Vários pensadores brasileiros, antes da obra “Structure e
Institutions Politiques”, (Dois Brasis), de Jacques Lampert, de que o Brasil de
fins do século XIX, não era culturalmente monolítico, mas uma colcha de
retalhos. Com efeito, havia o norte com predominância da cultura indígena, o centro-oeste
devido à miscigenação com forte influência negra, o sul marcado pelo domínio
espanhol.
Esta diversidade regional não impede de ter uma cultura
nacional desde que o pluralismo seja o convívio pacífico de diferentes etnias,
cosmovisões e moralidades consensuais.
Esta pluralidade cultural acompanhou o país desde o
período colonial até nossos dias. Quando colônia, o Brasil foi habitado por
portugueses, povo este que abrigou os judeus e mouros. Já na independência
juntaram-se os negros e índios. Mais tarde, já no final do século XIX vieram os
italianos, alemães, poloneses, árabes e outros povos.
Há alguns que lamentam tal pluralidade de etnias com suas
respectivas culturas. Mas isto não é um problema. O que é negativo é querer
reduzir tudo “ad unum”, a um pensamento único, um totalitarismo cultural, a redutibilidade mental ao
pensamento único.
Ninguém nega que são necessários alguns princípios e
valores comuns, neste caso uma lei comum externada na constituição. A síntese
disto se resumiria num respeito inegociável: à dignidade e à liberdade da
pessoa e à igualdade de direitos. O contrário seria a ditadura de um partido, de
uma classe ou categoria. Mas salvo isto, é benéfica a pluralidade.
No Brasil atual paira no firmamento uma grande nuvem
negra. É a polarização entre dois grupos políticos. Não que a polarização em si
seja maléfica. O preocupante é o radicalismo. Vamos dar nomes: de um lado está
o bolsonarismo e de outro o lulismo. O primeiro é identificado de direita e o
segundo de esquerda. Esta disputa pela hegemonia vem de longe, digamos mais
precisamente com Getúlio Vargas. O período sucessivo foi marcado pela ascensão
do trabalhismo, fundado por Getúlio – o Partido Trabalhista Brasileiro-
–PTB- neste caso o trabalhismo se
identificava com o positivismo de esquerda e o getulismo conservador de
direita. A radicalização dos dois levou à autodenominada Revolução de 64. Foram
então quinze anos de semi-ditadura cujo fim foi a Constituição de 1988.
Sucedem-se governos vacilantes marcados por partidos eleitoralmente fracos que
precisavam de alianças pecuniárias para governar.
È neste contexto que o lulismo conquista o poder que faz um governo marcado pela tomada do poder de pontos estratégicos – instrumentalizar a sociedade - mormente o ensino superior em maior escala nacional em seguida o médio e primário como consequência da formação docente universitária.
O polarismo lulismo-bolsonarismo nem se pode caracterizar
como bipartidarismo, porque foge à divisão ideológica. Ambos são fisiológicos,
pois dependem de alianças prevendo vantagens pecuniárias. E muito menos
pluralismo cultural. É aquilo que Maquiavel previa: ao findar o interesse de
uma parte a aliança pode ser desfeita.
O preocupante de tudo isso é que instalou-se o radicalismo: não há ambiente de parte a parte para diálogo. O fanatismo substituiu a razão. E com isso " é inútil fazer alguém abandonar pelo raciocínio o que não adquiriu pela razão". (Sócrates)