Na
introdução de O Homem e a Filosofia
destaca-se que o homem se tornou o grande problema para os pensadores do século
XX, isso porque as grandes questões da tradição iniciada na antiga Grécia
relativas à ética, epistemologia e metafísica, disse-o Kant ainda no século
XVIII, somente poderiam merecer uma resposta razoável, dali em diante, se
primeiro se entendesse o homem.
Algumas
reflexões procuraram dar resposta a esse problema nesses últimos duzentos anos.
Recentemente algumas escolas filosóficas realçaram as novidades descobertas e
assim as sistematizaram: o homem, concebido como existente, não se separa do
mundo. Eis o que se diz no livro (CARVALHO, 3. ed., 2018, p. 16): “Não é
possível tratar homem e mundo, ou o velho problema que os gregos pretendiam
estudar, separando um do outro como o fizeram realistas (no mundo Grego) e os
primeiros idealistas (na modernidade). O estar no-mundo ou o ser homem, em meio
às coisas, tornou-se condição para pensar a realidade. E o que isso revela?
Existir coloca o homem numa situação especial que o incomoda, pois ele não
consegue entender perfeitamente o que ele é. Ele se sente perdido na
insegurança de sua vida, incorre em culpas, angustia-se com sua incompletude e
percebe seus limites. Além desses limites individuais percebe-se em meio a
crises da civilização que também perturbam o modo como ele vive. Nos momentos
de crise de civilização crenças e valores são mais profundamente questionados e
o homem se vê com novos problemas. Nestas ocasiões, o que ele deve fazer e como
pensar se torna especialmente complicado.”
Creio
que não é novidade desses estudos, mas também se deve destacar, o caráter paradoxal
da vida humana. O homem é capaz de fazer o melhor e o pior na convivência. De
fato, tanto é possível, nas relações intersubjetivas, suavizar como atormentar
a vida do outro. E isso pode ocorrer entre colegas de trabalho, entre patrão e
empregado, conhecidos e mesmo nos relacionamentos afetivos entre irmãos ou casais.
Nesse
último caso é triste quando uma relação de afeto se degenera em crueldade,
ganância, ou maldade pura e simples. E é assim que relacionamentos, concebidos
para o amor, se tornam um flagelo e mostram o pior do homem. Foi esse lado ruim
que que se mostrou, em forma aumentada, nos campos de concentração da Segunda
Guerra Mundial. Naquele lugar não somente se fez o mal, mas se revelou, em toda
a extensão, o pior do homem, o propósito da destruição, o impulso para a
tortura, a crueldade e o desejo de exterminar.
E somente
o amor é capaz de resgatar alguém desse lado pior. Somente pelo amor podemos
dimensionar nossa face verdadeiramente humana. É o amor o que há de melhor no
homem. E somente no amor se constrói boas razões para viver, justo por isso esse
sentido maior aponta, em última instância, para Deus. Porém cada homem singular
somente se encontra no amor concreto, como tematizou o filme Filho Pródigo nos anos cinquenta,
comentado no livro Delfim Santos e o
desenvolvimento humano.
Naquele
livro se conta a história do personagem Tónio. O personagem, ainda jovem,
deixou a terra onde fora criado, uma vila nas montanhas do Tirol (Áustria). Ele
deixou para traz a família e se afastou de Mabel, seu amor da juventude. Isso porque
tinha que trabalhar e ganhar a vida num outro lugar. Ele foi viver em Nova
York. Ali passou toda vida adulta, mas já velho procurou, no lugar de origem,
as bases para reconstruir sua vida esvaziada de significado e amor. Ali
reencontrou antigos companheiros e um amor de adolescente quase perdido no
tempo. Ele e Mabel redescobriram o amor e, simultaneamente, redescobrem-se ambos
a si mesmos, porque nisso consiste o essencial do filme, uma autêntica razão
para viver não se faz longe do amor. No amor está o melhor do homem.