A história mostrou que não é boa prática
sonhar com um mundo ideal deixando de lado a vida que brota nos fatos. Em
verdade, quando se é um pouco mais vivido, um pouco mais experimentado, aprende-se
a cultivar a transcendência que brota da fé na história. A própria Bíblia foi
fruto de uma fé assim encarnada, expressão de uma inspiração religiosa que
brotou da vida. Contudo, não podemos deixar de lamentar que os candidatos à
Presidência da República tenham perdido a oportunidade de explicar o que
pretendem realizar para fazer uma revolução no modo de lidar com a natureza.
Talvez não queiram fazer nada e isso é um desastre ou produzirá um.
Qualquer pessoa minimamente informada
fica inconformada com o modo como a seca no sudeste foi explorada nessa
campanha eleitoral, se não diretamente pelos candidatos, pela militância
espalhada nas redes sociais e por assessores, escondidos do palco principal. É
claro que a responsabilidade da seca não é isoladamente do governo paulista ou
do governo federal hoje administrado pelo PT. Não faz sentido frases como as
que se encontram nas redes sociais: "no governo do PT nem chove" ou
"Nem a chuva gosta do governo do PSDB". Frases assim desviam a
atenção do que verdadeiramente importa, construir uma nova relação com a
natureza. Na raiz de qualquer ação futura tem de estar o reconhecimento da
preservação como um novo valor que brota no horizonte da história.
Estabelecer com urgência um programa de
desmatamento zero e começar um responsável projeto de reflorestamento é o que
se espera de qualquer governo sério, não importa a sigla partidária, diante da
enormidade do desafio que estamos enfrentando. E como é muito fácil e lucrativo
derrubar árvores centenárias para vender sua caríssima a madeira, o
enfrentamento dessa ação imoral e ilegal só se consegue com monitoriamente
efetivo e uma força policial eficiente e ágil.
Para vivermos uma esperança razoável não
podemos contar com nenhum movimento automático das forças da sociedade, nem esperar
a boa vontade dos exploradores dessa madeira ilegal, nem contar com a revolta de ecologistas enfurecidos para
atacar os madeireiros. Nenhum desses movimentos produzirá resultado
satisfatório além de algumas mortes indesejáveis e a continuidade da exploração
pelos mesmos (se matarem os ativistas) ou por outros madeireiros (se forem
mortos pelos ativistas).
Se a esperança racional no
reconhecimento do valor é o que se espera de todo homem e a moral é o
fundamento último para resguardar a natureza e o futuro do homem, é razoável nossa
fé e esperança. No entanto, para aqueles que não reconhecem o limite moral da
ação, nem as leis já existentes, é necessário ter uma resposta capaz de mudar o rumo dessa história. Até agora nenhum
governo federal ou estadual levou a sério a questão, não importa o que digam em
suas propagandas. E se não formos sensíveis aos apelos da razão e aos
comunicados dos sentidos, seremos com certeza quando a falta de água chegar a
nossas torneiras. Esperemos que então não seja tarde demais para começar a agir.