Acaba de ser lançado o livro, The Impulse Society, de Paul Roberts, o qual tece críticas à
sociedade atual caracterizada pelos impulsos. Para ele, esta situação é tão
dramática por que houve uma conjunção entre os impulsos individuais e o
mercado. Se alguém manifesta um desejo individual o mercado imediatamente se
apresenta para satisfazê-lo.
O impulso a que se refere Roberts é o consumismo.
Evidentemente que há diferença entre consumo e consumismo. No primeiro, as
pessoas adquirem somente o que é necessário no presente ou no futuro. No
segundo, as pessoas gastam excessivamente com produtos supérfluos, levados na
maior parte das vezes pela propaganda. Quando as pessoas ou uma sociedade
inicia o processo de consumismo entra num estado de compulsão e torna-se
patológico. Compra tudo o que vem pela frente, até mesmo o que não precisa. A
compulsão altera o caráter das pessoas e muitas vezes furtam ou roubam para
exibir que possuem determinados produtos e aparentar status.
A explicação econômica – existem outras – pode ser
localizada historicamente na Revolução industrial. Esta possibilitou a
fabricação em massa e em série de produtos, popularizando-os e ao mesmo tempo
barateando. Mas isto também só foi possível devido à ideologia liberal que
individualizou os desejos. Não era mais a Igreja, o senhor ou o Estado que
dizia o que cada um precisava, mas cada um individualmente ditava suas próprias
ordens e escolhia o que gostava. A Revolução industrial, juntamente com uma
sociedade liberal, deu origem a uma economia capitalista que precisa produzir
sempre mais, consumir sempre mais, ad infinitum.
Para isso, juntam-se à ciência da informação e propaganda
que divulga o que é produzido e mostrando suas vantagens, aumentado e alterando
os efeitos. Já não se anuncia mais um carro bonito, potente, seguro, mas um
carro com uma mulher ou um artista. A imagem foi alterada e sua visão
aumentada. As pessoas humildes, se autoprojetam como gozando de um status de
classe elevada. Engalfinham-se, então, na compra, lançando mão do crediário o
qual leva ao endividamento.
Isto não é bom por que uma economia reorientada para
dar-nos aquilo que queremos se descobre que, aquilo que queremos, nem sempre é
melhor do que necessitamos. Para Roberts nem um capitalismo puro, aquele cuja
ideologia prega que o melhor o é a maior produção combinada com o mais baixo
custo, nem uma estatização plena para se atingir a maior eficiência. Nem uma e
nem outra ser mostraram perfeitas. Evidentemente que só na primeira pode
florescer o impulso, pois quanto maior for o consumo tanto maior será a
produção a qual leva ao menor custo. Numa economia estatizada o poder político
controla o consumo e por isso a impulso não tem como ser mantido.
As grandes empresas capitalistas estão agregando outros
componentes a seus produtos. Já não se vendem mais produtos puros, mas junto
com eles status alimentando os impulsos não só de produtos necessários, mas
satisfações de desejos pessoais como, por exemplo, os melhoramentos tecnológicos
que evitam que num acidente, não só a pessoa não se fira ou morra, mas outras
fiquem livres disso.
O autor sugere que deveria haver uma opção intermediária,
isto é, frear um pouco a massagem do ego em busca de status, mas evitar que a
liberdade seja tolhida. No entanto, isto seria a morte do capitalismo. Pois
este supõe liberdade não só de produzir, como de consumir. Aí caímos novamente no
mesmo problema ou círculo vicioso: produzir/consumir – consumir/produzir. O
próprio Roberts percebe isto.