O catolicismo , e algumas religiões cristãs como a Igreja
Ortodoxa, a Anglicana, a Luterana, tem um período de seu ano litúrgico
denominado Quaresma, cuja origem etimológica é Quarenta.
O cristianismo se alicerça sobre três grandes pilares: o
pecado/culpa, redenção e o perdão. Dentre eles o mais problemático é o pecado
por que gera a culpa coletiva e hereditária da humanidade. O pecado original. Exige
arrependimento individual e coletivo para obter o perdão. Só com isso se
restabelece a ordem na sociedade. Mas o que é a culpa original. É uma crença e
sentimento coletivo de perda. O cristianismo apresenta como causa o pecado dos
primeiros seres humanos. Prudentemente apresenta um corte da história humana: a
presença da razão. Um “antes” e um “depois”. Evidentemente não há uma
autocritica mais profunda do surgimento da razão. Foi instantâneo? Como a
intervenção direta de Deus, pintada por Miguel Ângelo, em um Adão descansando
no cotovelo do mapa do Brasil recebendo o elã espiritual do Deus da velha
Europa?
Contudo subsistia o problema do mal. No início da Idade
Média, um bispo, Santo Agostinho de Hipona, enfrenta a questão do mal. E a
conclusão é que a causa do mal é o pecado e este tem uma origem inerente à
natureza humana, é originário à natureza. No entanto, contrariando Pelágio, é
necessária a graça de Deus. Não bastou o sacrifício de Cristo.
E o pecado cometido por culpa de quê? Que pecados
poderiam cometer? Desobedecer a Deus? Pobres humanos! Coitados! E mais: uma
culpa colossal que passa de geração em geração. Se não deveriam provar do
fruto, senão conheceriam o bem e o mal, como poderiam fazer bem ou mal antes da
desobediência, sem conhecer o bem e o mal? O problema está nisso: se a causa de
todas as culpas é a primeira culpa da qual não há culpado porque então culpado?
Os personagens no ato do Pecado original: Deus, Adão e Eva, a serpente, o fruto. Desenvolvimento. A serpente insta Eva a provar do fruto, ela aceita, oferece a Adão este também aceita. São flagrados por Deus nus, são expulsos do Paraíso devem trabalhar sofrer e morrer. A Salvação acontece com Jesus que se oferece em sacrifício para o perdão do Pecado Original e os demais pecados.
Até mesmo a Igreja demorou para reconhecer o Pecado Original: século XVI d.C, no Concílio de Trento.
Este é o pecado original, origem da vulneração da
natureza humana, da dor e do mal no homem e na sociedade. É um pecado de raiz,
transmissível e geral aos seres humanos. O homem não se faz pecador, nasce com
o carisma: “minha mãe me gerou em pecado”, diz o Salmo 51. Além disso, o pecado
original é fonte de todos os demais pecados.
A questão é que o problema está invertido. Em vez de
partir da hipótese do pecado (culpado), se deveria partir da virtude (inocência).
Quem disse que somos maus, pecadores? Com certeza não foi Deus! Muito menos o
sexo é algo repugnante.
Não existe nada para perdoar. Tudo que Deus fez é bom. Ele viu que tudo era bom. Foi uma obra perfeita, em que pesem as paixões e incoerências, mas superadas
com livre arbítrio. Será que Deus deu o livre arbítrio como armadilha para
induzir o homem ao pecado e condená-lo? Não se esconda de Deus. Sua nudez não é
má. Não precisa ir longe para encontrá-lo. Ele está dentro de nós.
Diz o filósofo Baruch Spinosa:
‘Pare de me pedir perdão! Não há nada a perdoar. Se eu o
fiz, eu é que o enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos,
de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio. Como posso culpá-lo se
responde a algo que eu pus em você? Como posso castigá-lo por ser como é, se eu
o fiz?”