sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

SERIA POSSÍVEL UM HUMANISMO PARA TODOS? Selvino Antonio Malfatti

 

                                                   Diversidade

Não seria exagerado e até poderia ser dizer que o genuíno humanismo é aquele, conforme Protágoras, que faz do homem a medida de todas as coisas. O que entendemos por Humanismo? Nada mal seria partirmos da proposta aristotélica: as causas do ser. Todo ser se estrutura sob quatro causas: causal, material, formal e final. Partindo da proposta de Protágoras e conjugando com Aristóteles devemos encontrar um humanismo cuja origem seria o homem explicado pelas causas intrínsecas do ser.  Não pode ser um humanismo alicerçado numa máquina fruto de uma inteligência artificial. Um humanismo só pode ser bom quando tiver sua origem no homem, seja elaborado pelo homem e para o bem estar do homem.

Sonho com um mundo ocupando somente algumas horas do dia dentro de um escritório de máquinas que fabricam máquinas. Sonho com robôs automatizados que trabalham em lavouras preparando a terra, eliminando pragas, fazendo a colheita. Outros processando os produtos tornando-os farinha, carne, pão e alimentos.

Sonho com um mundo pessoas se dedicando às artes, ao lazer e ao culto cantando o hino de Beethoven: Alegria dos Homens. Nesse tempo foi eliminado o suor dos homens, por isso, comerão o pão com o sorriso nos rostos. O trabalho humano foi abolido e em seu lugar foi instituído o lazer universal. A dor, a fome, a sede, a doença, o vestuário já não é uma atividade dolorosa para conseguir por que existe em abundância: uma “Civitas Solis” de Tommaso Campanella.

A realidade, porém ainda é outra. Não só do nosso país, como do planeta Terra. Nosso país não tem nem menos nem mais, mas ainda são enormes.

Quando e como chegaremos lá, no reino da Alegria dos Homens? Alguns sonham com sociedade espontaneamente igualitária, na qual os bens pertencem a todos e todos os usufruem conforme seus desejos e necessidades. Outros sonham com uma igualdade compulsória, com um grupo se encarregando de garantir o nivelamento, não permitindo que ninguém e nem grupo algum se sobressaia.  Há ainda os aspiram com uma sociedade convicta da superioridade da igualdade, e por isso age de forma convencida a viver na igualdade. Por fim há ainda uma proposta de igualdade através da qual cada um busca sua própria igualdade. Não seria a igualdade de todos, mas de todos igualmente livres. Pois não é a igualdade que garante a realização, mas a liberdade. Os homens são iguais na liberdade e não iguais na servidão.

Quais os tipos de desigualdade? E quais as diferenças?

Geralmente podem ser consideradas como grandes diferenças entre os seres humanos: gênero e raça.

Primeiramente há que distinguir desigualdade e diferença. A tipologia a cima se refere às diferenças e não às desigualdades. Um homem e uma mulher podem ser desiguais em gênero, mas iguais em renda. Um negro e um branco são desiguais em raça, mas podem ser iguais em status. Um rico e um pobre são desiguais na fortuna, mas podem ser iguais na ocupação hierárquica. E em todas elas, vice-versa também é verdadeiro. Contra as diferenças naturais nada se pode fazer, mas as desigualdades podem ser corrigidas pela liberdade.

O humanismo é do ser humano, isto é, a medida de todas as coisas. Devemos ser iguais? O parâmetro da igualdade ou não, não pode ser o econômico e sim a liberdade. Por isso o parâmetro da igualdade é a liberdade. Se tiver mais bens, ou menos. Se for mais habilitado ou não, não importa desde que não seja impedido de ser. Isto significa que a liberdade supre a não igualdade natural: se a natureza o privou de um corpo perfeito, a liberdade complementa-a, como Hawking. Se a natureza o privou de inteligência, a liberdade providenciará para supri-la como João Vianey, ou Francisco Lisboa, o Aleijadinho, que perdeu as mãos e os pés, mesmo assim andava e esculpia com ajuda de técnicas, graças à liberdade.

Humanismo sem homem não existe. E o que é o homem? Um ser mortal e finito. Por mais que procuremos razões para justificar a finitude e a mortalidade, não encontraremos. Finitude aqui significa ter fim, findar, e não apenas limitado.  Por isso, não adianta justificar isto ou aquilo quando o principal permanece inalterado: a finitude da vida.

Não há humanismo que resista esta realidade que vai acontecer logo aí? O ser humano tem dois marcos: o berço, inicial e o túmulo, final. E a fé, poderia ser um componente do humanismo? Claro que sim, para os que têm fé. Um verdadeiro humanismo deveria ser válido para todos os homens, caso contrário seria restrito: cristãos, judeus, muçulmanos, hindus e todos os que creem. Por isso é preciso solucionar a questão da finitude.

E se aceitássemos um liberalismo como a autossuficiência de cada homem? A própria finitude deixaria de ser um problema, como a solução. Quando cada homem encontrasse a plenitude da sua finitude, isto seria o humanismo. Esta plenitude abrangeria as diversas dimensões humanas, definidas como plenas por cada um. Se cada um conseguisse tornar plena sua finitude, tornaria também pleno o humanismo dos humanos, desde que fosse extensivo a todos os seres humanos.

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