Ainda outro dia li um comentário que o Dr. André Dornelles Dangelo escreveu sobre políticos e filósofos inspirado em Olavo de Carvalho. Não pretendo polemizar com o amigo. Apenas tomei a inspiração para voltar ao tema.
Se for para ouvir filósofos, encontro
melhor inspiração em Immanuel Kant e José Ortega y Gasset. O primeiro o filósofo de Königsberg, que num
pequeno ensaio intitulado Sobre a
discordância entre a Moral e a Política, a propósito da paz perpetua, (Vozes,
1985) esclarece a diferença entre a moral e a política e com a experiência da
modernidade supera a visão grega (platônica) e medieval (Santo Tomás) de que o
dirigente político devia ser virtuoso.
Kant esclarece que se é inocência acreditar que A honestidade é a melhor
política, é adequado assumir que (1985, p. 130): “a honestidade é melhor do
que qualquer política (...), sendo mesmo condição indispensável da política”.
Assim, ao mesmo tempo que descarta o governo de um moralista político (ao modo
de Platão e dos moralistas católicos) já que não se pode ajustar a moral aos
interesses do Estado, por outro lado é necessário o político moral, que concebe
os princípios do Estado e do bem da sociedade fazendo-os coincidir com os
interesses da moral. Desse modo, ele superou definitivamente a posição
maquiavélica de que a Política é espaço contrário à moral, explicando que os
princípios maquiavélicos: faz primeiro e desculpa depois, se fizer negue, divide e impera, etc. são (p. 140): “máximas
políticas que (usadas por nossos políticos) não enganarão ninguém, pois são
universalmente conhecidas”. Assim Kant recompõe as coisas. Se não é possível um
governo de filósofos como queria Platão, também não o é o de um político que
marche abertamente contra a moralidade e as leis.
Por sua vez, Ortega foi professor na
Universidade de Madrid. Ele esclarece que a Política não é apenas espaço do
pensamento, mas da ação. E num pequeno ensaio denominado Mirabeau o el político
(O.C., Alianza, v. III, p. 601-637) mostra que esse personagem da Revolução
Francesa conseguiu, com seu vigor, encontrar um caminho para a crise revolucionária
da França. Por isso, Ortega descarta a presença do filósofo na vida política,
pois o filósofo não é homem de ação. Em política não se pode ser como filósofo
que contempla e analisa atos, quando é preciso agir. E, em seguida, diz (p.
622): “A vida de um grande homem político muda de aspecto no momento em que
começa a atuar como homem público”. Porém, se ao agir o político é filósofo, sua
missão é resolver as crises de seu povo e do seu tempo.
Nenhum dos dois filósofos patrocina a
imoralidade, a corrupção contra os interesses da sociedade. Ou nenhum filósofo
proclama o roubo da coisa pública não importa a ideologia. E ao voltar aos
dois, pretendo primeiro dizer que todos os
políticos corruptos devem ser presos e o dinheiro da propina devolvido
integralmente aos cofres públicos. E para isso os corruptores que os levaram ao
poder seriam os fiadores da dívida e companheiros de cela.
Por sua vez se não enterro a esperança
de um país melhor sei que ele não virá sem algumas condições. Quando a elite
sócio-econômica quis fazer entender que a culpa da crise era do PT, afirmei que
a questão era mais ampla. O PT é parte do esquema, apenas não fazia o interesse
dessa elite queixosa. E agora é hora de dizer, afastar Temer e colocar lá o
Presidente da Câmara ou Senado adiantará pouco. Eleições diretas com as regras
que aí estão não mudará nada: (dezenas de partidos, eleição cara, sem voto
distrital, sem fidelidade partidária, sem uma lei dura contra a corrupção) 1. ou
levará um novo ladrão à Presidência ou 2. alguém que, agindo honestamente, não
governará. Portanto, é preciso acabar com o conluio entre maus empresários e
políticos com uma duríssima lei anticorrupção, fazer novas regras eleitorais
para a próxima eleição direta (que desencoraje a roubalheira) e ter um governo
de transição com especialistas nas respectivas áreas e descolado da atual
classe política. Tudo isso sem fugir da Constituição e do Estado de Direito. Nomes
para liderar esse governo não faltam.