Dois eventos ocorreram no Brasil concomitantes atualmente. O primeiro é o campeonato mundial de futebol
realizado no Brasil e o segundo o lançamento de um satélite pelo Brasil na
Rússia. Cada um deles tem um responsável. O Primeiro, Luiz Felipe Scolari,
comanda uma equipe de jogadores de futebol que vai enfrentando um a um os
adversários para conseguir chegar ao topo e tornar-se campeão. O segundo,
Nelson Jorge Schuch, gerencia uma equipe de pesquisadores do INPE e da UFSM e já
chegou ao objetivo: colocar em órbita terrestre um satélite.
O primeiro foi contemplado
com bilhões de verbas nacionais e internacionais, bem como construções de
faraônicos estádios nas principais capitais da federação, com funcionários
regiamente remunerados. O segundo possui um modesto laboratório do INPE, na
região central do Rio Grande do sul, Santa Maria, com funcionários e bolsistas
pagos em salários. Na estréia do jogo do Brasil, no dia de 12 de junho, na
Arena Corinthians, Scolari recebia atenção de milhões de pessoas tanto do
Brasil como do exterior. No lançamento do satélite, na base espacial Yasny, na
Rússia, estavam presentes duas dezenas de pesquisadores, geralmente
coordenadores de projetos para lançamento de satélites.
Estabelecer um paralelo
entre os feitos de Felipão e Schuch parece coisa de maluco, de samba de crioulo
doido, pois são acontecimentos de natureza totalmente diversa. O primeiro é
lúdico e o segundo científico. No entanto, como são contemporâneos é possível
verificar a receptividade e repercussões no seio social de um e de outro, bem
como projetar as conseqüências de um e de outro.
Quanto à liderança, Felipão
é essencialmente um futebolista que se transformou em treinador da equipe
brasileira para o mundial de 2014. Antes
treinou o Palmeiras, em cujo time aprendeu as manhas e artimanhas do futebol e
seus campeonatos. Principalmente as artimanhas, as entrelinhas e o jeitinho.
Claro, tem um curriculum futebolístico invejável: foi campeão da seleção
brasileira em 2002, da Copa do Mundo, Coreia do Sul, Libertadores da América.
Em 2013 foi campeão da Copa das Confederações. Tudo isso, evidentemente, o
qualifica.
Por sua vez, Schuch vive uma
monótona vida acadêmica. É pesquisador do CNPq e professor da UFSM, desenvolve
dezenas de linhas de pesquisa e trabalha com várias instituições. Sua maior
conquista foi ter construído, junto com alunos da UFSM e do pesquisador Otávio
Santos Cupertino, do Inpe de São José dos Campos, um satélite, já lançado ao
espaço em 19 de junho deste. Também está qualificado devidamente para levar
adiante projetos de pesquisa.
O que têm em comum? Ambos são gaúchos, mas isto é irrelevante.
Schuch já alcançou seu
objetivo, o satélite já está em órbita. Digamos que Socari também o faça, isto
é, que o Brasil arremate a taça. Quais as conseqüências? Scolari proporcionará
uma alegria imensa a milhões de brasileiros e admiração, senão inveja, dos
demais países. E os estádios, como esfinges, continuarão a ostentar a
grandiosidade do futebol brasileiro. Scolari será recebido em toda parte como
herói, ovacionado e, por tabela, muito bem pago.
Schuch, constará em atas e relatórios
científicos como o primeiro brasileiro a conseguir tal feito. E continuará
recebendo remuneração de professor. O satélite, porém, poderá prever
tempestades, enchentes, secas prolongadas ou queimadas. Localizar cidades, ruas
e pontos distantes e desconhecidos. A área da comunicação receberá mais
impulsos, será mais rápida, segura e precisa. O Gps, cujo gerenciamento está
nos Estados Unidos, poderá vir para o Brasil, inclusive fornecer para outros
países, passando a ser fonte de divisas. Melhorará a vida de milhões de
brasileiros.
O satélite não é grande, por
isso mesmo chamado de NanoSatC-BR1, mas sua importância é inestimável para o
conhecimento do espaço e inserir o Brasil no patamar espacial e outras vantagens.
Quem é melhor? Scolari ou Schuch?
Quem é melhor? Scolari ou Schuch?
A propósito, lembro-me da Carta do
imperador Vespasiano a seu filho Tito sobre a conclusão de Coliseu:
“Alguns senadores o
criticam, dizendo que deveríamos investir em esgotos e escolas. Não dê ouvidos
a esses poucos. Pensa: onde o povo prefere pousar seu clunis: numa privada, num
banco de escola ou num estádio? Num estádio, é claro.”