De fato, o mundo em suas
diversas esferas é regido por divindades que só podem dominar uma parte. (…)
Ao
longo da história das religiões, Deus foi considerado como um monarca que tem
poder sobre tudo, mas não o exerce. O único Deus verdadeiro não precisa de
adoração, porque ele não ameaça ninguém e não precisa da ajuda de ninguém. A
bondade e o poder do único Deus verdadeiro condicionam sua insignificância ao
mesmo tempo. Ele não precisa de nós e o homem pensa que não precisa dele.
Com
a proliferação da crença nos deuses, cresceu o desejo de que o verdadeiro Deus
pudesse libertar o homem do regime de medo no qual a crença nos deuses se
desenvolveu amplamente. Segundo a crença cristã, exatamente isso havia
acontecido com Jesus: o único Deus entra na história das religiões e depõe os
deuses. Acima de tudo, Henri de Lubac demonstrou que o cristianismo era
percebido como uma libertação do medo em que o poder dos deuses enredara os
homens. Afinal, o poderoso mundo dos deuses desmoronou porque o único Deus
entrou em cena e acabou com seu poder.
Tentei
descrever esse evento um pouco mais de perto na obra coletiva Gott in Welt,
publicada por ocasião do sexagésimo aniversário de Karl Rahner, e pude
estabelecer que existem duas maneiras de abandonar a fé nos deuses. Primeiro as
religiões monoteístas originárias da raiz de Abraão, nas quais o único Deus
como pessoa determina o mundo inteiro. Ao lado deles, há uma segunda saída, ou
seja, as religiões místicas com o budismo Hinayana como forma central. Aqui não
há um Deus pessoal, mas mesmo o Deus único se dissolve, torna-se evanescente. O
caminho do Buda tende para a aniquilação.
Na
realidade, essa forma severa de dissolução mística de todas as figuras
individuais não se impôs, mas, em última análise, sempre permaneceu como uma representação
final e alcançou um poderoso efeito atrativo precisamente nas culturas outrora
cristãs da Europa. Na esfera lingüística alemã encontrou expressão na frase
atribuída a Karl Rahner: "O cristão de amanhã será um místico, ou não
existirá mais". Aparentemente, isso visa uma interiorização e um
aprofundamento interior da fé. (…) Para muitos, ao contrário, apenas esconde o
programa de apresentar todas as formas concretas de fé como secundárias para
chegar, em última análise, a uma devoção impessoal, tal como Luise Rinser
indica como a forma superior de ser cristão que ela conseguiu entretanto.
A
escritora alemã me explicou pessoalmente que o objetivo de publicar a troca de
cartas com Karl Rahner era demonstrar que ela era mística e que a longa jornada
espiritual que fizera com Rahner resultou finalmente na explicação mística do
cristianismo. Não ficou claro para mim até que ponto Luise Rinser queria
envolver Rahner na transformação do cristianismo em uma religião mística. Em
todo caso, ele queria oferecer uma explicação para a famosa frase de Rahner
como uma abertura para o futuro.(Tradução realizada mecanicamente pelo Google e
revisada pelo autor do Blog Reflexão).
“Un’espressione essenziale del rapporto con i morti è in
tutte le religioni tribali il culto degli antenati, che perlopiù venne
considerato in passato in opposizione con la visione cristiana della vita e
della morte. Horst Bürkle ha proposto un’appropriazione e una rappresentazione
nuova del culto degli antenati che a me sembra degna di considerazione. Egli
mostra che l’individualismo che si è sviluppato in Occidente e rappresenta la
più forte resistenza nei confronti del culto degli antenati si contrappone, in
realtà, anche all’immagine cristiana dell’uomo che ci vede protetti nel
misterioso corpo di Cristo.
Il legame dell’uomo con Cristo non è solo un rapporto io-tu,
ma crea un nuovo noi. La comunione con Gesù Cristo ci introduce nel corpo di
Cristo, vale a dire nella grande comunità di tutti quelli che appartengono al
Signore e oltrepassa perciò anche il confine tra morte e vita. In questo senso
la comunione con quanti ci hanno preceduto è parte essenziale dell’essere
cristiano. Ci permette di trovare forme di comunione con i morti, che forse in
Africa si presentano diversamente dall’Europa, ma in ogni caso ci consentono di
operare una trasformazione ricca di senso del culto degli antenati.
Ora, però, si pone la questione di come la fede in un unico
Dio possa superare il mondo degli dèi. Il verbita Wilhelm Schmidt ha sostenuto
la tesi che la fede nell’unico Dio si pone all’origine della storia della
religione e venne progressivamente sempre più oscurata dalle molteplici
divinità, finché fu in grado di sopprimere ancora una volta gli dèi. Egli
stesso ha alla fine ammesso che un tale sviluppo non può essere dimostrato.
Piuttosto, in qualche modo si sapeva sempre che gli dèi non
sono semplicemente il plurale di Dio. Dio è un Dio al singolare. Egli esiste
solamente nell’unità. La pluralità degli dèi si muove a un altro livello. Di
fatto il mondo nei suoi diversi ambiti è retto da divinità che possono dominare
solo su una parte. (…)
Nell’estensione della storia delle religioni Dio è stato
considerato come un monarca che ha sì potere su tutto, ma non lo esercita.
L’unico vero Dio non ha bisogno di culto, perché non minaccia nessuno e non ha
bisogno dell’aiuto di nessuno. La bontà e la potenza dell’unico vero Dio
condizionano nello stesso tempo la sua insignificanza. Non ha bisogno di noi e
l’uomo crede di non aver bisogno di lui.
Con la proliferazione della fede negli dèi crebbe la
nostalgia che il vero Dio potesse liberare l’uomo dal regime di paura nel quale
si era ampiamente sviluppata la fede negli dèi. Secondo la convinzione dei
cristiani, con Gesù era successo proprio questo: l’unico Dio entra nella storia
delle religioni e depone gli dèi. Soprattutto Henri de Lubac ha dimostrato che
il cristianesimo venne percepito come liberazione dalla paura nella quale la
potenza degli dèi aveva imbrigliato gli uomini. In fondo il possente mondo
degli dèi crollò perché entrò in scena l’unico Dio e pose termine alla loro
potenza.
Io ho cercato di descrivere un po’ più da vicino questo
evento nell’opera collettanea Gott in Welt pubblicata in occasione dei
sessant’anni di Karl Rahner, e ho potuto stabilire che vi sono due vie d’uscita
dalla fede negli dèi. Dapprima le religioni monoteiste originate dalla radice
di Abramo, nelle quali l’unico Dio come persona determina il mondo intero.
Accanto a queste vi è una seconda uscita, vale a dire le religioni mistiche con
il buddismo Hinayana come forma centrale. Qui non vi è alcun unico Dio
personale, bensì anche l’unico Dio viene dissolto, diventa evanescente. La via
del Buddha tende all’annichilimento.
Nella realtà questa forma severa di dissolvimento mistico di
tutte le singole figure non si è imposta, ultimamente però è rimasta sempre
come rappresentazione finale e ha raggiunto una potente efficacia attrattiva
proprio nelle culture d’Europa una volta cristiane. Nell’ambito linguistico
tedesco ha trovato un’espressione nella frase attribuita a Karl Rahner: «Il
cristiano di domani sarà un mistico, oppure non esisterà più». In apparenza
questo mira a un’interiorizzazione e a un approfondimento interiore della fede.
(…) Per molti, invece, nasconde solo il programma di presentare come secondarie
tutte le forme concrete della fede per giungere ultimamente a una devozionalità
impersonale, come quella che Luise Rinser indica come la superiore forma
dell’esser cristiani nel frattempo da lei conseguita.
La scrittrice tedesca mi ha personalmente spiegato che lo
scopo della pubblicazione dello scambio epistolare con Karl Rahner era quello
di dimostrare che lei era una mistica e che il lungo percorso spirituale da lei
compiuto con Rahner sfociava da ultimo nella spiegazione mistica del cristianesimo.
Non mi è divenuto chiaro fino a che punto Luise Rinser volesse coinvolgere
Rahner nella trasformazione del cristianesimo in una religione mistica. In ogni
caso voleva offrire una spiegazione della famosa frase di Rahner come apertura
verso il futuro.”( Che cos’è il cristianesimo» (Mondadori): il suo testamento
spirituale”