Fonte: Ks95808 FOTO SEARCH COM.BR
Uma geração de jovens, a partir de 1990, tende a estender
a permanência na casa dos pais por mais tempo e, alguns, até indefinidamente
mesmo que já tenha alcançado a autonomia econômica. Se verificarmos as
estatísticas pode-se constatar este fenômeno, inclusive crescendo década após
década. No Brasil, por exemplo, na década de noventa, jovens com até 25 anos,
havia 17% residindo com os pais. Em 2000, subiu para 21% e na década seguinte
pulou para 25% a estatística. Desse modo, parece que está se invertendo o
costume ou necessidade de os pais morarem com um filho depois de envelhecer.
Agora são os filhos que envelhecem na casa paterna ou materna.
Alguns fatores influíram para que isso fosse possível e
efetivamente acontecesse. Apontaria: o diálogo entre pais e filhos, a maior
liberdade para os filhos, a maior compreensão dos pais. Nas gerações anteriores
os pais, mormente o pai, era o que decidia. Cabia aos filhos, e mesmo às vezes
a própria esposa, acatar as determinações. O espaço para a liberdade era muito
restrito, aos filhos restava a obediência. Dizia-se quer se os filhos quisessem
decidir deveriam formar seu próprio lar. Havia situações que os próprios pais
incentivavam a saída.
Certamente o que aconteceu foi um aplainamento do modus
vivendi dentro da família. A nova geração não é igual a dos pais. Tem gostos,
expectativas e maneiras de pensar diferentes. Além disso, há uma gama de
diversidade entre os próprios filhos. Uns gostam de festas e as querem promover
dentro de casa, outros de convidar namorados e lá permanecerem e há os que
gostam de ficar no seu canto e não serem incomodados. Todas estas arestas
deviam e foram removidas. Os pais também querem sua privacidade, o espaço para
sua liberdade e a satisfação de suas aspirações Há, com o se percebe, duas
realidades convivendo: a da geração dos pais e a dos filhos. Houve uma readaptação
entre as duas, operada pela influência mútua que possibilitou a convivência.
Ambos cederam abrindo o espaço para a aproximação. E nessa mútua influência
ambos abdicaram de vantagens e ambos obtiveram ganhos.
Os filhos perderam parte de sua autonomia. Se estivessem
na sua própria casa teriam mais opções, como horários, espaços
físico-sociológicos, individuais. No entanto o principal ganho é o econômico,
pois não pagam aluguel e a maioria deles nem a alimentação. Este dinheiro
liberado pode ser aplicado em aperfeiçoamento profissional, lazer e mesmo
investimentos patrimoniais. Os pais também tiveram que abrir mão de sua
privacidade, horários, espaço físico e psicológico. Mas, em compensação,
agregaram companhias agradáveis e até mesmo eventuais ajudas nas tarefas
caseiras. Sentem-se menos sós, mais seguros e tranqüilos numa eventualidade de
doença. Podem deixar a casa aos cuidados dos filhos e viajarem, fazerem
refeições fora, se divertirem. E se vierem os netos então será uma bênção
multiplicada.
As conseqüências desta tendência ainda não podem ser
avaliadas com segurança, mesmo porque pode haver retrocesso ou tomar outros
rumos. Parece certo, porém, que a família nuclear – pai, mãe e filhos – está
sofrendo uma mutação. Se ocorrer a família extensa é outra questão. Parece que
a possibilidade de um patriarcado ou matriarcado está remota, pois exigiria uma
gerontocracia, isto é, subordinação ao mais velho de toda gama parental. O que
se delineia é um convívio mais harmônico entre os parentes próximos e mesmo os
do mesmo sangue ou sobrenome. Haja vista as promoções dos “encontros” de
famílias que estão cada vez mais numerosos.