Bruno Latour, nascido em 1947, em Beaune, França, ficou conhecido no mundo intelectual como o
filósofo da ciência e da ecologia política. Deixou o mundo durante a noite de
Latour tem uma maneira peculiar como pensador. Em vez de fundamentar
sua proposta no conhecimento das teorias das grandes autoridades no assunto, produzindo,
portanto, um conhecimento fundamentado, já testado, prefere
buscar in loco, ao vivo, no momento vivo que se realiza. Para tanto, peregrina por
onde a pesquisa palpita viva, nos laboratórios, tribunais, exposições
artísticas e em novéis trabalhos de campo. Aí busca não o que já é consensual,
mas o controverso, o polêmico.
De certa maneira Latour quer repetir o renascimento
científico ao se propor voltar às fontes do pensamento da modernidade, apoiando
e negando a divisão tradicional entre natureza e cultura, entre um mundo humano feito de afetos,
intenções, consciência, escolhas contrapondo-se a um mundo natural, carente,
potência de vontade e ação, ou de “agência”, como é definido pelos britânicos.
Conforme
Latour a palavra “modernidade” é apontar para uma direção e mesmo uma palavra de ordem, daquelas que mais incitam para uma ação do que para um conteúdo científico. É um chamamento para o
crescimento sem estar limitado, ao incremento tecnológico sem se preocupar com
a crítica reflexiva. Um convide para deixar de lado as condições do planeta,
uma exaltação ao progresso do ponto de vista apenas humano.
Num dos seus livros “Nunca
Fomos Modernos” imbuídos que fomos da ideologia da modernidade associada à
ideia da negação dos direitos dos outros ( extensivo a populações e outras
formas de vida). A exacerbada exaltada da falsa autonomia ocidental que se
abrigou no esconderijo da dependência e relação com outros seres humanos, vivos
e não humanos. Se atualmente o conceito de não humano já se encontra
constituído isto foi devido a Latour e Lovelock que mostraram que todos os seres
da natureza estão submissos às mesmas leis invioláveis, contrariando um dos
princípios fundamentais da modernidade. Senão vejamos: enquanto Latour
pronuncia estas palavras emocionantes em algum momento, como contra prova, numa
refeição, um ser humano tem diante de si outro ser não humano, como um prato de
cordeiro, ave, gado, peixe, ovos ou outro alimento. Cada romper do dia milhares de cabeças de gado são abatidas, frangos aos milhões, suinos às centenas e centenas, redes cheias de peixes, crustáceos, animais silvestres, todos são mortos para manter o homem vivo.Com que direito se apodera
de outros seres? Diz que há um Código de Ética para Humanos e outro para Animais. Elaborado por quem? Se invertesse a autoria dos códigos continuaria ser justo? Por que um animal não poderia saborear
um ser humano como os canibais brasileiros faziam, com a consciência mais
pacífica do mundo. Por que inocentes animais podem servir de alimento aos seres
humanos e não vice-versa ou simplesmente ser uma ação antiética para todos?
E se, em vez de devorarmos animais, por que não criamos
artificialmente o que necessitamos. Vejamos a proteína, carne. Já dominamos a
técnica da “carne artificial”. Sua obtenção é através das células-tronco. As células
são obtidas através da retirada de um músculo vivo e cultivadas num biorreator
que reproduz as condições de um corpo animal (temperatura, acidez pH etc.;)
nutrientes para que as células se multipliquem exponencialmente. Com isso, uma
única célula pode produzir 10.000 quilos de carne. (https://www.corriere.it/dataroom-milena-gabanelli/
)
O ecossistema em que vivemos animais, plantas, vírus
bactérias, oxigênio e metano é um mundo co-construído, do qual o ser humano é
apenas UM dos inúmeros anéis. Foi necessária a pandemia para nos alertar que
estes seres invisíveis estão entre os seres vivos e não vivos que construíram
nosso corpo ou que vírus e bactérias é a redoma atmosférica de nosso habitat.
Esta é uma zona restrita da Terra destinada à vida de humanos e não humanos e
que reage às interferências.
A proposta de Latour é superar a modernidade. É deixar de
lado a atitude arrogante e destrutiva, de qualquer ideologia, quer seja
socialista da Rússia de Putin, da liberal dos Estados Unidos de Biden, da
social democracia da Alemanha de Scholz entre outros. Tal como uma partitura é
preciso compor novamente o mundo, respeitando os humanos e não humanos. Latour
aponta a direção: RUMO A DESMODERNIDADE.