RESUMO: Neste artigo vou discorrer sobre o papel da universidade no aprimoramento da cidadania. Esta, claro, deve ter sua formação no primário e secundário, mas é na universidade que se completa. Como?
Estamos novamente diante de uma
greve da universidade pública brasileira. E é de grandes dimensões. Os
dirigentes atuais das universidades e da educação eram os que anteriormente incitavam
abertamente as greves no meio universitário e agora estão na incômoda situação
de contê-la e solucioná-la. Mas, afinal, o que há com a universidade?
Penso que ainda não sabemos bem
para serve a universidade. Será para formar profissionais, pesquisadores,
políticos? Antes da nossa independência a elite intelectual brasileira se
formava em Portugal, principalmente na universidade de Coimbra. Depois, até a
década de Vinte do século passado, na universidade francesa. Será somente então que surgirá a universidade pública no Brasil. Entretanto, foi só no
período de Getúlio que começaram surgir os grandes complexos universitário, as
PUCs, católicas.
Neste artigo vou discorrer sobre
o papel da universidade no aprimoramento da cidadania. Esta, claro, deve ter
sua formação no primário e secundário, mas é na universidade que se
completa. Como?
Na universidade, os acadêmicos
iniciarão a prática da cidadania. Na academia, entrarão em contato com
profissionais altamente qualificados, a elite intelectual da sociedade: os
professores. Relacionar-se-ão com funcionários de carreira pública e conviverão
com colegas na mesma situação intelectual e de cidadania. Nesse ambiente, a
cidadania se tornará o móvel da interação.
Na universidade, além da prática
da cidadania, os acadêmicos iniciarão a prática política no mais amplo
sentido. Aprenderão, concretamente, a
democracia nas salas de aula, em assembléias, nos conselhos, nos órgãos de
representação estudantil bem como nos de outras categorias: professores e
funcionários. Vivenciarão o funcionamento da democracia e poderão a
distingui-la de outros regimes. Aprenderão a distinguir política e ciência. É o
balizamento ético do agir universitário.
Sabe-se que, entre todas as
formas de deturpação política, com certeza, o fascínio da maioria pode ser a
desculpa para justificar os fins pelos meios. Contudo, uma minoria organizada,
diante de uma maioria desorganizada, pode aprovar propostas populistas como
discriminação racial, projetos sexistas ou patrulhamento ideológico
Uma das prerrogativas mais
importantes na universidade para evitar a tirania, muitas vezes disfarçada de
democracia, é a liberdade de cátedra. Este não é um direito universal do
cidadão, nem um contrato empregatício dos funcionários da universidade, mas um
direito especial, afeto ao ofício acadêmico. De diversas formas esta liberdade
de cátedra poderá ser atingida. A mais comum é a econômico-financeira que, por
sua vez, também pode ser afetada por vários métodos: corte de verbas, pressão
para que seja desenvolvida esta pesquisa e não aquela, ou com esta direção e
não naquela, contratos celebrados com empresas particulares desde que sejam
pesquisados determinados objetivos e não outros. Quanto mais minuciosos os
contratos de pesquisa, mais restrições proporcionarão à liberdade.
Também, na universidade, o
cidadão acadêmico, continuamente, deverá superar a aporia da liberdade e
igualdade. Terá sempre que se perguntar, em qualquer tomada de decisão, se uma
não está sufocando outra. Se tiver dúvida, optará pela liberdade, pois com
liberdade se atinge a igualdade, mas nem sempre pela igualdade se atinge a
liberdade.
Contudo, a educação do cidadão
não se esgota com a universidade, do mesmo modo que não inicia com a
escolarização. Mesmo antes da escola e concomitante a ela, o cidadão assimila,
na convivência social, valores que posteriormente o acompanharão para sempre.
E, após sua formação formal, no ensino médio ou no superior, encontrará nesse
convívio, inúmeras oportunidades de aperfeiçoamento para o exercício da
cidadania ética. Assim, quando ingressar na política, não precisará tornar-se
ético, porque já o é como cidadão.