No Brasil, ora se pensa em eliminar a sociologia do
currículo escolar, ora se quer incluí-la. Surge agora uma nova dimensão para
ela: o potencial crítico alternativo, proposto por Sygmund Bauman, (1927-2017). Isto, evidentemente, em vez de acalmar os
ânimos os acirra ainda mais, pois esta postura pode justificar várias
aplicações concretas.
Este “alternativo crítico”, explicita um futuro que está
potencialmente no presente e que pode ser antecipado do que ocorrerá no futuro.
A partir daí, não se nega o que os antecessores refletiram, mas implicitamente
os absorve. Desde os sete pilares, quais sejam, Montesquieu como precursor,
Comte o verdadeiro pai, inclusive lhe dando o nome, Marx na busca do móvel
social, Tocqueville identificando o conteúdo social, Durkheim encontrando o
fato social, Pareto a lei dos pouco vitais, e o sociólogo por excelência, o
antomásia da sociologia, Weber.
A estes seguem-se: de Georg Simmel a Theodor Adorno, de
Norbert Elias a Charles Wright Mills, de Leo Löwenthal a Marshall McLuhan, sem
deixar de citar Zygmunt Bauman com seu conhecimento subjetivo, confrontando-se
com Weber que tanto prezava o conhecimento racional objetivo, inclusive nos
valores. Mas a proposta de Bauman não é nem objetiva nem subjetiva, mas ambas.
É a objetividade da subjetividade.
Em Bauman estão presentes o olhar peculiar sobre a
Sociologia de cada um de seus antecessores. Nenhum está errado, mas também
nenhum deles por si só é completo. Cada um apresenta mais um ponto de vista,
que no conjunto se completa.
Façamos um exercício “do alternativo crítico” da
atividade econômica do futuro. Se nos fixarmos atualmente numa fábrica, podemos
constatar que a mão de obra humana sofre uma diminuição sempre maior, mas nem
por isso diminui sua produção, aliás, aumenta. Com este dado - mão de obra
humana sempre menor - podemos prever sociologicamente que no futuro não haverá
mais mão de obra humana na fábrica, mas que continuará produzir sempre mais.
Desaparecerão os seus trabalhadores? No sentido presencial de tempo e espaço,
sim. Quais as alternativas a esta tendência? As fábricas serão construções fantasmas
movidas à distância. Os robôs substituirão a mão de obra humana. Há os que
controlam os estoques. Há os que
controlam as máquinas de fabricação que o fazem por controle remoto podendo
estar em casa ou em lugares de lazer. Há os que vendem em contato direto com os
compradores e com a mínima manifestação deles, acionam suas máquinas para
colocarem onde o comprador quiser. Os pagamentos são automáticos. A mão de obra
humana não desaparece, mas se torna invisível.
Ela está presente Google, do Face- book, no YouTube, do
Twitter, no Flickr, do Linkedln, da Netflix, no Maps, no WhatsApp e tantos outros, como time top, Windows, Office, World, Explorer,
Podcast, software, wi-fi, Bluetooth. O ser humano está ausente física e
temporalmente, mas presente virtualmente nestas ferramentas.
A este mundo, conforme Bauman, podemos chamar de
sociedade liquida na qual as relações são voláteis e volúveis, falta-lhes liga,
pois como surgem também desaparecem. São
paisagens de nuvens visíveis só por instantes para em seguida desaparecerem.
Poderíamos nos perguntar como conviver humanamente num
mundo deste? A resposta seria dada por Bauman pela nova dimensão da sociologia.
Qual a nova dimensão?
Descobir e construir alternativas possíveis, sem
renunciar aspectos da realidade, quer visíveis, quer ocultos, mas desagradáveis
aos indivíduos e à sociedade. Em parte é um resgate quase perfeito de Comte que
propunha estudar a sociedade para fazer os indivíduos felizes.
Para Bauman, eliminar os espinhos poupando as rosas.