sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Nação e esperança. José Mauricio de Carvalho – Academia de Letras de São João del-Rei



Agora que se inicia novo processo eleitoral e que nosso quase infinito número de partidos se preparam para disputar o poder nos três níveis (municipal, estadual e federal) parece momento de lembrar que somos um povo, com um grande território, com grande população e inúmeras possibilidades de progresso se do nosso futuro não destruírem a esperança. O lema de nossa bandeira, assim como a ideia de nação geralmente ficam esquecidos de nossos líderes políticos até a época das eleições. Agora é chegado o momento em que os vemos se dirigir ao povo como se ele fosse tratado como nação e a falar que as legítimas disputas de interesse de grupos não podem prevalecer sobre os interesses maiores da sociedade e lembrar da vocação desse povo ao progresso.
É essa mesma classe política que estabeleceu para si privilégios que não se estendem nem aos demais funcionários do Estado e nem ao povo em geral que agora proclama que todos são iguais e igualmente importantes. É essa mesma classe política que legitimou o caixa dois como forma de atualizar a relação promiscua entre as elites econômicas e políticas que agora fala de trabalhar pelos mais pobres. É essa mesma classe política que inviabiliza qualquer governo que queira buscar os interesses nacionais, colocando antes deles seus mesquinhos interesses partidários ou individuais, que trouxe do céu para o inferno a máxima franciscana do é dando que se recebe. É essa mesma classe política que estabeleceu os mais tristes tempos de corrupção que agora se apresenta como diante do povo como gestores eficientes e probos. Creio que a sociedade saberá dizer a eles que basta, queremos outras pessoas como queremos outras práticas. Não haverá progresso se tivermos que pagar por duas pontes e receber uma, se tivermos que conviver com políticos roubando merenda e funcionários desviando remédios. Não se forma nação sem sentido moral. Não se vota em candidatos denunciados e envolvidos com práticas ilícitas.
O desafio de escolher novos governantes é difícil porque não basta trocar ladrões ou colocar no poder novos capachos do capital internacional e nacional, cujo interesse é apenas de aperfeiçoar a ordem econômica exclusora, onde a distância entre os mais ricos e os mais pobres não pare de aumentar. Sempre repito que se pensar como povo, construir uma sociedade menos injusta, não tem nada radical, venezuelano ou de cubano, pois assim entendem os tendenciosos da direita contemporânea e os ignorantes que os bajulam. Embora considere que isso não será alcançado com governos radicais de esquerda.
O maior desafio da República quando precisa escolher novos líderes que a dirija é o de encontrar homens que sejam capazes de pensar os grandes interesses nacionais e liderar a sociedade na sua busca. É esse o grande desafio e para onde deve se voltar nossa atenção nesse momento de escolhe-los. Escolher homens que sejam capazes de mobilizar a sociedade e ajudá-la a se pensar como comunidade, isto é, um grupo de pessoas que tem interesses comuns no fundo dos legítimos interesses particulares, que tenha noção de moral social e de compromisso coletivo.   
Considero que, para nossa realidade atual, isso signifique encontrar dirigentes que estejam a meio caminho entre a esquerda e a direita radical, que tenham um passado isento de processos e acusações, que demonstre conhecimento profundo da realidade nacional e dos seus problemas, que tenha propostas efetivas e claras sobre o que fazer para enfrentar nossas dificuldades (nada como sou pela educação, pela saúde, vou trabalhar pelo povo, etc.). Cobre dos candidatos COMO ele vai fazer isso, COMO operacionalizará seus ideais e COM que recursos. Somente assim poderemos aproximar a esperança da nacionalidade já que andamos distante delas duas.


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