É ideia corrente entre os partidários da evolução que nosso sistema nervoso central tenha evoluído para incrementar a capacidade de pensar. No entanto, não se pode generalizar, visto que há seres, como as acídias que, ao nascerem possuem um cérebro, com medula espinhal e órgãos sensoriais sensíveis à luz. As acídias conseguem mover-se e o fazem no sentido de encontrar um lugar onde possam fixar-se. Isto acontece pouco depois de nascerem abrigando-se nas rochas ou destroços subaquáticos. A partir deste momento, advém um processo estupefaciente: começam a reabsorver o próprio cérebro, semelhante à evolução ao contrário, voltam ao estágio inferior. A explicação para este fenômeno pode dar-se através da relação entre órgão e função. Finda a função, descarta-se o órgão.
Esta teoria é defendida pelo neurocientista colombiano
Rodolfo Linas afirmando que: o desenvolvimento do sistema nervoso central é
impulsionado para realizar ações e não para pensar. Isto significa uma inversão
copernicana na relação entre cérebro e corpo. Em consequência, não é mais o
corpo que é servo do cérebro, como argumenta o cognitivismo, mas ao contrário, o
cérebro é a ferramenta que permite que o indivíduo possa interagir com o meio.
Com isso o baricentro do conhecimento desloca-se do centro cognitivo para a
ação que o ambiente permite. Levanta-se esta questão a propósito do livro de
Fausto Caruna e Anna Borghi intitulado: “O Cérebro em Ação” (Il cervello in
azione) editado por Il Mulino.
O cognitivismo representava a mente separada do corpo e
do ambiente. A mente desencarnada do corpo que a abriga e desvinculada do
ambiente no qual interage. Pela nova prospectiva pode-se falar em mente
corporificada e aterrada. Esta visão representa um conhecimento integrado com o
corpo através da ação e plasmado pelo ambiente.
Podem ser encontradas raízes desta postura em John Dewey,
através de uma posição pragmática. Nele nossa vida cognitiva não é feita de
representações teóricas, mas de experiências práticas. Na mesma esteira
alinha-se Husserl propondo que o corpo não seja um objeto físico, mas uma e mesma
substância com a psique.
Para explicar melhor o fenômeno costuma-se lançar mão de
duas metáforas: a do sanduiche e a da quiche. A primeira representa o
cognitivismo. As duas fátias de pão são
insípidas se não fosse o recheio e na verdade só o recheio interessa. As duas
partes, a sensorial e a motora que representam o corpo e o ambiente, tem um
papel secundário. O importante é o conhecimento que resulta da interação.
Em contrapartida a metáfora da quiche, uma torta sem
cobertura, recheada de cremes e frutos do mar formam um todo. Não se encontram
relações entre os processos perceptivos, cognitivos e motores de sequência
temporal. Nós não percebemos um fenômeno depois raciocinamos sobre o que fazer
e agimos. Ao contrário os processos são fundidos e integrados. Em vez de
sequência se pode falar mais de circularidade: percepção, pensamento e ambiente
constituem um todos.
Do exposto pode-se concluir que o corpo
não é mais um mero instrumento físico conduzido pela mente, como um robô guiado
por um software. Conforme os pensadores e pesquisadores Caruana e Borghi o
corpo forma uma unidade com a atividade cognitiva que
interage conjuntamente com o ambiente. São simultâneos e não escalonados.
Estamos diante de dois modelos: o tradicional
cognitivismo ou racionalismo e o proposto experimentalismo ou pragmatismo. Ambos possuem fundados argumentos e
resultados comprovados. Pode-se pensar no cognitivismo de modelo francês e o
pragmatismo de modelo anglo-saxônico. Qual deles está na vanguarda? Ambos
caminham pari passu, com resultados surpreendentes para cada um. Ambos exibem conquistas intelectuais em todos
os ramos do conhecimento, físicos ou teóricos.
Não se chegou à Lua e depois foram criados instrumentos para chegar até ela. Ao contrário foram criados meios e depois se alcançou o fim. Mas, antes disso acontecer, houve contato com a experiência, diferente do objeto, que passou a ser teorizada. Com isso foi possível alcançar o objetivo. A partir deste momento o pensamento adquire vida autônoma, vida própria, dispensando a experiência.
Não se chegou à Lua e depois foram criados instrumentos para chegar até ela. Ao contrário foram criados meios e depois se alcançou o fim. Mas, antes disso acontecer, houve contato com a experiência, diferente do objeto, que passou a ser teorizada. Com isso foi possível alcançar o objetivo. A partir deste momento o pensamento adquire vida autônoma, vida própria, dispensando a experiência.