Falar do sentido da vida é dialogar com Viktor
Emil Frankl, médico psiquiatra e filósofo. Ele construiu um diálogo entre a
Psicologia e a Filosofia, que podemos observar na sua proposta psicoterápica.
Acompanhando sua trajetória mergulhamos nas grandes questões da Filosofia e da
Psicologia na segunda parte do século XX. Ele desenvolveu uma escola de
psicoterapia que ficou conhecida como logoterapia ou análise existencial.
Inserindo-se com essa criação na tradição fenomenológica ou humanista, seguiu
trajetória semelhante ao médico e filósofo Karl Jaspers, embora não tenha se
destacado como ele na Filosofia. Jaspers e Heidegger foram os dois mais
importantes filósofos da Alemanha do século passado.
Na juventude, Frankl foi influenciado por Freud
e Adler antes de desenvolver sua escola psicoterapêutica. Os três tornaram-se
conhecidos como os criadores das três escolas de Viena. Frankl não negou a
importância do que aprendeu com os psicanalistas, mas deles se afastou porque
não entendeu que se pudesse reduzir as grandes realizações humanas à sublimação
da libido. E também porque não considerou a energia sexual ou a luta pelo poder
os mais importantes moventes humanos, afirmando ser esse o sentido.
E ao retomar a questão proposta pelos
filósofos para explicar a condição e situação humanas, Frankl deu a ela o peso
da ciência. Para ele, afirmar que o homem precisa de um sentido para viver
melhor, mesmo que não desapareçam os problemas ou a dor da proximidade da
morte, não é apenas uma orientação filosófica, mas uma verdade cientifica.
Assim, se como diziam os filósofos, a vida não é fato, mas uma escolha ou valor,
essa questão tem sentido filosófico, mas também psicológico ou científico.
Assim é porque as realizações espirituais do homem, dizia Frankl, representam
algo tipicamente humano. E por que a questão do sentido se tornou tão
importante? Porque se vive num tempo de crise.
Muitos filósofos falaram dessa crise. Dela é
importante destacar a volatividade. Se recordamos de Zymunt Bauman e a teoria
que elaborou em 1999 na obra a Modernidade
líquida, temos uma referência precisa de para onde a crise se encaminhou.
Se tornou-se difícil viver com as crenças das antigas gerações porque a vida se
encarregou de colocá-las em suspeição, como observou Ortega y Gasset; se os
valores da civilização foram rearticulados como disseram os culturalistas
adquirindo um novo perfil, se a percepção de que a vida parece absurda porque
quando começa não é possível descobrir uma razão para sua contingência como
disse Martin Heidegger; foi porque a vida passou por transformações intensas. E
onde nos levaram essas transformações na segunda metade do século passado foi o
que resumiu Bauman: ao fortalecimento da competição em detrimento da
solidariedade, ao enfraquecimento dos sistemas de proteção social com aumento
das incertezas da vida, ao deslocamento dos fracassos para o plano individual,
à redução dos planejamentos de longo prazo e ao afastamento do poder da
política. Então nesse novo mundo o que se tornou necessário foi descobrir um
sentido para a vida se quisermos empregar as palavras de Frankl.