Há exatamente 200 anos que o pesquisador Saint-Hilaire - Augustin
François César Prouvençal de SAINT-HILAIRE.- percorreu o Rio Grande do Sul. E casualmente
foi no mês de abril. Na segunda viagem atravessou transversalmente o Rio Grande
no sentido São Borja – Porto Alegre, passando pelas principais cidades de São Borja, São Nicolau, São
Luís Gonzaga, Santo Ângelo, Santiago e Santa Maria. Hospedou-se, no caminho,
nas fazendas por onde passava. Deixou, com muita perspicácia, as observações
colhidas.
“O estudioso pertenceu aos primeiros grupos de
cientistas, vindos da Europa, para realizarem suas pesquisas e explorações no
Brasil Colônia, durante os anos de 1816 e 1822”.(https://pt.wikipedia.org/wiki/Auguste_de_Saint-Hilaireal)
Neste tempo a corte portuguesa estava instalada na cidade
do Rio de Janeiro. Atualmente todos os seus diários de viagem, estão vertidos
para o português. Grande número de
leitores e dedicam-se a pesquisar seus escritos, principalmente sociologia, etnografia
e geografia do Brasil. (Wikipedia)
Seu estilo é direto, leve como genuíno francês.
Descritivo tanto na paisagem humana como a toponímia, mas também emitindo
juízos de valor. Não se perde com interpretações longas e enfadonhas. Os
conceitos emitidos sobre a população refletem o pensamento da época. Quando faz
uma avaliação comparativa entre negro e índio, inclina-se mais para o negro,
pois fisicamente, conforme ele, tem uma compleição física melhor que o índio. O
negro, embora minimamente, tem alguma visão de futuro, pois consegue guardar
dinheiro. O índio não tem nada, só quer viver o presente.
Acha que o problema da degradação moral da sociedade da
época está principalmente a família, devido à promiscuidade das índias no seio
das famílias. Diz Saint- Hilaire sobre as índias:
“Vivendo somente no meio de velhos,
entregam-se ao primeiro que se apresenta, seja negro, seja branco, e a mais das
vezes não exigem retribuição alguma. Diariamente veem-se brancos fazerem
caprichos por paixão pelas índias, mas em geral elas são infiéis. E notável que
os velhos brancos mostram-se mais apaixonados que os jovens. Isso é devido à
insensibilidade moral das índias, às quais os velhos não repugnam como acontece
entre as brancas e mesmo no meio das negras. De resto as ligações das mulheres
guaranis são sempre funestas. É sabido quanto são perigosas as moléstias
venéreas transmitidas pelas índias aos homens de nossa raça, e quase todas as
mulheres das a aldeias são portadoras de vírus venéreo”.
A avaliação que Hilaire faz do negro é outra.
Vejamos abaixo:
Os
negros, raça tão distante da nossa também, são, entretanto superiores aos
índios. Seu juízo não é tão bem formado quanto o nosso. Eles conservam qualquer
coisa de infantil em seus modos, linguagem e ideias, mas não são estranhos à
concepção do futuro. Tem-se visto muitos adquirirem algum dinheiro. Mesmo quando escravizados eles não são incapazes
de afeição e generosidade. A negra do administrador falou-me, de modo tocante,
de seu amor filial. "Meus filhos, disse-me, não precisam mais de mim, mas
não há um dia em que eu não sinta saudades de minha mãe, por isso chorando. Meu
patrão diz a algumas vezes que deixará esta região e seguirá para o lugar onde
ela está. Tenho mandado rezar diversas missas a Nossa Senhora da Aparecida para
que ele realize essas boas intenções".
Lavouras e criação de animais domésticos não são muito habituais. Galinhas, porcos, cabritos, ovelhas, carneiros, marrecos entre outros embora não citados por Saint-Hilaire faziam-se presentes. Há uma parca referência agrícola sobre o trigo. O fazendeiro onde se hospedou, contou a Saint-Hilaire : “Joaquim José contou-me que 16 alqueires de trigo lhe haviam rendido cem. O mesmo terreno pode produzir duas vezes por ano e durante seis anos, ou mais sem necessidade de adubação nem de alqueíve.” (Viagem...p. 324)
"O arroz, o milho, o trigo e os feijões dão bem naregião; o algodão produz: de modo regular e a raiz da mandioca apodrece na terra, sendo por isso a colheita obrigatória."(p.334)
A predominância absoluta é o gado. Aliás,
ainda hoje há fazendas não têm pomares, nem hortas nas adjacências, e
praticamente nada de animais para a subsistência. Isto se reflete na sua
cultura. Se prestarmos atenção nos cantos o que aparece são as “gauchadas”,
bravuras em laçar animais, presteza em castrar ou abater gado. Nunca se fala em
criar algum animal doméstico e muito menos em trabalhos de lavouras. Também está
ausente a ideia de progresso, contenta-se com seu rancho à beira-chão, coberto
de capim, mas que cabe um amor de china. Também pouco transparece a ideia de
família. Ter uma prenda basta. Tudo o que poderia compor uma família ou grupo
capitalista está ausente: propriedade, dinheiro, plantações. O único bem é o
gado e com ele posteriormente as charqueadas. Esta foi a contribuição
empresarial gaúcha.
AS VIAGENS DE SAINTA-HILAIRE:
Roteiro no Brasil:
1.
Rio de
Janeiro
Rio de Janeiro, Cabo Frio, Macaé, Campos dos Goytacazes.
Volta de São Paulo: Rio Piraí, São João Marcos.
2.
Espírito
Santo
Itapemirim, Vila da Vitória (atual Vitória), Rio Doce
3. Minas Gerais
3.1. Primeira
passagem:
Barbacena, Vila Rica (atual Ouro Preto), Jequitinhonha,
Minas Novas, Rio São Francisco, Sabará, São João del Rei.
2.2. Segunda passagem:
São João del Rei, Vila Rica (atual Ouro Preto), Serra da
Canastra, Araxá, Paracatu.
2.3. Terceira passagem (vindo de Goiás rumo a São Paulo)
Aldeia de Rio das Pedras, Engenho de Furnas, Aldeia de
Santana (atual Indianópolis), Tijuco, Farinha Podre (atual Uberaba), Rio
Grande.
2.4. Quarta Passagem:
Barbacena, São João del Rei, Vila Rica (atual Ouro Preto),
Baependi, Serra da Mantiqueira, Pouso Alto, Passa Quatro.
4. Goyaz (Goiás)
Santa Luzia (atual Luziânia), Corumbá
(atual Corumbá de Goiás), Meia Ponte (atual Pirenópolis), Serra dos Pireneus,
Córrego Jaraguá (atual Jaraguá), Ouro Fino, Ferreiro, Goiás (município), Serra
Dourada, Caldas Novas, Rio Paranaíba.[
5. São Paulo
5.1. Primeira
passagem:
Rio das Pedras, Pouso Alto (atual
Ituverava), Ribeirão Corrente, Franca, Fazenda Batatais (em Batatais), Fazenda
de Lages, Rio Pardo, Casa Branca, Mogi-Guaçu, Rio Mojiguaçu, Mogi-Mirim,
Engenho de Pirapitingui, São Carlos (Campinas), Jundiaí, Pico do Jaraguá, São
Paulo, Itu, Porto Feliz, Sorocaba, Itapetininga, Itapeva.
5.2. Segunda
passagem:[19]
Cachoeira (atual Cachoeira Paulista),
Lorena, Guaratinguetá, Capela de Nossa Senhora Aparecida, Pindamonhangaba,
Taubaté, Jacareí, Arraial da Escada (atual Guararema), Mogi das Cruzes, São
Paulo, Bananal.
6.
Paraná
(pertencia a então província de São Paulo)
Fazenda de Jaguariaíba, Fazenda Caxambú,
Fazenda Fortaleza, Castro, Campo Largo, Curitiba, Paranaguá, Guaratuba.[17]
7. Santa Catarina
São Francisco (atual São Francisco do Sul),
Ilha de Santa Catarina, Desterro (atual Florianópolis), Laguna.
8. São Pedro do Rio Grande do Sul (Rio Grande
do Sul)
8.1. Primeira
Passagem:
Torres, Tramandaí, Fazenda Boavista, Porto
Alegre, Viamão, Rio Grande, arroio Chuí.
8.2. Segunda
passagem:
Rio Butuí, São Borja, São Luís (atual São
Luiz Gonzaga), Santo Ângelo, Santa Maria, Rio Jacuí e Porto Algre.
Bibliografia:
VIAGEM
AO RIO GRANDE DO SUL :1820 – 1821, Augusto de Saint-Hilaire VIAGEM AO RIO
GRANDE DO SUL ( 1820 • 1821) SEGUNDA EDIÇÃO Tradução de Leonam de Azcredo Pena CONHIPANHIA
EDITORA NACIONAL São PAULO - RIO - RECIFE – Porto Alegre 1939 p. 311 e 324