É antigo o sonho de um mundo sem violência. Esta
esperança está registrada na literatura, como a República de Platão e Utopia de
Morus, mas principalmente nas religiões universais como o cristianismo e
budismo. Em contraposição há também uma crença da perpetuidade do conflito como
Heráclito entre os gregos e Maquiavel dos modernos. Dentre as religiões de
cunho bélico se poderia citar o islamismo e judaísmo.
No mundo atual pode-se invocar o psicólogo evolucionista
Steven Pinker (O Declínio da Violência) e o filósofo Peter Singer ( O melhor
que se pode fazer). De acordo com eles estamos vivendo a era menos belicosa de
história e o futuro nos reserva o pacifismo e o altruísmo. No entanto, o
filósofo inglês, John Gray, sustenta exatamente o inverso: esta visão é fruto do
mito do progresso que não tem fundamento na realidade.
A quem dar crédito? Ao que parece a tendência
civilizatória é um dado irrefutável, embora não tenhamos nenhuma garantia de
retrocesso. O verdadeiro mito é a saudade do passado sem se dar conta do que de
fato aconteceu. Nas guerras tribais, por exemplo, morria 25 por cento da
população. A conquista mongólica da China teve 60 milhões de mortos e não foi
mais por que chegaram à conclusão que era mais vantajoso explorá-los do que
matá-los. No ocidente a tortura era considerada normal, e hoje em dia se faz,
mas às escondidas. Serravam-se pessoas vivas, inclusive diante das crianças por
motivos pedagógicos. Hoje em dia o suplício público foi banido. É pouco, mas já
é um avanço. Às vezes até parece que não existe. Se de fato a razão evitasse a
violência não teríamos conhecido o Shoab alemão e nem o Gulag russo. É bem
verdade que diminuíram sensivelmente as guerras entre Estados, mas cresceram
conflitos endêmicos cruentos nos quais se perdeu a distinção entre civis e
militares.
De ambos os lados os argumentos pretendem ser científicos,
mas na realidade também ambas as posições são ideológicas. A posição liberal diz que o melhor seja um
Estado mínimo, ausente, para proporcionar o maior espaço individual. Isto
favoreceria o autocontrole e, por empatia, reduz a violência. A posição
intervencionista defende o contrário. A presença do Estado inibiria a violência
e daria segurança à coletividade. A realidade desmente a ambos.
O capitalismo liberal segrega e descarrega os que não são
assimilados pelo sistema. É como uma centrífuga: seleciona e incorpora e, ao
mesmo tempo, descarta e expele. A violência está neste jogo de seleção e
descarte. O socialismo não seleciona nada e todos continuam na mesma situação,
daí para pior. O programa habitacional
da revolução soviética é um padrão: em vez de mais moradias, o empilhamento de
famílias nas moradias existentes.
No entanto, qual deles poderia proporcionar o fim, ou ao
menos, a redução da violência? Teoricamente seria aquele projeto que se
absteria de intromissão na vida privada. Dissemos teoricamente. O outro projeto
que se comprometeria proteger a vida coletiva, não dá nenhuma garantia à vida
privada e, portanto, também teoricamente, seria o menos apto a proteger-se
contra a violência.
Apesar dos pesares, a ética que pode diminuir e
efetivamente diminui a violência é o respeito ao ser humano. Portanto, a cima das
ideologias políticas, há a postura ética: a dignidade da pessoa, cujo ideal vem
dos gregos, recebe contínuos aperfeiçoamentos através dos tempos. Esta sim, a
ética da dignidade, se mostra apta a diminuir a violência.