A
chuva desse último final de semana de julho no sudeste do país foi
particularmente importante para a região e um alívio para a secura na cidade.
Foi recebida como um alívio.
Esse
último final de semana de julho, apesar dessa chuva bem vinda, não foi contudo,
um momento feliz para a cidade. Nossa terra amanheceu sem outro de seus
casarões centenários, nova ferida aberta no cenário urbano que surge pela
destruição de um exemplar arquitetônico que deveríamos orgulhar de manter. Pior
que das outras vezes é que a destruição também atingiu uma área verde ao lado
da propriedade, uma área que precisava ser mantida junto com a edificação.
Preservar para as futuras gerações, por Minas e pelo Brasil.
Ao
insistir no tema da preservação de nossa memória e no cuidado ambiental como
valores reconhecidos e legítimos, Miguel Reale os denominaria invariantes
axiológicos, somos movidos pela esperança de que todos os cidadãos se
sensibilizem com esses valores. E nossa comunidade vai, aos poucos entendendo
essa mensagem. Esse novo clima é sentido de modo geral, mas episódios como o
desse final de semana prejudicam a emergência do novo, trazendo de volta o pior
do passado recente, concretizando interesses ilegítimos porque ilegais e que
atacam valores reconhecidos.
Destruições
como essa tornam-se o lado triste de nosso tempo. Elas acabarão vinculando a
atual geração com aquelas parcelas que não souberam preservar a belíssima
paisagem urbana legada pelos séculos XVIII e XIX. Tomar consciência disso é assumir
um compromisso com o futuro. Para fazê-lo melhor é preciso mudar a
insensibilidade para os valores ecológicos e de preservação cultural,
reafirmando um tempo novo e uma nova compreensão de História pelo respeito aos
bens culturais e ecológicos.
Essa
concepção de História como criação humana e preservação de valores
racionalmente reconhecidos e legitimamente consagrados nas leis do país precisa
impedir ações especulativas como essa. O momento atual é um presente que se põe
entre um passado importantíssimo e um futuro que temos que construir com a
inspiração desse legado. Se fazemos dos dias de hoje um momento bárbaro de ignorância
e destruição de nossa memória, não teremos um futuro alicerçado nesse passado
construído e na experiência que ele propicia. O que existiu se degrada em pó e desaparece
na recordação de alguns que levarão para o túmulo o que era para ser a base dos
projetos de futuro de nossa cidade. Mata-se a esperança da renovação criativa, destruindo os bens e os tornando objeto de
nostalgia de velhas memórias que em pouco não existirão mais.
A
história de uma sociedade não é um prolongamento automático do seu passado, mas
também não é uma criação do nada que apaga o que foi deixado pelas gerações
anteriores. E assim, numa cidade como a nossa o legado dos séculos XVIII, XIX e
XX precisam conviver e inspirar o que hoje se vai fazer nesse início de século
XXI. Contra a ilusão de que podemos viver sem esse passado inspirador, vamos
fazer surgir a visão contrária. Esse legado de nossos avós não pode ser jogado
fora impunemente.
Mesmo
sendo esse o ambiente geral sabemos que a vida humana é marcada pelas escolhas
e suas consequências. A base da responsabilidade é o
reconhecimento de que o sujeito pode prever o resultado de seu comportamento e
fazer suas escolhas. O filósofo alemão Immanuel
Kant disse algo parecido quando afirmou que a imputação é o juízo pelo
qual alguém é considerado o autor, isto é, capaz de escolher uma ação que é
submetida a leis e ser punido em razão do que fizer contra a sociedade.
Esperemos que a justiça reconheça esse ato contra
nossa História e nossas leis e responsabilize o autor ou autores desse atentado
triste. Não teremos um tempo novo de valores renovados para nos orgulharmos com
atitudes como essa.