sexta-feira, 28 de junho de 2013

Manifestações cidadãs. José Maurício de Carvalho




Boa parte do país e do mundo assiste atônito às cenas de violência e protestos que se espalharam pelas maiores cidades do Brasil. O movimento começou como protesto pelo aumento do preço das passagens de ônibus nas capitais dos Estados e, nessa altura, se protesta contra tudo, desde a inoperância do presidente do Bahia até a falta de qualidade dos jogadores do Palmeiras. Meu amigo Jorginho estava indignado na última manifestação porque o verdão está disputando a série B do Campeonato Brasileiro e gritava a plenos pulmões: queremos time. Misturado a eles, baderneiros de toda ordem saqueiam lojas, quebram o patrimônio público, fazem arrastão. Estão promovendo enorme prejuízo, destruindo o patrimônio público e privado diante de manifestantes pacíficos e autoridades perplexas que não sabem como proceder.
Deixando de lado os baderneiros, vândalos e os inconformados palmeirenses infiltrados nas manifestações cidadãs, a maioria dos manifestantes é jovem e acreditam sinceramente que seus protestos resultarão num país melhor. É, sobretudo, a eles que me dirijo hoje. Jovens cujas posições podem provocar mudanças no país, digo podem, ao recolocar na pauta de discussões nossos velhos problemas e a necessidade de mudar a sociedade. Nossa estrutura social é injusta (já foi pior), os serviços públicos são ruins (e melhoraram nos últimos anos), nossas instituições respondem com dificuldade aos problemas que temos (vivemos décadas de ditadura e total afastamento entre a estrutura do Estado e a Sociedade). Apesar das melhorias alcançadas, as aspirações dessa geração são maiores e ela espera que o país mude rapidamente. Sobretudo os manifestantes esperam que a corrupção diminua (isto não tenho base de comparação), que também diminua a violência e a insegurança (essas pioraram muito na última década) e que melhorem os serviços públicos (e como precisam melhorar).
É a essa geração de patriotas que me dirijo para refletir com eles que é preciso encontrar um rápido meio de contato com as instituições do país. Manifestações de rua estão acobertando bandidos e desordeiros. E as mudanças não virão espontaneamente da atual elite política e econômica, mas não virão, de modo consistente, se não vierem pelos meios institucionais. Somente mudando o país desde dentro a vida cotidiana deixará de ser espaço de violência, de injustiça e abandono. A democracia, por sua vez, só melhorará com respeito a todos os cidadãos. É inútil pedir democracia e exigir favores, manifestar-se por igualdade e pedir privilégios, pedir o fim da corrupção e ser desonesto.
Sobre mudança é preciso realismo. Muitos sindicatos e partidos que se dizem progressistas e vanguardistas, buscam privilégios e/ou vendem irrealidade, como carreira fácil em que todos vão ao topo sem mérito real. E mais ainda: transporte gratuito, escola gratuita, hospital gratuito não existe. Existe serviço público pago com impostos. E alguns serviços precisam mesmo ser públicos e subsidiados pelos impostos, mas quais? Além das funções básicas de defesa do Estado, de segurança pública e da aplicação da justiça, deveriam ser gratuitos e para todos: a educação básica, a medicina preventiva, os serviços de saúde de alta complexidade e a segurança. Também poderiam ser gratuitos a universidade pública e hospitais do Estado, zelosos ambos da qualidade do atendimento.

Permitam-me pequeno esclarecimento, os estádios da copa padrão Fifa são, na verdade, padrão Suíça. Conhecem a Suíça? Para que nosso país alcance aquele nível de desenvolvimento será preciso décadas de crescimento acelerado. Desejo que seus netos vivam num país próximo do que é a Suíça hoje. Nenhuma melhoria virá nessa direção sem a participação de todos, trabalho sério, punição rigorosa aos corruptos e condenados pela justiça, sobretudo, fim dos privilégios e investimento financeiro.

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