Ao
inserir na prova de Filosofia do ensino médio uma questão sobre música da
cantora Vaneska Popozuda, o Prof.
Antônio Kubitschek, da cidade de Brasília, levou a Filosofia para passear no jardim do
ridículo. E diga-se logo, este não é lugar adequado para esta velha senhora de
2600 anos, ocupada com as questões fundamentais da existência do homem e do
mundo. E por que não é um bom lugar para esta velha senhora? Porque em nosso
tempo muitos não a compreendem, outros fingem respeitá-la, embora a desprezem.
Há, finalmente, políticos oportunistas que querem vê-la fora das escolas pelos
riscos que representa ensinando pensar de forma crítica os problemas da vida
pessoal e da sociedade. Estes políticos desejam eliminar a Filosofia da Escola
para evitar os questionamentos dos cidadãos e indiretamente poupar tostões com
os quais se remunera mal os professores de Filosofia. Argumentam haver finalidade
mais nobre para o dinheiro público. A mídia adorou divulgar a questão ridícula.
E
quero desde logo esclarecer que não se critica aqui o uso de letras de música
para provocar reflexão. Isto pode ser feito. Nem se trata de excluir de pronto
o conteúdo da questão, pois sabemos que se pode falar de um simples copo d' água
e isto ser Filosofia. Foi o modo de falar. Insisto, não é o tratar das coisas comuns
da vida que afasta a Filosofia, pois sempre é possível retirar das experiências
quotidianas um sentido profundo, buscar no
rotineiro as origens da certeza universal ou caminhar na autoconsciência
do ser. É sempre possível perguntar-se se não respeitar a fila ou empurrar
alguém ao entrar na condução encontra justificação universal. Porém, o
fenomênico e o banal na reflexão filosófica hão de ser interrogados para se abrirem
ao amplo e fundamental. Refletir sobre o
simples não significa que qualquer coisa é válida como Filosofia e isto a mídia
não ajudará a esclarecer após a lamentável divulgação da prova. A opinião
pública ficará com o que ouviu da questão infeliz.
A
Filosofia foi levada ao jardim do ridículo também porque o Professor disse
pretender a polêmica. Conseguiu a polêmica, mas promoveu reflexão filosófica?
Ajudou a popularização ou a compreensão da Filosofia? Não acredito. Pode
parecer que o propósito da Filosofia seja criar controvérsia, iniciar debate,
promover a discussão, mas não é. O debate filosófico tem sentido como
instrumento, quando se realiza em torno a questão específica, quando todos os
debatedores estão comprometidos com o propósito de pavimentarem juntos o caminho
até a verdade. Dito de outro modo,
embora a reflexão filosófica seja sempre individual ela precisa considerar o
argumento de outras reflexões, pois ninguém na absoluta solidão de sua
consciência encontra a certeza do fundamento. Não faz sentido a polêmica pela
polêmica, mas faz sentido o diálogo que busca a verdade e esclarece os
problemas.
A
Filosofia foi levada ao ridículo porque apontar Valeska Popozuda como grande pensadora contemporânea sugeriu que a
tradição filosófica é uma banalidade. Um lugar onde se coloca qualquer um. Como
a cantora se apresenta ao público? O que a diferencia das outras Valeskas (e
não Valeskas)? Qual é sua singularidade? O fato de ser Popozuda, isto é, segundo o Aurélio, o possuir grandes nádegas ou
popa. E tão grande ela tem que não é só uma popa de respeito, mas é Popozuda. É assim que ela se identifica,
é o que a diferencia das outras mulheres e, por extensão, de todo o restante da
humanidade. E nada do que ela tenha escrito parece significativo no esforço de
aprofundar a consciência do homem durante mais de dois milênios e meio. A
tradição filosófica está bem demarcada no espaço da cultura pelo propósito de
penetrar no fundamento do mundo e da vida. A tradição filosófica é movimento
intelectual em torno as suas grandes obras e ser grande aqui não é simples. É
preciso possuir grande reflexão.
Embora
a Filosofia comporte muitas definições e interpretações, ela é reflexão pela
qual o homem se pergunta pelo que existe e pela forma como se insere nisto que ele
chama mundo ou realidade. É atividade séria, mas pode ser leve e didaticamente
ensinada.
Deve dar muita desilusão pensar que isto aí foi uma prova de filosofia. Estão a fim de emburrecer a juventude.
ResponderExcluirMas que tristeza.
ResponderExcluirDói ver uma juventude com este tipo de professor,saudades dos antigos mestres.
ResponderExcluirPensadora é muito deboche.
ResponderExcluirAcho que o professor colocou para os alnos o momento que vivemos,estamos ficando vazios e aceitando que estas pessoas também entrem em nossas vidas.
ResponderExcluirSe a senhora Sofia estivesse aqui se suicidaria. Valeu a informação, gostei.
ResponderExcluirGostei de ler pois,todos os relatos não forma seriamente analisados pelos meios de comunicação como aqui no blog Reflexão. Agradeço a dedicação.
ResponderExcluirQue dor chamarem isto aí de FILOSOFIA.
ResponderExcluirSe virou manchete esta noticia deve ser comentada. Colocaste muito bem,até a mais simples questão torna-se valorosa e,o professor aí do ensino médio, só foi infeliz no item porque expôs o assunto NU, a vulgaridade do nosso cotidiano. A formação e informação estão na C.T.I. mas foi uma questão para balançar, que caiu na crítica negativa,outro olhar seria diferente,avaliação de nossa realidade pobre de filosofia.
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