A Universidade Federal
de São João Del Rei, Minas Gerais, através de seu departamento de Filosofia e
Métodos, realizou em 2010 a XIII Semana de Filosofia, cujo tema foi o debate em
torno da questão do totalitarismo e da moral. Participaram professores de todo
Brasil e do exterior, mormente de Portugal. Os debates resultaram num livro
intitulado ”Pode e Moralidade: o totalitarismo e outras experiências
antiliberais na modernidade”, lançado neste ano pela Editora Annablume, de São
Paulo. A coordenação do evento e a organização do livro couberam ao chefe do
departamento da universidade, Prof. Dr. José Maurício de Carvalho. Assim se
expressa o coordenador:
“Os capítulos do livro
contribuem para entender o fenômeno totalitário, apontando os riscos do
totalitarismo nos momentos de dificuldade econômica e crise social. Os organizadores
do seminário consideraram fundamental a divulgação das diferentes abordagens do
fenômeno, pois ao estudá-las fica-se em condição de melhor identificar seus
riscos e os resultados de uma sociedade que saiu deles, ocupada com o existir
concreta, vivendo os riscos da solidão na angústia da contingência de viver
escolhendo o futuro. Daí diria o filósofo Albert Camus, o homem se descobre na
incerteza da náusea e da desesperança, na angústia da liberdade que o condena à
morte. Ele se vê perdido em seu desejo de compreensão racional numa realidade
que se apresenta completamente irracional. A filosofia existencial deu voz às
interrogações sobre o sentido da vida face à angústia, ao sofrimento e a morte.
O existencialismo é a consciência dos horrores da Segunda Guerra e das ações
dos governos totalitários.
No capítulo denominado A
bioética e sua relação com os direitos humanos –uma contraposição ao
Totalitarismo, Ricardo Silva e Napiê Silva aprofundam osignificado da
liberdade tendo por referência as ideias de Hannah Arendt.
Selvino Malfatti fez
ampla reflexão sobre o totalitarismo. Ele lembra que o eixo central da
moralidade ocidental é a pessoa humana. O fenômeno totalitário,esclarece, é
experiência recente da história política do ocidente e constitui um desvio de
rota da tradição principal.
José Carlos Souza
Araújo traduz e comenta a transcrição da doutrina fascista escrita por Giovanni
Gentile e Benito Mussolini para a Enciclopédia Italiana de Ciências, Letras e
Artes de 1932. É um documento esclarecedor das idéias fascistas e não tinha
tradução portuguesa o que realça seu valor.
No capítulo Absolutismo
hobbesiano e totalitarismo, Adelmo José da Silva aprofunda a hipótese de
Hannah Arendt. Ele explica que o totalitarismo é fenômeno do século XX, mas tem
raízes antigas.
António Pedro
Mesquita examina outra experiência antiliberal que antecedeu os estados
totalitários no século XX: o tradicionalismo português. A falta de apreço pelo
liberalismo começa no tradicionalismo.
Ernesto Castro
Leal apresentou importante esclarecimento sobre o destino histórico do
tradicionalismo dissociando-o do catolicismo. Ele estuda a crítica do Pe. Abel
Varzim aos movimentos totalitários lusitanos.
O filósofo
espanhol José Ortega y Gasset foi importante crítico do totalitarismo. Para
ele, o fenômeno totalitário é típico da sociedade de massas que se estabeleceu
na Europa no final do século XIX.
No capítulo
denominado Herbert Marcuse: totalitarismo e tecnologia, Antônio Carlos
Trindade da Silva comenta as teses do conhecido representante da Escola de
Frankfurt. Ele esclarece que Marcuse entende o Estado Totalitário como variante
do Liberal.
No capítulo que
elaborou sobre Hannah Arendt, Odílio Alves estudou a opção arendtiana de
empregar o conceito beleza para examinar o fenômeno político.
José Luís de
Oliveira também examinou o pensamento político de Hannah Arendt. Ele mostra que
a liberdade política é o elemento estruturante da meditação arendtiana,
aproximando-a de seu mestre Karl Jaspers.
Paulo César de
Oliveira examina a contribuição de Lévinas para o estudo do totalitarismo. Para
o filósofo o fenômeno totalitário tem raiz numa ontologia onde o ser é tudo."