Se pensarmos que fidelidade só diz respeito à relação
entre marido e esposa estamos enganados por que é incompleta. Fidelidade é uma
categoria ética que pode ser também jurídica. Mas antes de tudo é ética. Por
isso, pouco ajuda estabelecer leis para regular o comportamento ético. Este
brota de dentro, do coração ou da razão. Por isso mesmo, a fidelidade diz
respeito à relação entre o empregado e patrão, entre professor e aluno e
evidentemente entre marido e mulher. Mas há uma categoria social que faz que
não sabe que estão vinculados por uma ética de fidelidade. Dizia o chanceler
Bismark: nunca se mente tanto como antes das eleições, durante a guerra e
depois de uma pescaria. Fiquemos com a primeira situação: a relação entre
candidato e eleitor. Já ouviram falar de algum candidato ser preso por causa
das mentiras de campanha? E, no entanto, deveria haver uma relação de
fidelidade entre os que prometem e aquilo que prometem com os que aceitam o
proposto acreditando na sinceridade. Ou a ética e a política residem em quartos
separados? Se de fato houvesse um casamento entre os eleitores e os políticos,
isto é, uma relação de dependência como se crê, poderíamos, nós eleitores
levá-los perante os tribunais. E a lei prevê esta dependência e consagra o
princípio ético. Com efeito, se todo poder emana do povo, os que o exercem são
dependentes de quem os elegeu e portanto, têm um dever de fidelidade a este
povo. Foram eleitos para o bem dos cidadãos e consequentemente deve agir assim.
No entanto, se observarmos a realidade o quadro é bem
outro. Uma vez eleito, o candidato adquire vida própria, só se preocupa com seu
próprio bem, de seus parentes e amigos, rouba, trapaça, desvia, enfim, age como
o antípoda da ética. E nem povo e nem lei conseguem frear este desvario
antiético. A fidelidade é jogada pela janela e a ética violentada, humilhada e
pisoteada publicamente.
E surge então a pergunta? Por que pode acontecer isto? Se
nem a lei e nem a filosofia conseguem explicar, talvez a sociologia nos lance
uma luz.
O comportamento social está alicerçado sobre três
categorias populacionais. A primeira categoria que poderíamos denominar de Alfa
(trendsetter). São atípicos, não seguem o padrão e não se deixam influenciar,
criam comportamentos. Intermediariamente alocam-se os Betas (early adopter) que
captam o comportamento dos alfas e o dissemina para os demais, menos para os
Alfas. E por fim temos a categoria comportamental dos Gamas (mainstream), dos comuns,
da maioria que seguem o que os Betas lhes transmitem. Não influenciam nem os
Betas e muito menos os Alfas. Estes comportamentos podem varias de conteúdo
para conteúdo. Uns podem Alfas em economia, e Gamas na política. Outros podem
ser Betas na religião, e Gamas em arte.
No caso da política se formos aplicar a teoria dos
comportamentos, pode-se constatar que os Alfas são autônomos em relação aos
Gamas e mandam seus padrões através dos Betas que se abstém de criticar os
Alfas por que é deles que dependem para sua sobrevivência, os quais passam as
orientações para os Gamas: maioria incapaz de mudar a situação. O povo- os
Gamas, a mídia - os Betas e os políticos - os Alfas.
Se os Alfas, por uma educação deficiente, ou ideologia
não comprometida com a democracia, emitir tipos de comportamentos antiéticos,
estes serão levados para os Gamas pelos Betas. Os comuns acham “normal” este
tipo de comportamento e não reagem a ele. E se isto se incrustar nos líderes
políticos, através de seus partidos, esta oligarquia apertará as tenazes de ferro sobre o povo e o como diria Robert Michel. E a fidelidade política é
mandada para as cucuias.