A universidade pública brasileira está
sofrendo ataques nas mídias sociais por parte de apoiadores do atual governo. O
que ali se observa resulta de cada um postar qualquer coisa, não importa se
descabida, grosseira, inadequada ou pior, baseada em falsas notícias ou numa perspectiva
míope da realidade.
Ter opinião em assuntos públicos não é
problema, a democracia se constrói com elas, mas isso somente é verdade quando essas
opiniões se estabelecem sobre fatos e buscam esclarecer as diferenças. Apenas
nesses casos o debate e as opiniões diferentes podem produzir algo bom para uma
sociedade. Porém não é isso o que está acontecendo, especialmente desde as
últimas eleições: a mentira, a violência, as falsas notícias se tornaram comuns.
As discussões são importantes porque instruem
a opinião pública numa democracia. Porém se não houver um debate respeitoso,
reconhecendo as posições do outro, não se cria um ambiente razoável, pois em
que pese diferenças internas uma nação precisa de consensos e não pode viver
fraturada. Porém, o que vemos nessas críticas à universidade é a insinceridade,
a desonestidade, a mentira e o ódio. Isso estimulado por um indivíduo
intelectualmente medíocre, mas guindado a superstar por gente do governo e aos
quais parece boa estratégia vilipendiar as pessoas de quem discorda.
No caso em questão, o problema não é
essencialmente o corte de verbas, dificuldades financeiras podem levar a isso. O
que é terrível é que o governo tente justificar esses cortes, desqualificando o
que se faz nas instituições públicas de ensino superior. E essa decisão
lamentável dos governantes mobilizou certo número de seguidores que se
manifestam favorável ao governo, não importa a matéria e a forma. Parece que
essa é a forma mais simples de ser estúpido. Outro dia verifiquei que, em duas
horas, um indivíduo replicou mais de trinta notícias falsas envolvendo as
universidades.
Não se pode dizer que a universidade brasileira
esteja acima de erros, coisas inadequadas ocorrem dentro de seus muros. Em
todos os lugares há gente decente e outras nem tanto. No entanto, quando o
coronel do exército responsável pela guarda de armamento no Rio de Janeiro foi
pego desviando armas, não surgiram postagens dizendo que não se comprasse mais
armas para o exército. E o que dizer dos militares que fuzilaram uma família
honesta matando o chefe, um músico trabalhador e honesto? O que faz um agente
público em situações assim é corrigir erros, identificar e punir responsáveis e
não destruir uma instituição importante pelo erro de um de seus membros.
No caso em questão, a universidade pública
brasileira é responsável não apenas pelo ensino de qualidade, seus cursos estão
entre os melhores do país, mas também é ela a grande promotora da pesquisa
científica sistemática, ela mantém os melhores cursos de pós graduação, além
das ações de extensão. Note-se que o Brasil não é como outros países que, além
das Universidades, possuem muitos e diferentes institutos de pesquisa. Prejudicar
o funcionamento da universidade irá afetar o ensino, as pesquisas e produtos fundamentais
para o futuro da sociedade brasileira.
Nesse sentido, a sociedade precisa se
mobilizar para defender a instituição, o que vai além de reclamar recursos que
a mantenha funcionando corretamente. Creio que isso pode começar a ser feito,
pesquisando a massa de teses ali desenvolvidas, verificando os serviços
prestados e os resultados das avaliações dos estudantes que frequentam o ensino
público universitário. A apreciação honesta desse trabalho é a maior arma
contra a mentira, o ódio e a propaganda ideológica que desaparelha o país para
enfrentar os novos desafios que a vida traz.