No próximo domingo, dia 14 de agosto, comemora-se no Brasil o Dia dos Pais. Certamente merece uma reflexão nesta data sobre esta pessoa peculiar do mundo de hoje. A primeira pergunta que se pode fazer é: atualmente ainda há espaço para a presença do pai numa família, quando o próprio conceito de família é objeto de debates. Pergunta-se: o pai tem um papel ou uma função específica e peculiar na família? Se hoje o gênero masculino pode até ser dispensado na constituição da família, então, o pai também pode ser descartável? Qual o sentido da paternidade atualmente?
Nas famílias anteriores da presente geração havia fronteiras sociais, laborais e mesmo jurídicas nitidamente demarcadas para homem, mulher e prole dentro da família. Cada um deles tinha um determinado papel social: o marido, em relação aos filhos era pai, do mesmo modo que a mulher era mãe. Entre si eram marido e esposa. Em relação à prole eram pais e a prole em relação ao homem e à mulher eram filhos. E a cada papel correspondiam direitos e deveres. Ao pai cabia principalmente o dever de prover a subsistência exercendo atividades profissionais fora da família e o direito de autoridade, Á mãe o dever dos trabalhos domésticos e o direito a uma autoridade coadjuvante do pai (olha que eu conto para teu pai!). Aos filhos cabia cumprir as ordens emanadas de ambos e direito ao abrigo da família. Era a família sociologicamente chamada de parental, constituída pelos pais, sogros, sogras, filhos, sobrinhos, primos e netos. Era um modelo de família que tinha como parâmetro a consangüinidade.
Neste modelo o pai era a figura central, investido de autoridade, podendo exigir obediência irrestrita dos filhos e em alguns casos até da esposa. (“Mulheres, sede submissas aos vossos maridos”, “Filhos, obedecei a vossos pais” e “maridos, amai vossas mulheres”) Caso sua autoridade não fosse respeitada era-lhe facultado, inclusive, usar a força para que fosse obedecido. Esta autoridade estendia-se aos parentes de menos idade como sobrinhos e netos, junto com seus pais.
E atualmente? A família encolheu em extensão, limitando-se praticamente ao núcleo de pais e filhos. A conjunção de dois gêneros também deixou de ser essencial, ao menos perante a lei. Há uma tendência a aceitar outros pontos de apoio, tal como a afetividade empática, sendo permitido até mesmo entre pessoas do mesmo sexo. Não significa que seja generalizado e muito menos definitivo, apenas tendências que são acolhidas pelo direito, como o reconhecimento de casamentos de homossexuais, os quais poderão constituir família. No entanto, em que pesem estas tendências, o núcleo padrão da família no ocidente continua sendo a família nuclear, conforme demonstram os institutos de pesquisa sociais, como o IBGE no Brasil.
As mudanças afetaram os papéis e as funções atribuídas aos atores dentro família, mormente as do pai? As transformações a cima mencionadas praticamente em nada influíram, mas outras foram decisivas. As pesquisas apontam para as mudanças de papéis da paternidade provocadas pelas mudanças das novas funções da esposa. Esta começou a trabalhar fora de casa, ter horários a cumprir, ombrear com o orçamento, ter participação decisiva no patrimônio familiar. A esposa-mãe invadiu a área do marido-pai. Para compensar houve um movimento inverso, isto é, o pai invadiu a área que antes era exclusivamente da mãe: o lar. O pai então, além das atividades profissionais, passou a exercer papéis domésticos, como cuidar da casa e tomar conta das crianças. Antes recebia as crianças “prontinhas” à noite, bastava dar-lhes a bênção. Agora tem que trocar e lavar fraldas, conversar e brincar com elas, passear, levar e trazer brinquedos, deixar as crianças arrumadinhas para quando a mamãe chegar. O pai então teve que “mãezar-se” ou mesmo “babanizar-se”. Suas atitudes também mudaram. O autoritarismo foi substituído pelo diálogo. A intolerância pela compreensão. O rigor pela negociação.
No entanto, o pai dentro da família continua sendo a figura de balizamento do permitido e não permitido. Exige-se dele a delimitação de fronteiras. Agora sua autoridade não é mais física, mas moral. Deve exigir não pela força, mas pelo exemplo e convencimento. E isto o coloca numa posição paradoxal, pois, ao mesmo tempo deve exercer a autoridade de balizamento de condutas e praticar “o faz de conta” ou brincar de condutas. Ser padrão e exigir, mas também brincar. Em outras palavras, ser ao mesmo tempo pai, mãe e filho. Este é o modelo atual de Pai: PRESENTE.