O CAPITALISMO é um modelo econômico, jurídico, político, social
e filosófico que, quando parece morrer e extinguir-se, rebrota sempre mais
vigoroso. Até mesmo em países que o mataram e sepultaram, ressurge de suas
próprias cinzas. Qual a explicação? São várias. Enumero apenas algumas:
1. É
considerado natural, isto é, imanente à natureza humana. Desde que o homem
desceu das árvores e andou com suas próprias pernas, instituiu de modo
consuetudinário a propriedade, limites da ação individual, obediência a
autoridade, estruturas sociais e crença em algo superior a si mesmo. Estes
princípios encontra-se em profusão entre os gregos, cuja síntese está no
Discurso Fúnebre de Péricles, que invoca a vida, a propriedade, a igualdade em dignidade de todos.
2. Mais
eficiente. O capitalismo crê na supremacia da ação individual sobre a coletiva.
Quem dirige sua própria empresa o faz com mais empenho do que um terceiro
dirigindo o mesmo negócio.
3. Autocorreção.
Toda vez que necessita de mudanças acionam-se mecanismos internos que corrigem
os desvios.
É precisamente sobre este segundo e terceiro aspecto que
o livro de Antonio Caladrò versa: “A Empresa Reformista. Trabalho, Inovação,
Bem Estar, Inclusão” (L’impresa riformista. Lavoro, innovazione, benessere,
inclusione - Editora Bocconi).
O capitalismo, economicamente, abriga o princípio da
livre iniciativa e consequentemente o empreendedorismo individual. Acompanha-o
a contínua autocorreção e, por tabela, a reforma, a verdadeira alma do
capitalismo.
Nos
dias atuais qual a necessidade premente da empresa?
Certamente deixar de ser um ente frio e cínico. Um absente na comunidade. Uma empresa convive com seres humanos e deve se submeter aos valores superiores do humanismo. O modelo de empresa ausente aos problemas de seu meio não tem mais guarida, o chamado capitalismo selvagem. Com certeza vêm à mente aos leitores os desastres de Brumadinho em Minas Gerais e da boate Kiss de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Em ambas, a irresponsabilidade das empresas, causou centenas de mortos.
E não se diga que foi por acaso, um desastre natural. Em Minas Gerais teve como antecedente Mariana. Também não se diga que o acaso não poderá ocorrer no futuro. A KINROSS em Paracatu, Minas Gerais, tem 475 milhões de m2, Brumadinho tinha 12 milhões. Compoem seus rejeitos arsênico, cianeto e mercúrio. Se romper, por um século, vai matar a vida do São Francisco até a foz.
Uma empresa atualmente precisa inserir em sua gestão os
valores humanos, em que pese estar na era digital e robótica. Deve prover o bem
estar de seu entorno físico e social, em que pese ser, nacional, global ou
multinacional. Uma empresa estrangeira não pode portar-se como estranha ao meio
em que atua e não somente não prejudicar sua vizinhança, como promover seu
crescimento. Sempre colocar-se numa posição de respeito às leis, costumes e
valores locais e em nenhum momento prejudicar seus habitantes. Os rejeitos devem ter uma destinação não prejudicial à população e nem oferecer perigo para os moradores.
Em síntese:para uma empresa estrangeira, não fazer o que não faria em seu país.
Na questão do trabalho, a nova civilização empresarial
necessita prementemente de engenheiros, técnicos, profissionais de padrão, mas
juntamente de filósofos, sociólogos, psicólogos, dentro da ideia de que todos
os homens são naturalmente filósofos espontâneos. Hodiernamente não faz mais
sentidos o dilema entre o técnico-científico e o humanista. Isto por que no
científico perpassa o humano e no humano a ciência. Atualmente relacionam-se na
economia a robótica, a big data e internet das coisas com serviços hig-tec,
pesquisa e cultura. Diz Caladró: “Na economia do conhecimento, o centro de
gravidade continua sendo a indústria manufatureira. O coração permanece
antigo”.
O núcleo do pensamento de Caladrò é a reivindicação de um
capitalismo de modelo empresarial renovado, crítico, que desperte novas responsabilidades perante o
mundo ambiental, social e político. Para competir com os mercados globais, deve
inovar, sim, e para tanto precisa de pesquisa, de talentos e não atalhos e favores.
O empresariado atual deve alargar sua visão, deixar de
praticar ou tolerar a corrupção, de renunciar a competição mesquinha, sair da
corda bamba da mentira e falsidade. A empresa renovada deve premiar a cidadania
de quem trabalha, estuda, se sacrifica, de quem luta e não de quem fica em casa esperando que
o Estado resolva os problemas sociais. A empresa renovada não quer o álibi da
preguiça como desculpa pelo insucesso.