A inclusão ou não da filosofia no currículo do ensino
médio nos remete a Aristóteles: devemos ou não filosofar? Se devemos, então filosofamos. Se não devemos, então devemos filosofar
para justificar por que não devemos filosofar. Logo, sempre filosofamos.
Há, no meu entender uma questão de fundo que subjaz na à questão. É aquilo que Montesquieu chama de o “espírito”, Chateaubriand
de “gênio” e Tocqueville de “substrato natural. Um determinado comportamento
não tem necessidade de legaliza-lo quando a sociedade por si mesma o faz. Os
anglo-saxões tem-no na common law, por exemplo, pela qual a tradição é mais
importante que a legislação. No entanto,
há sociedades que necessitam legislar sobre tudo. Para os italianos, por exemplo,
não basta dizer: é proibido. Há que se enfatizar: “absolutamente proibido”. Se
for proibido, então é proibido, mas para eles não basta isso, tem que ser
absolutamente proibido.
Qual a função da filosofia no ensino médio? É ser um
instrumento para a cidadania para as sociedades que não têm o recurso do
“espírito”, “gênio” ou do “natural”. A filosofia, mal comparando, é uma prótese
que determinadas sociedades necessitam para formar cidadãos que os ajudem a avaliar
valores, enxergar as consequências de comportamentos, julgar atitudes e
criticar pensamentos ou ideologias. Diante disso, percebe-se que nem todas as
sociedades necessitam de filosofia para seu ensino médio que, além dos
conteúdos das disciplinas, forma o cidadão. Sociedades culturalmente homogêneas
estariam dispensadas. À medida que sobem
na escala da heterogeneidade cultural, preme a necessidade de filosofia para
sua cidadania. Os anglo-saxões, os japoneses, os hindus não necessitariam. Os
alemães, os espanhóis e franceses precisariam bem pouco. Os italianos e brasileiros,
carecem muito.
Se lançarmos um olhar rápido pelo mundo sobre o ensino da
filosofia no ensino médio, constatamos uma grande disparidade. Infelizmente o debate da filosofia
no currículo básico, na prática recai sobre o problema de custos econômicos,
pois o privado não vai querer pagar mais um professor e o público não vai
nomear mais um. Os ganhos espirituais no investimento não são levados em conta.
Como já frisamos os países de língua inglesa praticamente
não possuem filosofia no ensino médio. Como exemplo, pode ser citado Reino
Unido e América do Norte. Na Rússia a filosofia está ausente no ensino médio,
mas não há uma rejeição explícita. Na Irlanda, apesar da ausência da filosofia
nas escolas acredita-se que ela pode contribuir para formar cidadãos
esclarecidos. No Chile, há uma crença de que a filosofia pode exercer uma
influência positiva no convívio social, pois orienta os adolescentes quanto à
sexualidade, drogas e assuntos relativos a questões existenciais.
Embora em alguns países, como Nova Zelândia, dão ênfase às filosofias nativas, o mais corrente é considerar as filosofias oriundas da Grécia
antiga, Europa medieval, e as filosofias de França e Alemanha como universais.
Nos diversos encontros e colóquios bilaterais entre Brasil e Portugal surgiu a hipótese de que só existem filosofias nacionais, especificadas cada qual pelo seu problema, ou ênfase nas questões específicas. Com efeito, cada país possui uma temática própria que caracteriza sua filosofia como o SISTEMA na Alemanha, o ESPÍRITO na Itália, a RAZÃO na França e assim por diante. No Brasil o pano de fundo é a CULTURA e em Portugal DEUS.
Nos diversos encontros e colóquios bilaterais entre Brasil e Portugal surgiu a hipótese de que só existem filosofias nacionais, especificadas cada qual pelo seu problema, ou ênfase nas questões específicas. Com efeito, cada país possui uma temática própria que caracteriza sua filosofia como o SISTEMA na Alemanha, o ESPÍRITO na Itália, a RAZÃO na França e assim por diante. No Brasil o pano de fundo é a CULTURA e em Portugal DEUS.
A questão da cultura na filosofia brasileira reflete bem
o substrato social, qual seja a heterogeneidade: somos um conjunto de todas as
raças, religiões, embora haja predominância numérica de católicos, há um
caldinho de credos, ideologias mais desencontradas caminham pari passu, as
cores raciais são um estampado vivo.
No caso brasileiro a filosofia pode ser o tripé para a concertação
social.