Não há fato mais banal que o
reconhecimento de que a vida humana se tece nos relacionamentos. Essa é uma
realidade decorrente do caráter social do homem. No entanto, quando pensamos a vida
humana como encontro queremos dizer mais do que simplesmente que estamos ao
lado dos outros e que nos tocamos mutuamente. Autores importantes como Ortega y
Gasset e Martin Buber, embora pensem a vida humana diversamente, destacam relevância
da vida como encontro.
Buber pensará o tu como um mundo
próprio, diante de quem é possível estabelecer o encontro. Seu olhar perspicaz
se dirige para o que ocorre no momento do encontro e ele destacará a
importância do que ocorre entre os dois eus, ambos serão moldados pelo entre
que surge entre eles. E ainda mais significativo é o fato de cada Eu descobrir
que esse Tu a quem cada qual dirige a palavra pode ser o próprio Deus. Esse
Deus que Buber insiste devemos chamar de Tu, ou Grande Tu, é o mesmo que Jesus
de Nazaré chamou de Pai. Nesses dois casos o que se destaca é a relevância da
intimidade desse encontro com Deus. E Buber destacará o fato de que num mundo
em que Deus não se mostra facilmente a construção de uma vida autenticamente
humana fica dificultada e a relação com outros homens como Tu fica prejudicada.
O horizonte existencial do homem se limita ao encontro o isso, que é a forma do
pensador se referir às coisas.
De modo semelhante Ortega destacará o
encontro com o Tu na vida pessoal, mas o foco para Ortega não é o entre os
interlocutores, mas a experiência da outra perspectiva na minha vida. Cada qual
vive a própria existência e a experimenta como radical solidão. O que se passa
com o outro é um episódio a que assisto, sua dor de dente dói nele. Posso
imaginar que sofre, mas não posso vivê-la por ele, mas posso me educar assim.
Apenas o indivíduo pode ocupar seu lugar no espaço e apenas ele pode escolher
sua própria trajetória existencial. Sua referência fundamental é a cultura como
a realidade de referência que é capaz de orientar a existência de forma
autêntica pelo balizamento do que o pensador denomina fidelidade ao núcleo mais
íntimo de si e respeito aos outros.
É importante destacar que em ambos os
pensadores o encontro é a base de uma existência autenticamente humana e em
ambos a presença do outro (Tu para Buber e o Nós para Ortega) é anterior à
consciência subjetiva, isto é, à descoberta de nossa vida singular ou de nosso
eu. E assim, num e noutro caso a educação é o elemento decisivo na construção
de uma vida humana, educação não apenas como aprendizagem do funcionamento do
mundo natural, mas educação enquanto preparo para viver em sociedade como
cidadão e para conviver humanamente.
Os esclarecimentos e aprofundamentos
desses pensadores confirmam o que a Psicologia identificou, percebe-se a enorme
importância de encontros pessoais e intensos como parte de uma vida humana. Encontros
que são fundamentais na infância, embora conservem sempre esse caráter
pedagógico. Encontro não significa a destruição de cada eu, mas sua afirmação
diante do Tu, como diz o poeta: “que tenho de ver-te e não te posso ver, de ti
separado por meus próprios olhos; que estás aí sentada, nascida tão totalmente
fora de mim, isso me dói, como dores de parto”. Assim, de um lado é importante
cuidarmos da educação de nossas crianças na formação de sua humanidade, por
outro esse é processo de que devemos sempre nos ocupar. Esses encontros
fundamentais são pautados na ética e no amor, ou em ambos.