Quando Robson Braga de Andrade, presidente da
Confederação Nacional da Indústria, em reunião com o Presidente Michel Temer,
no dia 8 de julho, sugeriu 80 horas semanais para os trabalhadores, causou, em
alguns, revoltas, em outros, deboche, provocando piadas de toda sorte e
ironias.
Acontece que Robson não só estava falando sério como
demonstrou ser um líder com visão dos
novos cenários econômicos que se vislumbram para o século XXI. Senão, vejamos.
Ainda como movimentos esparsos, em todo planeta
assistimos a emergência de um tipo novo de consumidor, um novo padrão. Estes
novos consumideres exigem dos governantes que levem em consideração nas
políticas públicas, durabilidade do desenvolvimento, sua sustentabilidade, a
preservação da biodiversidade, a saúde pública, a proteção do patrimônio
vegetal e animal, tendo presente os interesses das futuras gerações. Por isso
condenam a delapidação dos recursos naturais e sua exploração desenfreada. Na
esteira desta tendência reivindicam uma produção de qualidade e mais barato.
Para tanto se organizam em grupos de pressão, posicionando-se um contra o
poder. Querem uma melhor qualidade de bens e serviços, mas sempre levando em
consideração a natureza do trabalho e o tipo de energia utilizada no processo
produtivo.
Esta nova atitude só foi possível graças à democracia
mais ampliada, fora dos moldes da estritamente representativa. A sociedade se
organiza pela base, através de grupos, associações, ONGs. O governo não é mais
aquele que fala à sociedade, mas o inverso: é a sociedade organizada que fala
ao governo o que quer e como quer. E o que quer? Uma economia de qualidade e
sustentável.
Concomitante a este fato novo sócio-político, a economia
pós-industrial do século XXI está apta a engendrar novas formas de organização
das atividades econômicas e mobilização do trabalho. Com efeito, as inovações
tecnológicas, impulsionadas pela revolução numérica dos negócios e, é claro,
pelas economias já capacitadas em produzir mais, melhor, durável e mais barato.
O custo será de sempre menos mãos de obra, exigindo sempre mais qualificação.
Deste fato o assalariado do século XX está prestes a se
extinguir e ceder lugar a novas formas de organização do trabalho. Assim, os
modelos de emprego consagrados por salário fixo, um emprego vitalício, empregos
estáveis prevendo uma carreira dentro deles, de tempo integral, fornecendo a
maior parte da renda familiar, dependendo de um só empregador, exercido num
lugar específico, atribuído individualmente, estão em fase de serem substituídos
por outras relações profissionais. Há, inclusive, economistas e pensadores que
preveem o fim do assalariado típico, com local e horário como Jeremy Rifkin, (La Fin du Travail, Editions Dalloz,
Paris, 2006)
Agora, as novas relações serão substituídas pelo autoemprego,
pelo trabalho autônomo, pela atividade múltipla, trabalho domiciliar,
trabalhado online, emprego com tempo parcial, regidos por contratos temporários
ou por tarefas. Poder-se-ia fazer uma analogia com uma propriedade rural média
na qual o proprietário trabalha e gerencia ao mesmo tempo. As atividades do dia
ou da semana são determinadas pelo proprietário. O que plantar e quando colher
fica a critério dele mesmo. O tempo e as horas de trabalho, o descanso, sono e
lazer são escolhidos por ele. Na prática
as pessoas trabalham vinte quatro horas por dia, mas também podem ter lazer de
vinte quatro horas. Elas mesmas optam.
A primeira consequência deste fato é da impossibilidade
de realizar concomitantemente o pleno emprego e o crescimento. De outro lado,
haverá a dissociação de seus locais de trabalho. Diante disso, extingue-se a
relação automática de crescimento com volume de empregos. Ambos poderão dar-se
independentemente um do outro.
Neste cenário evolutivo- ou por que não revolucionário? –
a luta contra a falta de trabalho se tornará mais complexa. Esta atingirá
regiões com maior explosão demográfica e menor naquelas com menos aumento
populacional. De um modo geral se poderia prever que será menor ao norte do
planeta que no sul até 2050.
Diante disso se vislumbra diversas situações: crescimento
sem criação de empregos, um crescimento com a destruição de empregos e de outro
um crescimento com geração de empregos.
Diante disso, as novas gerações devem estar preparadas
para esta nova estrutura econômica que, bem ou mal, inexoravelmente vem aí. E
por isso é de se perguntar: oitenta ou cento e sessenta e oito horas
semanais? É a pergunta.