sexta-feira, 5 de abril de 2024

NEM CIÊNCIA, NEM FILOSOFIA PODEM PROVAR A EXISTÊNCIA. Selvino Antonio Mafatti





NEM CIÊNCIA, NEM FILOSOFIA PODEM PROVAR A EXISTÊNCIA. Selvino Antonio Mafatti

Desde os tempos mais remotos o homem quer vislumbrar a face de Deus. Atualmente pela ciência e no passado pela filosofia. A constatação geral é que todos os povos de todos os tempos e lugares apresenta uma ideia de um ser superior. A única exceção conhecida é um povo do Amazonas, os Pirahãs. Eles não têm nem passado, nem futuro, nem números e nem crença religiosa. Este povo conseguiu “converter” um missionário, o americano Daniel Everett, que se tornou ateu com a convivência.

Na idade antiga e média prevaleceram as provas da existência de Deus de cunho filosófico. Na antiguidade Platão e Aristóteles, por serem pagãos desenvolveram a ideia de um ser superior. Para Platão Deus é o artífice do mundo, através da teoria do mundo das ideias. Diversamente para Aristóteles, Deus é o primeiro motor isto é o impulso do primeiro movimento.

Santo Agostinho descobre a Deus através da fé. Segue o método dedutivo:primeiro eu creio, depois explico”. Já Santo Tomás encontra Deus através das cinco provas, de caráter indutivo. Deus é o Ato primeiro e o Motor inicial.

Na metade do século passado impôs-se a teoria da origem do universo através de uma explosão, o Big Bang. Alguns apressados tentaram logo interpretar a narrativa bíblica do Gênesis. A Igreja católica inicialmente tergiversou, mas venceu a tentação, abandonando a crença de alguns. Hoje os teólogos admitem a possibilidade da existência do universo antes do Big-Bang. Atualmente há um consenso de não se buscar verdades de fé na ciência. Em outros campos do saber pode ocorrer um diálogo fecundo, mas não na fé.

Mas a persistência no erro continua, agora através das constantes físicas, massa das partículas elementares com uma constante cosmológica. Elas são a descrição física do universo. Num total de vinte e seis as principais são :

Constante de Planck

Constante gravitacional universal

Constante de Faraday

Constante Pi

Não tentaremos explicar cada uma, pois foge a nossa alçada. Da constatação de que se estes valores fossem diferentes este mundo como é, não existiria, seria concluir mais do que as premissas. Fenômenos como o nascimento de estrelas, a biosfera como a conhecemos, a expansão do universo, tudo seria diferente se não fossem as constantes. Concluir, porém, a existência de Deus pela existência como são as estrelas, árvores, montanhas, pessoas seria ir longe demais. O argumento lógico a posteriori: Post hoc ergo propter hoc: depois disso, portanto, por causa disto. É a argumentação do Design inteligente.

Por isto, por enquanto, nem ciência, nem filosofia provam a existência de Deus.

domingo, 31 de março de 2024

Amor cristão . José Mauricio de Carvalho

 



Um dos autores mais perturbadores de nosso tempo é o sociólogo e filósofo polonês de origem judaica chamado Zygmunt Bauman. Ele descreveu o nosso tempo a partir de um conceito que elaborou e que o sintetiza em duas palavras: modernidade líquida. Com ele quis expressar que vivemos dias de uma crise cujas características mais marcantes são: a instabilidade e adaptabilidade das instituições e relações pessoais circunscritas às situações imediatas. Depois de difundir em Babel uma tese controversa que é a necessidade de se chegar a compromissos morais, mesmo quando não se tem um sistema ético disponível, Bauman voltou ao assunto em 2008, quando publicou A ética é possível num mundo de consumidores? (Edição brasileira é da Zahar, de 2011).

O pano de fundo dessa obra é a mesma indagação de uma outra intitulada Vida em Fragmentos, sobre a ética pós-moderna, livro de 1995, igualmente traduzido pela Zahar, em 2011. Ali o intelectual se indaga: é possível uma ética no mundo que vivemos? O pensador diz que vivemos num tempo onde as mudanças rápidas, intensas e profundas não param de surpreender. Esse mundo não oferece garantias de que as coisas terminarão à tarde como começaram o dia. E aí também temos algo já dito em livros anteriores (BAUMAN, 2011 b, p. 8): “planejar um curso de ação e se manter fiel ao plano, esta é uma empreitada cheia de riscos, porque a ideia de planejamento a longo prazo parece muito perigosa.” Enfim, é preciso estar preparado para viver em meio a grande instabilidade, inclusive nas relações humanas.

Os momentos de crise econômica e humana mencionados nos livro acima citados mostraram mudanças na forma de viver da sociedade ocidental de nossos dias. O que descreveu Bauman mostrou que as mudanças na organização da sociedade e suas instituições mudou a forma de viver, inclusive a forma de amar. Por sua vez, o comportamento dos indivíduos também contribuiu para dar nova configuração à cultura. O pensador observou um vínculo entre a vida social nos tempos líquidos, modo como descreve a sociedade contemporânea, e relações afetivas pouco duráveis que hoje observamos. Para ele, homens e mulheres perderam a habilidade de lidar com sentimentos, embora anseiem por um amor seguro e companheirismo não são capazes de sustentar relações intensas e duradouras que são aquelas capazes de oferecer permanência e amizade profunda. Ao contrário, vivem uma espécie de solteirice que consiste em não aprofundar nada e pensar a própria vida de forma isolada e egoísta, fazendo aquilo que lhe dá prazer sem pensar no outro e sem se preocupar com os acordos entre eles.

Portanto, concluiu Bauman, as pessoas de nosso tempo vivem uma contradição, elas dizem aspirar uma relação firme, permanente e densa, mas querem uma vida leve e sem compromissos, sem abrir mão dos próprios desejos em nome desses compromissos, pelo menos os de longo prazo. Não parece haver uma conciliação razoável entre essas expectativas tão opostas. Assim, diante das crescentes dificuldades de relacionamento, as pessoas procuram especialistas em comportamento esperando (BAUMAN, 2005, p. 9): “ouvir delas algo como a solução da quadradura do círculo: comer o bolo e ao mesmo tempo conservá-lo, desfrutar das doces delícias de um relacionamento, evitando simultaneamente seus momentos mais amargos e penosos.” Como se vê trata-se de um paradoxo sem solução possível, mas algumas alternativas de relacionamento frouxo vão ganhando forma nesses tempos líquidos.

O que assistimos crescer em nossos dias é o oposto do amor cristão. É o amor cristão a referência para o diálogo com o que encontramos em nosso tempo, para conversar com as contradições contemporâneas. Não para fazer renascer uma moralidade machista e hipócrita que foi superada pela saída da mulher para o mercado de trabalho e pela liberdade sexual permitida pelo controle médico da gravidez. Portanto, não se trata de desconhecer o mundo que está aí e suas exigências, nem transformar o cristianismo numa espécie de teoria da prosperidade econômica, o que ele não é, mas para encontrar nos ensinamentos de Jesus as bases de um amor que resiste ao imediatismo, inconsequência e desejo desenfreado por prazer. Um amor que não deseja mais que fazer o bem, como ensinou Agostinho de Hipona. E o que do Profeta de Nazaré ouvimos? A necessidade de amar os outros como a si e a Deus. Uma forma de amor que nunca deixou de considerar as fraquezas e limites humanos, mas sempre acreditou na possibilidade de uma entrega e responsabilidade que viesse do melhor que o homem pode fazer. Um amor balizado nos mandamentos de Moisés, que se concretiza em cada ato para o outro. Um amor que se fosse vivido assim traria uma antecipação do céu na terra e espalharia aqui o Reino que o Pai projetou para seus filhos. Isso porque Deus é amor e todo amor no fundo significa um encontro com Ele. E aqui ainda vive o homem no amor familiar, no amor que pensa no outro, que se entrega ao companheiro ou companheira, que se realiza no abraço do filho, que se alegra no sorriso dos netos e descobre na confiança e nessa entrega o melhor da vida. O melhor de uma relação que começa no tempo, tem limites em nossas necessidades terrenas, mas se projeta na eternidade. Sim, quem ama cresce como pessoa, nesse mundo e depois de nossa estada aqui.

 

Postagens mais vistas