Acaba
de ser anunciada a morte do jornalista Santiago Ilídio Andrade, trabalhador
premiado e funcionário da Rede Bandeirantes de Televisão. As entidades de
classe que representam a profissão pressionam as autoridades para encontrar e
punir os culpados. E têm razão na indignação contra os assassinos do jornalista
que devem ser punidos como manda a lei.
Nenhuma
sociedade civilizada pode conviver com o assassinato de seus membros. Todo
cidadão honesto e trabalhador colabora no funcionamento da coletividade e os
membros da sociedade não são isolados em sua liberdade. Embora únicos como
pessoas são partes de entidades e integram grupos sociais que são afetados com
sua presença. O grupo mais atingido, no caso, não foi o sindicado dos
jornalistas com a perda do colega, ou a Rede Bandeirantes que ficou sem seu
cinegrafista, mas a família do jornalista, destruída que foi de forma brutal.
Na família Santiago Andrade não será substituído.
O
jovem Fábio Raposo, identificado e preso, quer agora livrar-se da culpa, como
se sua ação de distribuir rojões e participar do Black Bloc não tivesse sido
fotografada e filmada. Raposo, não
estava ali por acaso, ele já foi identificado em outras manifestações
igualmente violentas no Rio de Janeiro. Com o medo que é próprio nas cidades
brasileiras seus vizinhos mostraram a marca que ele pintou no prédio (mais
essa) em apologia às ações do Black Bloc.
Cidadão pacífico? Manifestação democrática? Não há qualquer consistência na
história que ele contou, não há manifestação cidadã no que ocorreu. O
inesperado é a admiração que revela com o resultado do que fez porque, antes
certo e confiante na impunidade, agora tem contra ele a imprensa brasileira a
cobrar punição das autoridades.
O
certo é que as manifestações que desde o ano passado alastraram-se pelo país,
salvo exceções, não são pacíficas e não são democráticas como ocorrem nas
sociedades livres. Nelas as manifestações são informadas às autoridades, têm
hora para começar e terminar, são acompanhadas pela polícia que está ali para
proteger os manifestantes e assegurar o seu direito de expressar livremente a
opinião. Nada disso ocorre nos atos de baderna explícita e violência
generalizada que aliás já provocou a morte de outras pessoas. Infelizmente não
eram jornalistas e a morte delas não causou a mesma comoção. Elas se tornaram
parte da estatística de violência que todos os dias assistimos consternados nos
telejornais.
Isto
não significa que não exista pessoas realmente interessadas em melhorar o país
e que participaram de manifestações. Contudo, o cidadão bem intencionado já
deve ter se dado conta de que apenas está funcionando como figurante e cortina
de fumaça de atos orquestrados e combinados por grupos políticos radicais e
violentos. Se realmente quer o bem do país tal cidadão já está pensando em
outra forma de fazer chegar seu desagrado às autoridades.
O
que conseguiram Fábio Raposo e seus colegas do Black Bloc foi tirar do foco o
debate sobre o aumento das passagens. Não significa que o aumento não seja
necessário, mas um governo sério deve informar as razões do aumento e ser capaz
de explicá-lo em qualquer instância e cidadãos que usam o serviço coletivo
precisam ser capazes de dialogar e entender os problemas. A imposição pela
força do interesse de um grupo, qualquer que seja, ainda que aparentemente
justo, não é próprio de sociedade democrática e muito menos consiste em
manifestação cidadã.
Espera-se que a morte do jornalista sirva para
que sociedade e o governo reflitam sobre o que está acontecendo no país, pois a
violência não é ato de criação social, não é expressão legítima dos interesses
de grupo, mas um ato de força que desafia o Estado. O que essas manifestações e
a morte do jornalista estão mostrando é que além de funcionar mal: oferecer
serviços ruins, infra-estrutura precária, as autoridades brasileiras não
distinguem liberdade de expressão de imposição violenta de interesses. Não
parece ser para deixar sair livremente os instintos agressivos e violentos que
tanto se lutou pela democracia no país.