Quem conhece Milão, sabe que o Castelo Sforzesco é um
dos cartões postais da cidade. Pois bem, bem defronte ao castelo foi montada a
Expo Gate, uma feira de exposição universal, reunindo centenas de países
expositores, inclusive o Brasil. A feira terá início em 1º de maio e se
estenderá até 31 de outubro. O tema: “alimentando o planeta, energia para
vida”. A princípio pareceria que se trata somente de culinária. No entanto, não
é bem assim. Os mais variados assuntos estão presentes, entre eles um Pavilhão
norte, denominado Pavilhão Zero, traz uma exposição da evolução dos primeiros
sinais de comunicação humana, as inscrições rupestres.
Sabe-se que há 40 mil anos o “homo sapiens” migrou da
África e se espalhou por todos os continentes. Depois desta migração mãos
anônimas deixavam não só marcas da presença do homem, mas também dizia o que
era, o que fazia, sua alimentação, caça, pesca e até no que acreditava. Estas
inscrições podem ser vistas nas grutas da ilha de Sulawesi, na gruta do Castelo
e mais comuns desenhos de caça e pesca em Chauvet, Lascaux de Altamira e assim
por diante. Ainda hoje se podem constatar in loco, no Brasil, centenas destas inscrições
e desenhos como dos índios guaranis na região central do Rio Grande do Sul.
Estes primeiros sinais eram uma proto-escrita. Mais
quarenta mil anos, depois de cataclismos, guerras, migrações o homem já vivia
em pequenas sociedades e estava de posse do fogo. Foi aí que inventou o
alfabeto no Egito (2700 a.C), China (1200 a.C) e Mesopotâmia (600 a.C).
Utilizou as letras para fixar leis e compor pequenos textos como testemunho de
sua passagem. Alguns até elaboravam modestos versos de hinos ao sol ou às
divindades divinas. Foram aperfeiçoando até atingir o estágio de poesia. Estes
versos serão expostos no pavilhão para que a multidão possa vê-los. Serão
mostradas poesias líricas de diversos países no Pavilhão Zero. Constarão versos
de Dante, Esíodo, Virgílio da Itália, mas haverá também do africano Léopold
Sédar Senghor, do chinês Bai Juvi, do árabe Imru ´al Qays, do japonês Nivasawa
Kenyi e do indiano bengalês Rabindranath Tagore. Da parte das grandes potências
Alesandr Puskin da Rússia e Walt Whitman dos Estados Unidos. Sobre o tema específico:
Le opere
dell’uomo. I frutti della terra. Antologia di poesie sulle arti per procurarsi
il nutrimento.
Os responsáveis pela organização garantem que os que passearem no
Pavilhão terão a sensação de sentir a evolução da História do homem no seu
avanço cultural. É através da alimentação o homem cria a linguagem, os
símbolos, o alfabeto, a poesia, o comércio e constrói a cidade. O alimento foi
o motor da cultura.
No entanto se deve refletir e não confundir o combustível da cultura com
ela mesma. O combustível de um carro não é igual ao carro. É apenas um motor. A
realidade que daí advém difere em gênero e forma. Assim como o carro precisa do
combustível o homem também o necessita. Mas a cultura que o homem produz não é
seu combustível. Haja vista que o animal também se serve do mesmo combustível,
mas não cria cultura. Ele até pode emitir sinais de inteligência, no entanto
não conseguiu criar um instrumento material que a fixe para outra inteligência
interpretá-la.
Por isso é louvável a iniciativa do Pavilhão Zero da Feira de Milão de
possibilitar uma meditação sobre a especificidade da inteligência do homo
sapiens. Ele não só pensa como consegue criar ferramentas para fixá-la e transmiti-la
a outros seres humanos para todos os tempos e lugares.
(1. http://www.expo2015.org/it/esplora/aree-tematiche/padiglione-zero
2. https://www.google.com.br/webhp?sourceid=chrome-instant&ion=1&espv=2&ie=UTF-8#q=imagens+ca%C3%A7adas+inscri%C3%A7%C3%B5es+rupestres+mata+rs)
(1. http://www.expo2015.org/it/esplora/aree-tematiche/padiglione-zero
2. https://www.google.com.br/webhp?sourceid=chrome-instant&ion=1&espv=2&ie=UTF-8#q=imagens+ca%C3%A7adas+inscri%C3%A7%C3%B5es+rupestres+mata+rs)