sexta-feira, 5 de março de 2021
Becos da Irracionalidade. José Mauricio de Carvalho – Academia de Letras de São João del-Rei
domingo, 28 de fevereiro de 2021
ESPARTA E ATENAS – MAIS SEMELHANÇAS QUE DIFERENÇAS. Selvino Antonio Malfatti.
Eva Cantarella é
professora universitária de direito romano e direito da Grécia antiga da
Universidade degli Studi di
Milano e reitora da
Faculdade de Direito da Universidade de Camerino. Autora de Diritto e teatro in
Grecia e a Roma.
A título de aprofundamento
propôs-se revisar as diferenças e semelhanças das Cidades-Estado de Esparta e
Atenas. Chega à conclusão de que há mais semelhanças que diferenças entre elas
em que pese de comumente se salientar as diferenças.
No rol das diferenças principalmente comandantes
militares costumam chamar a atenção do caráter beligerante de Esparta, como Joseph
Goebbels que se se dizia sentir como numa cidade alemã por que a Alemanha
nazista era a “Nova Esparta”, cidade de conquistadores, capazes de através dos
séculos preservar a raça pura, estes mesmos 6.000 combatentes dominaram os
360.000 mil invasores.
Para Robespierre e os
Jacobinos, os espartanos eram o modelo de virtude cívica, exemplos de sentido
de dever e sacrifício por si mesmos e pela coletividade. Como Leônidas e os
Trezentos, dispostos a imolar-se para defender a pátria dos invasores bárbaros.
Em Stalingrado, nem mesmo
durante a derrota, o marechal de campo Göring, chega a exclamar: "Viajante,
se você for para a Alemanha (para Esparta), diga a eles que nos viu lutar em
Stalingrado (nas Termópilas), obedientes à lei, pela segurança de nosso
povo!"
Afinal, os comunistas não eram os novos
bárbaros, prontos para descer à Europa para destruí-la? E não importa se os
alemães haviam invadido e não os russos, prontos para massacrar a Europa, como
fizeram no Leste europeu?
Quanto Atenas recebe elogios
de toda parte, mas não merece tanto. Dizia Donald Trump hà alguns anos: "Eu
amo os gregos, oh, eu amo os gregos ..."Com ele se encerra a fila de
presidentes e políticos norte-americanos que faziam questão de comparar os
Estados Unidos à Atenas associando-a ao berço da democracia e da liberdade. Na
Segunda Guerra Mundial se associou Atenas aos Estados Unidos e Esparta aos
soviéticos.
A ideia volta a ganhar força
sempre que se deseja exportar a democracia ateniense (norte-americana) para o
resto do mundo. Dizia George W. Bush: "A América não é uma potência
imperial, é uma potência libertadora".
Em tempos mais recentes, tem
sido usado para justificar iniciativas infelizes. A comparação com Atenas volta
continuamente quando se discute a necessidade de "exportar" a
democracia para o mundo.
No entanto, a fama entre
historiadores não é tão louvável. Quando se pergunta, como Atenas tratava seus
aliados, historiadores não duvidam de classifica-los: “como vacas a serem ordenhadas
continuamente”.
Eva Cantarella desmascara em
parte este mito: Esparta igual autoritarismo, militarismo, armas, corpos sadios
para a guerra. Atenas igual à democracia, educação, mente sã para as artes.
Esparta aparece como uma miragem, envolta em brumas de um passado glorioso, com
uma constituição de setecentos anos, mas agora desaparecida. Ao contrário Atenas salienta-se como a cidade
do Partenon e da democracia sempre viva.
Como foi destacado, muitas
vezes predominam estereótipo, chavões, lugares comuns. Um deles é afirmar que
Esparta desprezava a cultura. Os espartanos prezavam o poder da palavra e
valorizavam ir direto ao assunto, sem rodeios e enfeites desnecessários que só
servem para complicar em vez de clarear. É o famoso estilo lacônico dos
espartanos, arte de sintetizar em poucas palavras todo um pensamento que os prolixos
gastariam uma verdadeira verborreia.
A propaganda ateniense foi
eficiente: conseguiu incutir que o estilo lacônico era ignorância. Por outro
lado os espartanos também foram eficientes quando identificaram um estilo
eloquente das mulheres, com os atenienses em superficialidades e discussões de
futilidades.
Na verdade Esparta estendia
a educação às mulheres no momento que as considerava parte do projeto cívico.
Mas teve o preço: a eliminação do espaço privado da família e do indivíduo. Não
havia lugar para laços afetivos entre mães e filhos. Tudo era público e os
filhos não eram da família, mas do Estado.
Cantarella salienta que
ambas, Esparta e Atenas, estavam engajadas num projeto político, diferindo no
modelo: Esparta apoiava-se no Estado e Atenas na sociedade.
No entanto, é
sintomático como espontaneamente as sociedades autoritárias se identificam com
Esparta e as democráticas com Atenas. Os mais paradigmáticos se mostram ser o comunismo Soviético com Esparta e a democracia americana com Atenas.
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