Há na Bíblia um lindo texto onde Rute fala para Naomi que
a seguiria. Onde você estiver aí estarei (Rt. 1,16): "Não insistas comigo
que te deixe que não mais te acompanhe. Aonde fores irei, onde ficares ficarei!
O teu povo será o meu povo e o teu Deus será o meu Deus!”
O que há de especial nas palavras de Rute é que quem faz
a experiência com YHVH e O descobre como um Tu, não encontra outro lugar melhor
para estar. A expressão Tu para designar Aquele Outro que contemplo e que me
contempla, não por eventuais belezas que eu tenha, virtudes, utilidades ou
qualidades que eu possa ter, mas que me sonda como sou e, apesar de meus
vazios, me deixa vê-lo em si mesmo é alguém especial, uma pessoa. Se essa
Pessoa for Deus, esse será o maior encontro de nossas vidas.
Uma das mais criativas análises e comentários sobre as
relações pessoais encontra-se no livro escrito por Martin Buber intitulado Eu –
Tu, (1923). A primeira parte da obra descreve as relações humanas, resumindo-as
em dois pares de vocábulos. Os dois pares são respectivamente: Eu-Tu e Eu-Isso,
sendo o Isso substituível por Ele ou Ela. Para Buber, quando se fala Tu ou
Isso, pronunciam-se palavras-princípios, que resumem todas as relações
possíveis aos homens.
A expressão Eu - Tu exprime, nessa descrição, o encontro
íntimo ou mais estritamente a relação com o inobjetivável. Nesse sentido, nesse
encontro é imprescindível a presença e a relação e não sobrevive sem elas. O
que permanece sem a presença é o Objeto que não é duração, coisa pensada,
fixidez, interrupção, ou ausência de relação. E aqui se manifesta o aspecto
nuclear do caráter relacional do homem, as relações Eu - Tu, na ausência do Tu,
se mudam em Eu - Isso, o que significa que aquilo que ficou depois da presença
foi uma representação de algo que é dinâmico, indizível e inatingível.
Quando a relação perde as características próprias do
encontro Eu-Tu, o Outro da relação deixa de ser Tu para tornar-se Isso. Como
nem sempre o processo é linear o mundo, às vezes Deus, aparece na duplicidade,
ele é Tudo, Ser, o que não se objetiva, mas pode ser objetivado. A totalidade
ou Deus é quem (p. 71): "confronta, mas sempre como uma presença e cada
coisa Ele a encontra somente como presença, aquilo que está presente se
descobre a Ele no acontecimento e o que acontece, se apresenta a Ele como
Ser". E, assim, na relação com o Tu surge o amor, pois o amor não se
manifesta quando o que se pretende é experimentar, aproveitar, gozar e
utilizar, os modos do Isso que é o tipo de relação objetiva, de posse,
utilidade ou qualidade. A relação com o Tu tem características únicas e
especiais que podemos resumir em: imediatez, reciprocidade, presença,
totalidade, estar além do tempo e do espaço, fugacidade, não se tornar objeto.
Assim, nesse tempo de natal, o melhor presente é um
encontro com Jesus de Nazaré, descobri-lo num encontro Eu – Tu. O frágil menino
do presépio foi Alguém que, mais que qualquer Outro, fez com Deus (Pai) um
encontro Eu – Tu. Aquele menino cujo nascimento foi descrito tão singelamente
por Lucas Lc. (2, 6-7): “Enquanto estavam lá, chegou o tempo de nascer o bebê,
e ela (Maria) deu à luz o seu primogênito. Envolveu-o em panos e o colocou numa
manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria” é a mesma Pessoa
que chamava JHVH de Pai. Pai é o parceiro de um diálogo de eterno amor. Isso
fica claro quando a criança do presépio, ao ser batizada, Dele ouviu (Mt.
3,16): “Este é meu Filho amado, em quem muito me agrado”.
E, assim, nesse advento de tempos líquidos e mentiras
gerais que povoam as redes sociais, que Deus o livre de transformar Jesus num
Isso para Dele se valer em negócios e mentiras. Porque o menino que veio trazer
a salvação é causa de condenação para os que mentem sobre Ele e sobre os planos
do Espírito Santo de Deus.