sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

HANS KÜNG – UMA ESPIRITUALIDADE SEM DOGMA. Selvino Antonio Malfatti

 



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O filósofo e teólogo H. Küng nasceu em 19 de março de 1928, na Sursee, na Suiça, no cantão de Lucena. Em 1954 é nomeado sacerdote em Roma e já em 1960, com 32 anos, torna-se titular da cadeira de teologia da Universidade Católica de Tübingen, na Alemanha, e em seguida funda o Instituto de Pesquisas Ecumênicas. Participou em 1962 e 1965 do Concílio Vaticano II, destacando-se por propostas inovadoras. Por ter criticado o dogma da Infalibilidade papal em 1979 foi revocada a autorização de ensinar Teologia. Em 2013 aposenta-se por motivo de saúde. Sofria do mal de Parkinson. Falece em 6 de abril de 2021, com 93 anos, em Tübingen.

Hans Küng, denominado teólogo da liberdade, publicou um livro, digamos popular, intitulado: “Christ sein” (“Ser cristão”, Ed. Vozes, 1979). Diz ele que escreveu este livro:

“Para os que creem, mas se sentem inseguros”, para aqueles que costumavam crer “mas não estão satisfeitos com a sua descrença” e para aqueles que estão fora da Igreja e não estão dispostos a abordar “as questões fundamentais da existência humana com meros sentimentos, preconceitos pessoais e explicações aparentemente plausíveis”.

Hans Küng confessa que nunca escreveu nem disse algo que não acreditasse. Com certeza anuncia uma qualidade característica sua: sinceridade. Esta sinceridade custou-lhe cargos (perdeu a cátedra de professor de teologia), desaprovação pública da Igreja a seus pensamentos filosófico-teológicos (rejeição ou condenação de suas doutrinas religiosas), perdeu o posto de teólogo oficial da Igreja.

Qual o âmago de sua doutrina? A combinação da espiritualidade e liberdade.

Para ele a espiritualidade é algo inerente ao ser humano, é sua ontologia. Chama-se tradicionalmente de espírito ou alma. É nisso que consiste a liberdade, a energia de agir, como ser desprendido da escravidão da matéria, livre de agir deterministicamente. A capacidade de agir livremente, livre de estímulos, é a própria essência da espiritualidade.

Por isso, ao associar a teologia à espiritualidade dá prioridade também à liberdade. Na teologia tradicional a liberdade está submissa ao espírito. Este é a faculdade superior, o diretor da liberdade. Para Küng, o próprio espírito é a liberdade. Não é sua superiora, mas sua essência, o próprio ser. Por isso podia dizer que uma coisa era a religião oficial, a manifesta, e outra é aquela que está no coração de cada um, a latente.

Com isso, Küng abre a porta para crença pessoal que pode ser diferente da oficial. E nisso está batendo de frente com a teologia oficial da Igreja que quer a submissão do individual ao oficial. Defende, por isso, uma fé natural, inerente em cada um. Como consequência, a fé da Igreja oficial vem em segundo lugar, precedida da religiosidade natural individual.

Costuma-se, e com razão, destacar na obra de Küng quatro características: teoria, sistematicidade, clareza e honestidade. 1. Teoria – sua obra cobre não só aspectos do pensamento, mas iguala-se aos grandes pensadores universais como Aristóteles, Santo Agostinho, Santo Tomás. Como exemplo podemos citar : a Encarnação de Deus. 2. Sistematização – sua produção intelectual inclui organização didática, hierarquia de conteúdos e conclusões sintéticas e abrangentes. 3. Clareza – Foge do estilo grandiloquente, hermético e pedante. Prefere o face a face com o leitor como ensaísta. 4. Honestidade – um pensador no qual “dolus non est” conforme a definição de Karl Barth.

 

 

 


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