Um
novo ano vem aí, logo depois da linda festa de Natal. Linda não só porque as
cidades e as casas se iluminam e a decoração das lojas propõe o brilho da festa.
Também por isso, porque a beleza encanta, a limpeza agrada e faz olhos reluzirem
e sorrisos se abrirem. Sorrisos das crianças de muitas idades que ficam ainda
mais encantadores nesses dias onde a fantasia propõe descanso e alegra a vida
sem mistificar as dificuldades. Porém, ainda mais linda a festa porque comemora
o nascimento de Jesus, não como um fato passado, mas como um plano permanente de
aliança entre a terra e os céus que permanece firme, apesar das limitações dos
homens. E o menino que Deus envia convida para a elevação espiritual da
humanidade. Isso para que o homem possa se tornar melhor a cada dia, na sua
relação com os outros e na sua relação com a natureza. E para que isso fosse
possível, para nos livrar de ser um bando de malfeitores, assassinos e ladrões,
o menino Jesus não fez caso de sua condição divina e quis dividir conosco,
dores, angústias, medos, tristezas e a morte. Diz Paulo em sua Carta aos Filipenses desse menino santo
(2, 6-8): “Ele que era de condição divina não reivindicou o direito de ser
equiparado a Deus. Mas se despojou a si mesmo tomando a condição de Servo,
tornando-se semelhante aos homens”.
O
que se celebra a cada final de ano não é um tecido de destino que se desenrola
sem o esforço do homem. Os contornos da salvação de Jesus dependem de quanto
nos esforçamos para criar o Reino de paz que Ele anunciou. Pois, o Pai com sua
misericórdia e paciência espera o homem ir se elevando gradualmente. E se não
ajudamos muito o Reino demora mais porque uma sociedade de paz, sem tantos
ladrões políticos e não políticos, sem tanto assassinato, sem tanto sofrimento depende
do quanto nos preparamos para participar dos planos do Pai. Precisamos mais
desse Reino do que Deus necessita dele porque somos nós que multiplicamos dores
desnecessárias, injustiças evitáveis, contradições insuportáveis e sofrimentos
contornáveis. O Reino é uma festa que depende de nós.
A
descoberta da filosofia moderna de que somos temporais, ou de que o tempo é o
tecido de nossas vidas, foi uma revolucionária intuição. Ela mostra que como
indivíduos e como sociedade somos aquilo que escolhemos e vamos nos tornando
aquilo que vivemos. E assim, a cada dia, consciência histórica significa consciência
de que somos o que nos tornamos. Cada mal praticado se torna parte de nós e
ficará conosco, alimentando uma culpa que dificilmente arrastamos sem o perdão,
aquele que podemos oferecer aos outros, na esperança de que nos perdoem também
eles. E assim, se nos perdoamos mutuamente, Deus também nos livra dessas
culpas. E as culpas não são para ficarmos nelas, mas para ajudar a reconhecer
quanto limitados somos e o quanto necessitamos dos outros. Por isso, a relações
corretas que a ética preconiza decorrem de precisarmos dos cuidados dos outros,
do carinho dos outros, da força dos outros. Uma sociedade não sobrevive sem
relações éticas. As outras ordens normativas (costumes e Direito) dela
decorrem.
E
os desafios da vida não são para desanimar, mas para mudar. Nossos pensamentos
se estabelecem na vida tecida pelas escolhas para consolidar experiências e
preparar o devir. A consciência histórica, marcada pelos dias, meses e anos que
passam, marca o já vivido e serve para compreender a circunstância em que isso
se deu para orientar o ainda não foi vivido. O plano de Deus se ajusta
anualmente aos nossos movimentos, mais para perto ou para longe. Depende de
nós.