"O riso mata o medo, e sem medo não pode haver fé. Aquele que não teme o demônio não precisa mais de Deus". Umberto Eco.
O Papa Francisco se ocupou dos pecados durante várias ocasiões como na audiência de 28 de fevereiro. Analisou várias ações consideradas pecados pela teologia católica e algumas igrejas cristãs como a ortodoxa e anglicana. A homilia veio a propósito da acusação de alguns membros do clero de se envolverem em atos libidinosos. Talvez o papa quisesse mudar o foto dos escândalos do clero para uma simples reflexão. Conforme ele há dois pecados principais. Mereceram por diversas vezes a desaprovação do papa: inveja e à vanglória. Mas em várias ocasiões faz alusão a sete pecados capitais.
Esta religião se alicerça sobre três grandes pilares: o pecado, redenção e o perdão. Dentre eles o mais problemático é o pecado por que gera a culpa coletiva e hereditária da humanidade a qual exige arrependimento individual e coletivo para obter o perdão. Só com isso se restabelece a ordem na consciência e na sociedade. Do pecado provém a culta. Mas o que é a culpa? É um sentimento individual ou coletivo de uma ação ilícita.
O cristianismo apresenta como causa da culpa o pecado dos primeiros seres humanos. A filosofia se perguntaria: mas culpa de quê? De seres semi-humanos recém emersos da evolução, semirracionais, sem noção de moral? Que pecados poderiam cometer? Desobedecer a Deus? Pobres e coitados humanos! E mais, esta culpa passa de geração em geração. O problema está nisso: se a causa de todas as culpas é a primeira culpa da qual não sou culpado porque então sou culpado?
Este é o pecado original, origem da vulneração da natureza humana, da dor e do mal no homem e na sociedade. É um pecado de raiz, transmissível e geral aos seres humanos. O homem não se faz pecador, nasce com o carisma: “minha mãe me gerou em pecado”, diz o Salmo 51. Além disso, o pecado original é fonte de todos os demais pecados.
O pecado original deu origem aos desvios sociais e a culpa individual. Embora a teologia cristã contrapôs aos pecados as virtudes, a ênfase maior incide sobre os pecados. Não eram as virtudes que brilhavam, mas o lusco fusco dos pecados que davam o rumo do convívio social e comportamento individual. Na vida social não eram os santos que sobressaíam, mas os pecadores. Disso decorreu o paradoxo do pecado: in ligno vincebat, in ligno quoque vinceretur ( -o pecado- vencia na cruz e pela cruz seria vencido).
A Igreja cristã selecionou 7 pecados capitais e as virtudes
1. Com soberba/humildade.
Individualmente é uma pretensão de se considerar superior aos demais. Isto se manifesta no comportamento social do soberbo em relação aos semelhantes: desprezo, arrogância, humilhação. O antídoto seria a humildade que é o agir com simplicidade.
2. Avareza/pobreza
Apego desordenado aos bens matérias, como dinheiro, terras, capitais. O avarento se torna sovina, mesquinho e sórdido. A pobreza não significa a ausência absoluta de bens. A pobreza é um estado de espírito: desapego, simplicidade, frugalidade. Pode existir um pobre avarento como um rico pobre.
3. Impureza/pureza
O cristianismo na idade antiga e média dava ênfase ao ascetismo nas relações carnais. Dizia-se que era preciso submeter os desejos da carne. Por isso, era necessária a renúncia e limitação dos desejos para se alcançar a graça de Deus. A Idade Média encarnou todo este ideal na meta da mortificação da carne. Daí que as virtudes desejadas eram a castidade, abstinência, celibato entre outras.
4. Ira/mansidão
Um dos conceitos mais intensos atualmente é o ódio. É um sentimento permanente contra tudo de mágoa e rancor. Muitas vezes não tem uma causa identificada, pois é uma atitude agressiva permanente. Seu antônimo na virtude é brando, pacífico, meigo. Mostrar-se sempre submisso, acatar ordens de todos não chegará a assustar ninguém.
5. Gula/temperança
É considerado um vício de quem bebe ou come demasiado, embora satisfeito, continua comento ou bebendo ó pelo prazer. Seu reverso, a virtude, é a moderação, parcimônia, meio termo, equilíbrio. Significa também prudência, comedidamente.
6. Inveja/generosidade.
Sentimento doentio de ciúme para com alguém que possui algo que ele não tem e gostaria de ter. A virtude da generosidade se manifesta no desinteresse, fazer o bem sem esperar retorno. Se ninguém se dispuser a querer ser melhor que outros, tirar-lhe vantagens, mesmo despojando-o não haverá maior ou menor.
7. Preguiça/trabalho
É um dos pecados que recebeu maior ênfase do pontífice. O pecado da preguiça é falta de vontade de
trabalhar e não tomar atitude para realizar tarefas ou trabalhos. Deixar tudo
como está. A ética do labor coloca o trabalho como prioridade de vida. Através de um ethos de vida. Nada de gozar a vida
com o dinheiro ganho ou os bens adquiridos. Gastar somente o necessário para
sobrevivência. A orientação é ser prudente e diligente. Afastar a preguiça,
pois tempo é crédito para conseguir graça de salvação. Combate-se a preguiça pelo
trabalho.
A meta do cristão é posicionar-se ao oposto do pecado: sede santos como vosso pai do céu é santo.