Ao chinês Liu
Xiabo foi concedido o Prêmio Nobel da Paz no ano de 2010. Ao proceder a escolha
de Liu Xiabo o Comitê Norueguês aceitou polemizar com a tradição despótica do
oriente. O governo chinês não gostou da indicação e pediu explicações ao
governo da Noruega. O agraciado é pouco conhecido no Brasil, mas ganhou
notoriedade desde que fez greve de fome pela libertação dos estudantes chineses
encantoados pelo exército vermelho no famoso cerco militar da Praça da Paz
Celestial. A democracia acabou não vindo na China, mas as reformas econômicas
no sentido de respeito ao livre mercado trouxeram um desenvolvimento econômico
há muito desconhecido da China.
Livre mercado
é bom, mas só ele não assegura o desenvolvimento humano. A experiência dos
últimos duzentos mostra que livre mercado só traz benefícios para toda a
sociedade quando se associa com moral social negociada, estado de direito,
democracia formal, partidos fortes com definição programática, liberdade
religiosa e estado laico. Capitalismo sem o restante ajuda a enriquecer uma
pequena parte da sociedade e deixa o restante na pobreza. Aliás, para entender
isto não é preciso conhecer a China e sua história, sabemos por experiência
própria o que é um país onde o desenvolvimento beneficia principalmente uma
pequena parte da população, deixando a maioria fora dos benefícios da riqueza.
Felizmente a Nova República de Tancredo começou a dar frutos e o Governo do
Presidente Lula conseguiu melhorar a vida de milhões de brasileiros mais pobres.
A liberdade
política é expressão da liberdade pessoal, já nos ensinava Tancredo Neves. Para
entendermos o sentido disto é importante lembrar os ensinamentos do filósofo
alemão Edmund Husserl. Ele mostra que a consciência é criadora, permite não apenas
pensar o mundo de uma forma objetiva e compartilhada, mas fazê-lo aparecer como
experiência de um eu singular. O mundo surge na consciência como criação do
existente e assim é único. Entende Husserl que a consciência é afetada pelo
contato com os objetos à sua volta, eles entram em cada pessoa e passam a fazer
parte da vida de um modo particular. Se nós somos únicos pela forma como
incorporamos o que está à nossa volta, precisamos de um sistema político que
seja também expressão disto.
Deixando de
lado o valor da liberdade política e retornando à decisão dos organizadores do
Nobel, eles chamaram atenção do mundo para a luta de um docente universitário
de 54 anos de idade que há mais de vinte anos luta pelos direitos civis na
China. Professor de literatura, poeta e orador, ele foi afastado da cátedra
universitária e preso três vezes nos últimos vinte anos. Atualmente cumpre pena
de 11 anos de prisão por denunciar o desrespeito do governo chinês aos direitos
humanos. Encontra-se preso a quinhentos quilômetros de Pequim por um regime que
embora tenha iniciado a transição para uma sociedade livre conserva uma
tradição despótica mais que secular. O despotismo chinês encontrou no totalitarismo
comunista uma expressão contemporânea quando consideramos a história milenar do
país. Entretanto o comunismo, hoje em dia, é passado para a maioria dos países,
pois desde a queda do muro de Berlin e a dissolução da União Soviética, fora
Cuba e alguns partidos políticos brasileiros (Leia-se PCB, PSOL, PSTU), ninguém
aposta mais em revolução comunista e estado totalitário.
O professor
Liu Xiabo tomou ciência do prêmio pela mulher que o foi visitar, mas não poderá
deixar a prisão para buscar o diploma, a medalha e o dinheiro do prêmio. Não
sabemos se sua mulher Liu Xia poderá representá-lo, pois também ela se encontra
em prisão domiciliar desde 2008, somente saindo de casa para visitar o marido e
sempre acompanhada da guarda vermelha. Que venha, pois, a liberdade para Liu
Xiabo.