Em 9 de junho deste, apagou-se para este mundo o sociólogo francês Alain Touraine. Mas o legado que deixou foi enorme.
Um olhar sobre o mundo atual constatam-se diversos movimentos sociais reivindicatórios. Estes movimentos são caracterizados pela forma pacífica que atuam. Abrigam pessoas de todas as categorias sociais, status, classes, estratos. Não se pode dizer que haja um racha social dividindo pessoas, grupos ou populações. A participação nesses movimentos é livre tanto para entrar como para sair. Podemos citar movimento das mulheres para as igualdade com os homens e parte do mundo árabe, os movimentos de protestos contra a reforma na aposentadoria na França, movimentos políticos em diversos países da América do Sul pela democracia, movimentos feministas como LGBT, movimentos religiosos, movimentos negros, movimentos políticos conservadores e progressistas, movimentos pró-ambiente e outros.
Isto é possível atualmente devido em parte a Alain Tourraine, sociólogo francês. Em Touraine os conflitos de classe e acordos políticos constituem o fermento da ação social.Para ele, a América Latina possui um problema sócio-político comum: Estado, Sociedade e Sistema político estão misturados, devido ao nacional-populismo. Os líderes políticos latino-americanos, no afã de afastar as rupturas impostas pelo modelo desenvolvimentista importador, rupturas que poderiam provocar desagregações no modelo tradicional, encetaram uma ação de controle coletivo. Para tanto, os políticos lançam mão do Estado para impor sua autoridade.Com certeza a importação de tecnologia e capitais externos criaria novos atores políticos, ou outra elite, a qual competiria com a que mantém o "status quo", ameaçando seus privilégios e mesmo sua legitimidade política. A modernização do país necessitaria de novos líderes, que estivessem familiarizados com a nova tecnologia e mesmo ambiente sócio-político mais amplo, senão global. Ora, isto colidiria de imediato com a classe política tradicional. O apelo se faz, então, no sentido de que as classes menores favorecidas e a que mais sofre com as importações, se defendam da proletarização. A elite política tradicional demagogicamente assume a defesa dos indefesos, da cultura popular, das tradições da nação. Mas para chegar a tal desiderato é preciso canalizar a força do Estado em prol da causa. Daí que o sistema político é moldado instrumentalmente para conseguir seu objetivo, qual seja, construir uma fachada popular para evitar o controle popular. O controle que a sociedade deveria manter sobre a classe política, é transformado em apoio popular. E como a classe política é a timoneira do Estado, a confusão está concretizada. A forma de burlar o controle é feita pelo apelo direto ao povo, driblando as formas de representação. Para a tarefa discursiva de convencimento, são chamados os intelectuais, os quais não só emprestam sua sabedoria, como se locupletam também das benesses do Estado. Após o domínio do Estado, a classe política organiza as instituições de conformidade com seus interesses. Todo o conjunto institucional pauta-se pela defesa dos interesses ditos nacionais. Num sistema desses, o conflito é visto com ojeriza, uma verdadeira anomalia. Os conflitos de classe não fazem sentido em tal sistema. Aos conflitos são contrapostos valores nacionais, os quais neutralizam os conflitos.
Por isso a ação é no sentido
de visar à integração da coletividade nacional, de identificar povo e poder
constituído. Nesse sentido são antioligárquicos, antielitistas e igualitários.
A classe política, em regimes nacional-populistas, não se preocupa com o
desenvolvimento, embora o discurso o proclame, nem com a superação das
estruturas arcaicas, embora se proclame de progressista.
Em síntese, conforme
Touraine, um regime nacional-popular caracteriza-se por um Estado guardião da
nacionalidade, contra a invasão bens e cultura estrangeira; por instrumentos
políticos e sociais de controle social; pela promoção da cultura nacional e
popular.