Boa parte do
país e do mundo assiste atônito às cenas de violência e protestos que se
espalharam pelas maiores cidades do Brasil. O movimento começou como protesto
pelo aumento do preço das passagens de ônibus nas capitais dos Estados e, nessa
altura, se protesta contra tudo, desde a inoperância do presidente do Bahia até
a falta de qualidade dos jogadores do Palmeiras. Meu amigo Jorginho estava
indignado na última manifestação porque o verdão está disputando a série B do
Campeonato Brasileiro e gritava a plenos pulmões: queremos time. Misturado a eles, baderneiros de toda ordem saqueiam
lojas, quebram o patrimônio público, fazem arrastão. Estão promovendo enorme
prejuízo, destruindo o patrimônio público e privado diante de manifestantes
pacíficos e autoridades perplexas que não sabem como proceder.
Deixando de
lado os baderneiros, vândalos e os inconformados palmeirenses infiltrados nas
manifestações cidadãs, a maioria dos manifestantes é jovem e acreditam
sinceramente que seus protestos resultarão num país melhor. É, sobretudo, a
eles que me dirijo hoje. Jovens cujas posições podem provocar mudanças no país,
digo podem, ao recolocar na pauta de
discussões nossos velhos problemas e a necessidade de mudar a sociedade. Nossa
estrutura social é injusta (já foi pior), os serviços públicos são ruins (e
melhoraram nos últimos anos), nossas instituições respondem com dificuldade aos
problemas que temos (vivemos décadas de ditadura e total afastamento entre a
estrutura do Estado e a Sociedade). Apesar das melhorias alcançadas, as
aspirações dessa geração são maiores e ela espera que o país mude rapidamente.
Sobretudo os manifestantes esperam que a corrupção diminua (isto não tenho base
de comparação), que também diminua a violência e a insegurança (essas pioraram
muito na última década) e que melhorem os serviços públicos (e como precisam
melhorar).
É a essa
geração de patriotas que me dirijo para refletir com eles que é preciso
encontrar um rápido meio de contato com as instituições do país. Manifestações de rua estão acobertando
bandidos e desordeiros. E as mudanças não virão espontaneamente da atual elite
política e econômica, mas não virão, de modo consistente, se não vierem pelos
meios institucionais. Somente mudando o país desde dentro a vida cotidiana
deixará de ser espaço de violência, de injustiça e abandono. A democracia, por
sua vez, só melhorará com respeito a todos os cidadãos. É inútil pedir
democracia e exigir favores, manifestar-se por igualdade e pedir privilégios,
pedir o fim da corrupção e ser desonesto.
Sobre mudança
é preciso realismo. Muitos sindicatos e partidos que se dizem progressistas e
vanguardistas, buscam privilégios e/ou vendem irrealidade, como carreira fácil
em que todos vão ao topo sem mérito real. E mais ainda: transporte gratuito,
escola gratuita, hospital gratuito não existe. Existe serviço público pago com impostos.
E alguns serviços precisam mesmo ser públicos e subsidiados pelos impostos, mas
quais? Além das funções básicas de defesa do Estado, de segurança pública e da
aplicação da justiça, deveriam ser gratuitos e para todos: a educação básica, a
medicina preventiva, os serviços de saúde de alta complexidade e a segurança.
Também poderiam ser gratuitos a universidade pública e hospitais do Estado,
zelosos ambos da qualidade do atendimento.
Permitam-me
pequeno esclarecimento, os estádios da copa padrão Fifa são, na verdade, padrão
Suíça. Conhecem a Suíça? Para que nosso país alcance aquele nível de
desenvolvimento será preciso décadas de crescimento acelerado. Desejo que seus
netos vivam num país próximo do que é a Suíça hoje. Nenhuma melhoria virá nessa
direção sem a participação de todos, trabalho sério, punição rigorosa aos
corruptos e condenados pela justiça, sobretudo, fim dos privilégios e
investimento financeiro.