Há poucos dias foi criada na Itália a Fundação Blaumann sob a inspiração
de Giovanni Franceschini. Nasceu sob os auspícios do empresariado da Bréscia.
Propõe-se dar um novo enfoque à ciência. Visa apoiar a pesquisa teórica
fundamental, sem pretender diretamente às aplicações, ao prosseguimento do que
existe ou a novas tecnologias calcadas no que sabemos, mas tem em mente
entender a realidade em profundidade. Frente ao conhecimento já possuído se
perguntar: o que está por trás dele? Para tanto, esforçar-se para melhorar a
estrutura conceitual para entender melhor a realidade. Disso decorre refletir
para formular um juízo axiológico sobre a ciência pura e como pode ser
sustentada. A constatação é que estamos nos desviando deste valor, inclusive na
lógica dos investimentos.
A civilização ocidental originou-se graças à criação de um cabedal de
ferramentas conceituais desenvolvidas coletivamente através da História de
diversos povos, em diferentes épocas e por inúmeros atores pensantes. Este
conjunto forma a cultura. A riqueza da nossa civilização não é material, mas
espiritual. É saber pensar e saber fazer.
Contemple-se o cenário do final da Segunda Guerra Mundial. A Europa
estava em ruínas e seus bens materiais em grande parte destruídos. Apesar
disso, em algumas décadas, a Europa voltou a ocupar os lugares mais ricos do
mundo. Por aconteceu isto? Simplesmente por que sua cultura subsistiu à
destruição.
Sua riqueza assenta-se na capacidade de pensar, nas ferramentas
conceituais. Os povos destituídos desta cultura permaneceram os mesmos. O
cabedal dos conhecimentos científicos faz parte deste patrimônio comum da
cultura. O pensamento científico tem seu objeto material, mas não é material,
porém, imaterial ou conceitual. O corpo humano material é o mesmo para um
médico e um curandeiro. O que os difere é
o cabedal conceitual de cada um. Por isso, tecnologia,
medicina, plantas industriais, química, sistemas complexos, gestão de
informação e outros, nada disso existiriam se não
tivesse um pensamento científico básico. O que os difere é o pensamento e não
a realidade material. É um patrimônio coletivo mental e não um baú. Este
patrimônio tem vida, desenvolve-se
crescendo continuamente.
Sempre, desde o Liceu e Academia da Grécia, às primeiras universidades
europeias do século XI, como de Bolonha e Pádua, aos maiores centros de
conhecimento do mundo moderno, a cultura e mais especificamente a científica, é
sempre ligada à educação. O conhecimento cresce ao ser transmitido e se transmite
ao crescer.
Pode-se constatar que sempre as universidades são centros da criação e transmissão
do conhecimento científico.
Diante disso conclui-se que é preciso investir em universidades. Há
países que investem muito pouco como alguns europeus e América Latina. O nível de
investimentos no Brasil para as universidades é muito aquém do esperado. No
mínimo precisaria duplicá-los para alcançar o mínimo europeu ou norte-americano.