Vivemos dias de violência no interior
das sociedades nacionais, sem tantas ameaças e guerras entre Estados, mas com
crescente desrespeito à dignidade humana no interior dos Estados. Isso se
mostra tanto em guerras abertas como se vê na Síria e Iraque, como nas disputas
entre bandos rivais de traficantes e entre eles e a polícia no Brasil. Essa
mesma violência se mostra em países da África como no conflito envolvendo a
Nigéria, o Benin, Chade, Camarões e Níger e o grupo islâmico Boko Haram. E onde a violência não é
aberta, como na corrupção política, também não se vive os tempos de paz da fraternidade
universal do Sinai. E não custa lembrar nesses dias de explícita corrupção, que
é uma forma de violência roubar o dinheiro da sociedade para custear o luxo
suntuoso e ilegal.
E o que estrutura a fraternidade
universal? Tivemos oportunidade de comentar no livro Ética (2010, p. 29-31). Uma das fontes da moral
ocidental é a tradição judaico-cristã, ou melhor, os mandamentos da lei
mosaica. O que há neste Código? Ele resume as regras morais que desde muitos
séculos antes de Cristo servem de guia de conduta para o povo judeu. Os judeus
as reconhecem como sagradas porque acreditam que foram entregues diretamente
por Deus a Moisés. Elas se destinam a servir de orientação para uma vida plena,
conforme o plano traçado pelo Criador. Os hebreus foram escravos no Egito e
para orientar os tempos de liberdade que se seguiram à fuga liderada por Moisés
através do deserto, Deus lhes ofereceu regras para bem viver em liberdade,
assegurando também com elas uma disciplina interna. Os judeus acreditam que o
cumprimento do Código será cobrado quando a pessoa se apresentar diante de Deus
depois da passagem pela vida terrena. O Código mosaico orienta a relação do homem
com Deus do seguinte modo: “Não terás outros deuses, não farás imagens divinas
e nem as adorará”. As regras também disciplinam o convívio social: “Honrarás
pai e mãe, não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não darás falso
testemunho contra o próximo”. O cumprimento das normas, à parte do destino
religioso do crente, era também cobrada na vida social.
Essas regras formam a base do convívio humano e
fornecem o ideal de vida do homem ocidental, mesmo do não religioso. E assim é
porque esse humanismo hebreu foi fundido e aprimorado nos evangelhos de Jesus e
daí se tornaram a base da moral ocidental. E não é difícil perceber que nesses
nossos dias onde se está distante da fraternidade universal, as regras de
moralidade andam pouco cuidadas e a crença religiosa também tem pouco impacto
na vida diária. Mesmo os socialistas de ontem, que beberam dessa fonte
fraterna, perderam o essencial da mensagem porque não há socialismo possível
sem uma mudança íntima e comprometimento pessoal com a justiça. O socialismo do
progresso e da técnica que apenas confia no Estado termina nalguma forma de
desastre.
Pois esse mundo de violência precisa da festa
do natal, não de enfeitar ruas e comprar presentes, mas de fazer isso para
celebrar o nascimento do enviado de Deus. O que temos para comemorar é a vinda do
menino que veio ensinar que a missão dos homens é o serviço entendido como o
tecido formador da fraternidade universal. Um trabalho feito na excelência do
empenho pessoal, dedicado a tornar melhor a vida dos outros. Um trabalho onde o
objetivo seja a construção de um mundo de paz e garantir o pão ganho honesta e
corretamente.