A transição da modernidade para o pós-modernidade pode ser
caracterizado pela passagem do status de segurança para o da insegurança.
Enquanto predominava comportamentos previsíveis portanto, tinham a garantia de segurança. A
sociedade sentia-se protegida e confiante. E nela os indivíduos sabiam o que ia
acontecer e por isso sentiam-se seguros. Quando, porém, os comportamento ora
eram “A” ou “B” ou nenhum deles os indivíduos não sabiam mais como responder.
Se não acertassem a resposta sentiam-se excluídos e tanto fazia se eram de
fato, pois psicologicamente sentiam-se. Esta sensação levava à exclusão.
Quando uma sociedade transpuser o limiar do sólido para o
líquido, a condição efêmera do sólido em relação ao liquido conjuga condições
para que a rapidez das mudanças sejam tais que mal o mutável consegue
institucionalizar-se deve assumir novamente a forma de mutável, e em seguida
buscar novamente novas formas de sólido. A dialética do sólido e do liquido
assumem a mutabilidade e imutabilidade permanente. Nesse sentido as escolhas
individuais, instituições que asseguram a segurança nas repetições, padrões de
comportamentos são visceralmente provisórios.
A separação e o divórcio entre poder e política faz que a
ação de ambos não seja mais harmônica e de divisões de funções, mas de
intromissão mútua, de abandono ou abdicação. O Estado perde a força de ação
política global em detrimento do esfacelamento do poder. Este espaço vazio de
política e poder são invadidos e ocupados pelo poder econômico, que opor sua
vez transfere para o mercado e este para o privado aos cuidados dos indivíduos.
O espaço público, garantido pelo Estado, encarregado da
segurança individua e grupal privado, perde espaço em favor de outras formas de
proteção, nem sempre reconhecido como segurança pública. Em vez de uma
estrutura social é vista e tratada como uma rede de conexões e desconexões.
O planejamento em longo prazo cedeu lugar às soluções
pontuais. Com isso perdeu-se a continuidade e poder público perde-se na solução
de problemas fragmentados em vez de uma ação global, em vez de atuar
verticalmente opta por políticas horizontais.
Circunstâncias voláteis e variadas são jogadas nos ombros
dos indivíduos os quais devem agir como por conta própria e arcando com as
consequências. Em vez de ações previstas e esperadas, prefere-se às iniciativas
improvisadas, as quais os responsáveis devem arcar com as consequências. (BAUMAN,
Tempos Líquidos.)
É o conceito básico da teoria de Zygmunt Bauman. A
modernidade líquida é o desmoronar da certeza, da segurança e sólido. A certeza
do período sólido cedeu lugar à dúvida, a política do bem estar foi substituída
pelo extravio do caminho. As conquistas do passado entraram em contestação,
escárnio, até se tornarem pó. É como uma personalidade respeitada, venerada,
quase adorada depois de cremada, tem saldo zero, só pó. O Estado perante a
globalização tornou-se uma estátua impotente, o indivíduo separado da
comunidade que o protege e a sociedade um faz de conta que ora é, ora não é,
ora realidade, ora miragem. Se a observarmos vemo-la como um estômago
consumista, sem coesão dominada por um individualismo, antagônico e hedonista.
Avançamos sem finalidade diz Bauman.
Um das questões para as quais Bauman dá ênfase é o convívio
social em grandes cidades, fenômeno este irrompido depois da metade do século
XX. São os grandes conglomerados que substituíram as comunidades pequenas.
Enquanto estas proporcionavam segurança aos indivíduos, as grandes cidades, as
cidades globais, ao contrário produzem medo. Nestas cidades globais
substituíram a fraternidade com solidariedade, pelo estranho conhecido, um
inimigo potencial ou real. Este novo convívio produz solidões, convivência não
mais fraterna, mas entre estrangeiros, desconhecidos e perigosos, por que não é
conhecido. A própria arquitetura urbana separada em bairros, habitados por
desconhecidos, produz uma situação hobbesiana na qual, todos são inimigos e em
guerra mútua.
A
homogeneidade social do espaço, enfatizada e fortalecida pela segregação
espacial, reduz a tolerância de seus moradores à diferença e assim multiplica
as possibilidades de reações mixofóbicas, fazendo avida urbana parecer mais
“propensa ao risco” e, portanto mais angustiante, em lugar de mais segura,
agradável e fácil de levar.