Aproximam-se as eleições. Haverá enxurradas de pesquisas de opinião, cada uma delas pretendendo ser o espelho da verdade. Vejamos até que ponto isto é verdadeiro.
Desde que Augusto Comte chamou a atenção para a
positividade da realidade social, com a intenção clara de desvincular a
sociologia da filosofia ou metafísica, a celeuma não teve mais fim. Em seguida
apresenta-se Èmile Durkheim chamando a atenção para os fatos em oposição a
abstrações. A partir daí lança as bases para o empirismo sociológico: generalidade,
exterioridade e coercitividade. No entanto, ainda atualmente se pergunta se
isto é possível. Como deve ser o objeto experimental? 1. Não pode ter autonomia
para se modificar. Deve ser completamente passivo. Receber uma ação externa e
cumpri-la. 2. Não pode negar-se à ação externa ou ter livre arbítrio, isto é,
escolher. 3. Apresentar sempre a mesma reação ao estímulo. Dá a questão? As
ciências humanas decorrentes da sociologia podem ser experimentais? Tomemos a
eleição na política. A ação sobre o indivíduo tem autonomia? O indivíduo pode
negar-se? Evidentemente, sim. Pode dizer não à ação sobre ele.
- Votei em ti, o que dás? O indivíduo pode dizer nada ou propor uma troca.
Além disso, pode num determinado momento dizer sim,
depois mudar de posicionamento.
E mais: para um estímulo apresentar várias respostas.
Como se vê para as ciências humanas, como sociologia,
dentro dos parâmetros metodológicos de Durkehim, é refratária à pesquisa experimental. Por quê?
O homem é um ser dotado de livre arbítrio. Pode fugir, esquivar-se ou negar-se
a qualquer enquadramento experimental.
Se o método experimental é inadequado à pesquisa
sociológica, deve-se encontrar outro método. Foi o que fez Max Weber. Propõe
não a experimentação, mas a compreensão. Esta parte do pressuposto da
racionalidade humana, isto é, o homem se move em sociedade pelo sentido que á à
sua ação. Ela não é resultado da ação de agentes sociais, mas de escolhas racionais
que dão sentido ao agir. E neste ponto entra a valor atribuído pelo sujeito
racional. Ficam então descartados os fatos sociais bem como sua positividade.
Não são os fatos sociais, mas o sentido valorativo objeto da sociologia.
E A teoria weberiana sobre o sentido da ação
humana, conjugada com a teoria das formas de dominação, pode lançar luz sobre a
questão. Conforme Weber, a ação humana pode ter quatro sentidos:
1. Ação racional, tendo presente uma verdade, avaliada
sob a luz da razão como um fim em si e escolhida sem qualquer tipo de coação.
Neste caso há uma perfeita sintonia entre o ser buscado e a razão.
2. Ação racional, tendo presente um valor, avaliado sob a
luz da razão como um bem em si e escolhido sem qualquer tipo de coação.
3. Ação sentimental, tendo presente uma emoção, avaliada
pelo sentimento como uma sacralidade e escolhida de conformidade com a
satisfação.
4. Ação tradicional, tendo presente um costume, avaliado
tradicionalmente como eficaz e escolhido sob a égide da repetição.ste sentido
valorativo envolve:
Além da racionalidade e valor, incluem-se como método
weberiano os tipos ideais que balizam comportamentos. Se me pergunto como seria
um genuíno capitalista, um tipo ideal de capitalista puro surge algumas
características que o descrevem: visa o lucro pelo lucro, acúmulo contínuo de
capital, a única ética é o lucro. Embora um tipo ideal não se encontre na
sociedade, mas é ele que traça os limites da perfeição. Quanto mais me
aproximar do ideal, mais perfeito serei. Isto vale sempre dentro da ética
estabelecida por este tipo. Posso me perguntar como seria um perfeito tipo
ideal de “serial killer”, santo, ladrão, justo etc.
Quanto mais próximo do ideal, tanto mais corresponde à veracidade da pesquisa.
Pensemos: qual a valor de um pesquisa de opinião. Simplesmente válida provisoriamente para aquele momento, para aquele lugar e para aquela realidade. Lembremo-nos da pesquisa de opinião para presidente. Dava Haddad em todos os tempos e lugares. No entanto, foi Bolsonaro o venceder.
Medir a opinião momentânea é uma coisa, medir o sentido do voto dado pelo eleitor é outra.