RESUMO
Se um medicamento não for corretamente prescrito, seus resultados serão maléficos. Com a democracia acontece o mesmo. A perversão de seus princípios anula os efeitos benéficos.
Todos nós, para termos uma vida saudável,
de tempos em tempos, necessitamos de uma
revisão geral, um check up médico, para evitar que alguma doença invisível
esteja nos matando silenciosamente.
Isto também deve
acontecer no mundo das idéias, teorias e mesmo na ciência. Se Galileu não
tivesse revisado a teoria geocêntrica, talvez ainda hoje estivéssemos vivendo
cientificamente na Idade Média. Neste sentido foi o que fez Tzvetan Todorov
sobre o regime político da democracia, no livro Os Inimigos Íntimos da Democracia. No Brasil será lançado pela Companhia das
Letras ainda neste ano por ocasião da vinda do autor para duas palestras,
uma em Porto Alegre e outra em São
Paulo.
Todorov coloca algumas
perguntas radicais, sobre a democracia.
- Ela é tão boa como
parece?
- Sempre faz o bem?
- Não disfarça de bem o
mal em algumas ocasiões?
Natural de Sofia, na
Bulgária, reside na França desde 1963. Destaca-se como lingüista, mas
ultimamente preocupa-se com os problemas que vem afetando a democracia
principalmente no ocidente.
Acha que um das maiores
feridas atuais, e do passado também, é aquilo que Alexis Tocqueville chama de
”tirania das minorias”. Isto acontece quando um grupo se arvora representante
da opinião do todo e coloca seus interesses a cima da maioria. No tempo de Marx
aconteceu com os industriais, no período de Stalin e revoluções socialistas com
o partido e atualmente Todorov acha que é com setor especulativo das mega financeiras.
Em todas elas há um germe totalitário, pois uma parte se considera o todo e
impõe unilateralmente sua vontade.
Todorov diz que não é
contra a democracia, mas sim contra os princípios que foram pervertidos e então
passam a provocar efeitos perversos. Da mesma forma que um medicamento, se não
for corretamente prescrito, seus resultados serão maléficos. Com a democracia
acontece o mesmo. Napoleão, em nome da democracia, invadiu Espanha, Portugal,
Alemanha. Para quê? Dizia ele que era para levar a democracia. Ele não se
apercebia que em nome da defesa da liberdade acabava com a liberdade? Assim
acontece atualmente. Os grandes banqueiros se agarram à liberdade de mercado
para dominar todo o mercado. Fazem isso diretamente como políticos ou
indiretamente transformando-os em seus títeres dóceis às suas vontades. Este é
um problema da democracia, pois seu princípio de liberdade econômica anula seu
espírito político. Sem liberdade política não há democracia.
Outro problema é lançar
mão da tortura em nome da democracia. Assistimos pela mídia soldados torturando
prisioneiros, urinando em cima de seus cadáveres ou arrastando-os para cá e
para lá. O que acontece em Guantânamo? Que democracia é esta? Como são tratadas
as pessoas? Com respeito, embora julgadas?
Acrescentaria o papel
do judiciário nas democracias consolidantes. Há necessidade urgente de ser despolitizado.
Um judiciário que nasceu e atua de acordo com a vontade do executivo, em vez de
defender o estado de direito, age de acordo com o status quo proposto pelo
governo.
Em síntese, há uma necessidade premente de se aplicar
um check up na democracia para detectar possíveis disfunções.