Dia
12 de novembro se comemora o batismo de Tiradentes, data que fica para a
história como seu aniversário. E nesta semana em que devíamos celebrar seu
nascimento quase não lembramos de Joaquim José da Silva Xavier, confirmando
tristemente que cuidamos pouco da memória nacional e de nossos heróis. Em São
João del-Rei houve comemoração cívica com a participação de autoridades locais
e soldados do batalhão de infantaria da cidade, conhecido como Regimento
Tiradentes. Foi só. É pouco para o que representa Tiradentes para esse país.
Com
a visão de estadista, em um de seus discursos emblemáticos, da sacada do
Palácio da Liberdade, Tancredo Neves chamou atenção para o fato: "Minas nasceu
da luta pela liberdade. E porque a liberdade é o ânimo das Pátrias, a Nação
surgiu aqui, na rebeldia criadora dos Inconfidentes, que nos deram por bandeira
o mais forte de todos os ideais". De Tiradentes, em outro momento, afirmou
algo assim: " Como afirmou Tiradentes, aquele herói enlouquecido de
esperança, se quisermos poderemos fazer desse país uma grande nação".
As
pátrias precisam do que as una, do que as façam se sentirem uma comunidade
nacional. Uma República não é apenas um punhado de homens ocupados em ganhar a
vida, pouco interessados nos seus companheiros de destino, sem enxergar em
todos os cidadãos partícipes de um projeto comum de afirmação e permanente
fortalecimento da nacionalidade.
E
Tiradentes morreu condenado pela justiça portuguesa, naqueles dias
representando um governo fechado no absolutismo, pouco atento aos ventos do
iluminismo e sem perceber que a colônia podia se tornar parceira fundamental
para maior desenvolvimento de ambas. Essa mesma insensibilidade fez com que as
elites portuguesas, sob a égide de uma revolução apenas chamada de liberal,
pretendessem pouco tempo mais tarde, desmoralizar o príncipe regente que o Rei
aqui deixou para gerir um novo Reino Unido a Portugal e querer fazer esse Reino
retroceder à condição de colônia. E esse jovem regente conseguiu realizar o que
Tiradentes sonhou como o destino nacional, dando, finalmente, aos brasileiros a
liberdade que anima as pátrias.
E
assim, ficamos livres, mas esquecemos o caminho trilhado. Também não pensamos sobre
o significado de República. Não daquela que os inconfidentes imaginaram
naqueles dias do século XVIII, mas inspirada pela mesma alma de liberdade e de
cidadania que naqueles dias os inspirou. Sem isso não se conseguirá enfrentar
com sucesso os desafios de hoje, o entendimento de que República é um Estado
para todos, que exige reduzir a enorme diferença social dos cidadãos, que pede
uma educação para a cidadania que está longe de ser contemplada nesse projeto
horroroso de reforma educacional em implantação, que pede que cuidemos melhor
uns dos outros em benefício de todos. Numa República verdadeira faz pouco
sentido a despreocupação com outros cidadãos.
Voltar
a Tiradentes e ao sonho de uma República livre, o que não tem necessariamente a
ver com o sistema de governo como bem explicou Kant, mas com a construção de um
espaço de liberdade responsável, moralidade pública, fortalecimento do estado
de direito, liberdade de expressão, memória cívica, trabalho sério e
fraternidade nacional. Todos ideais a serem cultivados, ideais a serem
buscados, ideais a inspirar a luta diária e estímulo para vencer os problemas
que a vida renova diariamente.