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O filósofo e teólogo H. Küng
nasceu em 19 de março de 1928, na Sursee, na Suiça, no cantão de Lucena. Em
1954 é nomeado sacerdote em Roma e já em 1960, com 32 anos, torna-se titular da
cadeira de teologia da Universidade Católica de Tübingen, na Alemanha, e em
seguida funda o Instituto de Pesquisas Ecumênicas. Participou em 1962 e 1965 do
Concílio Vaticano II, destacando-se por propostas inovadoras. Por ter criticado
o dogma da Infalibilidade papal em 1979 foi revocada a autorização de ensinar
Teologia. Em 2013 aposenta-se por motivo de saúde. Sofria do mal de Parkinson. Falece
em
Hans Küng, denominado
teólogo da liberdade, publicou um livro, digamos popular, intitulado: “Christ
sein” (“Ser cristão”, Ed. Vozes, 1979). Diz ele que escreveu este livro:
“Para os que
creem, mas se sentem inseguros”, para aqueles que costumavam crer “mas não
estão satisfeitos com a sua descrença” e para aqueles que estão fora da Igreja
e não estão dispostos a abordar “as questões fundamentais da existência humana
com meros sentimentos, preconceitos pessoais e explicações aparentemente
plausíveis”.
Hans Küng confessa que nunca
escreveu nem disse algo que não acreditasse. Com certeza anuncia uma qualidade
característica sua: sinceridade. Esta sinceridade custou-lhe cargos (perdeu a
cátedra de professor de teologia), desaprovação pública da Igreja a seus
pensamentos filosófico-teológicos (rejeição ou condenação de suas doutrinas
religiosas), perdeu o posto de teólogo oficial da Igreja.
Qual o âmago de sua
doutrina? A combinação da espiritualidade e liberdade.
Para ele a espiritualidade é
algo inerente ao ser humano, é sua ontologia. Chama-se tradicionalmente de
espírito ou alma. É nisso que consiste a liberdade, a energia de agir, como ser
desprendido da escravidão da matéria, livre de agir deterministicamente. A capacidade
de agir livremente, livre de estímulos, é a própria essência da
espiritualidade.
Por isso, ao associar a
teologia à espiritualidade dá prioridade também à liberdade. Na teologia
tradicional a liberdade está submissa ao espírito. Este é a faculdade superior,
o diretor da liberdade. Para Küng, o próprio espírito é a liberdade. Não é sua
superiora, mas sua essência, o próprio ser. Por isso podia dizer que uma coisa
era a religião oficial, a manifesta, e outra é aquela que está no coração de
cada um, a latente.
Com isso, Küng abre a porta
para crença pessoal que pode ser diferente da oficial. E nisso está batendo de
frente com a teologia oficial da Igreja que quer a submissão do individual ao
oficial. Defende, por isso, uma fé natural, inerente em cada um. Como
consequência, a fé da Igreja oficial vem em segundo lugar, precedida da
religiosidade natural individual.
Costuma-se, e com razão,
destacar na obra de Küng quatro características: teoria, sistematicidade,
clareza e honestidade. 1. Teoria – sua obra cobre não só aspectos do pensamento,
mas iguala-se aos grandes pensadores universais como Aristóteles, Santo
Agostinho, Santo Tomás. Como exemplo podemos citar : a Encarnação de Deus. 2. Sistematização – sua produção intelectual
inclui organização didática, hierarquia de conteúdos e conclusões sintéticas e
abrangentes. 3. Clareza – Foge do estilo grandiloquente, hermético e pedante.
Prefere o face a face com o leitor como ensaísta. 4. Honestidade – um pensador
no qual “dolus non est” conforme a definição de Karl Barth.