quinta-feira, 17 de junho de 2021

É POSSÍVEL UMA MORAL UNIVERSAL? Selvino Antonio Malfatti

 



Em abril terá lugar na Itália um encontro da União Europeia Budhista italiana.

É sempre um bom auguro uma aproximação de uma culturas multissecular oriental com outra ocidental. Isto vem ao encontro de uma hipótese: há um liame entre a cultura oriental e ocidental. 

Na cultura ocidental surgiram determinadas normas morais concretas e históricas deram origem a valores permanentes e universais, isto é, à ética. Podem ser encontrados vestígios destas normas em outras culturas, como na Ásia e na América. São exemplos da primeira o Código de Hamurabi, da Babilônia, e o código de Manu, da Índia. Trata-se de um conjunto de preceitos religiosos, morais e mesmo jurídicos os quais buscam a defesa da pessoa, do homem principalmente no que diz respeito a sua pessoa, vida e propriedade. Nessas culturas já emerge a famosa dita “regra de ouro” que estabelece a reciprocidade de direitos: não faças ao outro o que não queres que te façam. Esta regra consta em Confúcio, na China, e no poema Hindu Mahabarata. Já na américa os incas também tinham seus preceitos religiosos-sociais ao estabelecer que não se deve roubar - a ética da propriedade- não se deve mentir- a ética da verdade- e a proibição da preguiça - a ética do dever de subsistência através do trabalho.

E precisamente uma das culturas orientais que mais se aproxima do cristianismo e judaísmo ocidental é o Budismo.

Hinduísmo e Budismo. Era praticado por casta hereditária de letrados, que, embora não tivessem cargos, atuavam como conselheiros ritualistas e espirituais para indivíduos ou comunidades. Era uma sociedade de castas, as quais formavam uma ordem hierárquica, cujo topo era ocupado pelos brâmanes. Depois vinham os guerreiros, comerciantes, agricultores e por fim os trabalhadores. O intercâmbio entre as castas era proibido. Acreditavam na reencarnação e como todas as religiões orientais eram místicos. Os brâmanes constituíam um centro em torno do qual gravitava toda a organização social. Os brâmanes, educados nos Veda, era o estamento plenamente aceito. O budismo era constituído por monges contemplativos, mendicantes e errantes. Eram considerados membros integrais das comunidades religiosas. Os demais eram tidos como inferiores, objetos e não sujeitos de religiosidade.

Destacaríamos dois aspectos do budismo.

1.    As grandes Verdades:

  As Quatro Nobres Verdades:

- a existência do sofrimento universal,

- a causa do sofrimento,

- a possibilidade de extingui-lo,

- e o caminho para extingui-lo através da:

Reta Compreensão, Reto Propósito, Reta Palavra, Reta Ação, Retos Meios da Subsistência, Reto Esforço, Reta Atenção, Reta Meditação.

2. Os Mandamentos: (Entre parêntese colocamos o correspondente judaico-cristão).

1º Não mateis. Respeito a todo ser vivente. (5º)

2ºNão roubeis, não furteis. Deixai que cada qual goze do fruto de seu trabalho. (7º)

3ºEvitai toda impureza e sede castos em tudo. (6º)

4ºNão mintais. Dizei discretamente a verdade, com suavidade e prudência, de modo a não ofender. (8º)

 5ºNão murmureis, nem sede eco da maledicência. (8º)

Não jureis nem blasfemeis. Falai com decência e dignidade. (2º)

6ºNão percais o tempo em conversações ociosas. Falai coisas proveitosas ou calai.

7ºNão tenhais inveja nem cobiça. Alegrai-vos com a felicidade alheia. 

8ºPurificai vosso coração de toda malícia.

9ºNão tenhais ira nem rancor, nem ódio mesmo contra os que vos caluniem e vos queiram mal. Sede bondade e benevolência com os seres viventes.

10ºLibertai vossa mente da escravidão da ignorância, e aprendei a verdade para não cairdes no ceticismo nem no erro.

 Comparando com os Mandamentos Judaico-cristãos salta à vista as semelhança e algumas diferenças. Os Mandamentos budistas surgiram 600 anos depois de Cristo e o Decálogo há mais de 3500 anos.

 

“Os mandamentos são normas para as comunidades, o caminho moral e ético que deve ser seguido. O Cristianismo adotou os mesmos mandamentos do Judaísmo, e estes permanecem em incrível semelhança, havendo diferenças diminutas, como por exemplo, a citação do amor de Deus  no  Cristianismo  que  é  inexistente  no  Budismo;  e  a  abstenção  de drogas  e  álcool inexistente no Cristianismo. Embora o Budismo não coloque a devoção a Deus, evidencia a orientação de não desrespeitar as Divindades, quando exorta a não blasfemar. São Mandamentos   no   Budismo:   não   matar,   ser   compassivo,   dar   e   receber   com generosidade, abster-se de drogas e álcool, na adulterar, ser casto, não mentir, não caluniar, não jurar, não blasfemar, não cobiçar, não invejar, purificar o coração da ira e aprender a verdade (KHARISHNANDA, 1998, p.99-159). No Budismo  temos mandamentos de  conduta  que não  dizem respeito  a verdades universais, como por exemplo, abster-se de álcool. Ora, exagerar no álcool é sem dúvida um grande empecilho no desenvolvimento espiritual como em qualquer outro desenvolvimento da vida, tais como trabalho, família e convívio social. Mas o Budismo estabelece abstenção total 

devido os grandes prejuízos que provocam na mente para a prática da meditação, pois o álcool provoca agitação mental impedindo a concentração. Já no Cristianismo temos: Amar a Deus sobre todas as coisas, não matar, não roubar, não cometer adultério, não caluniar, não cobiçar a mulher do próximo, não tomar o nome de Deus em vão, honrar pai e mãe, não jurar falso testemunho, honrar o próximo (Dt 5,1-21).Todos os  mandamentos do  Cristianismo praticamente se aplicam  a verdades universais,  pois  o   objetivo  Cristão  é  a   simplificação   de  regras   para a   comunidade,  em oposição às numerosas regras do Judaísmo”

(UNIVERSIDADE DO VALE DO ACARAÚ - UVAFACULDADE DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA DO NORDESTE – FAETENCURSO DE LICENCIATURA PLENA EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃOSEMELHANÇAS ENTRE O BUDISMO E O CRISTIANISMOContribuições Ecumênicas do Oriente para o OcidenteFrancisco Adalberto Alves SobreiraMaranguape/ CE20058, p. 41-41)

 

 

 

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