O livro A Revolução Francesa de Israel Irvine Jonathan pela Editora Enaudi, dá uma nova interpretação à Revolução Francesa.
Israel nasceu em Londres em 1946. Dedica-se à pesquisa da história holandesa, o
iluminismo e judaísmo na Europa. Leciona História Europeia Moderna no Instituo
de Estudos Avançados Princeton, Nova Jersey, Estados Unidos.
Neste livro são trazidos alguns fatos novos e um revisão
interpretativa. Entre os fatos novos consta que no Terceiro Estado do Revolução Francesa não havia nenhum
homem de negócios, banqueiro, empresário. Nenhuma pessoa que se
ocupasse com afazeres típicos da burguesia. Já Burke havia se apercebido disto,
qual seja, a alta porcentagem de advogados dedicados à literatura presentes na
Assembleia. Pululavam jornalistas, escritores, professores, livreiros, padres e
non nobres e alguns filósofos. Por isso, as lideranças da revolução não
representavam nenhuma categoria social específica. Dizia um panfleto da época
que se houvesse algum intelectual que se emocionasse com os acontecimentos de
Paris eram NÃO franceses.
O autor da Revolução
Francesa distingue dois braços do iluminismo: o de Locke e Newton, reformista,
deísta, inclusive comprometendo-se com as confissões cristãs. E o de Spinoza,
radical, materialista, ateu e demagogo. Percebe que os iluministas da academia
–filósofos e cientistas - que tomaram parte nos Estados Gerais de 1789 eram um
mínimo. Condorcet, por exemplo, arquiteto da revolução não conseguiu se eleger.
Sièyes foi eleito por um fio. Bailly foi eleito, mas como ele mesmo explicou:
foi uma exceção. O confronto verificou-se logo de início: de um lado os homens
de letras e de outro os acadêmicos, pessoas de ciência. Somente dez, dos mil e
duzentos deputados eram filósofos ou cientistas iluministas, os demais homens
de letras.
No que se refere ao conteúdo ideológico, não foi a ala
dos iluministas da linha de Voltaire, mas sim os de Rousseau, como Robespierre,
Danton e Marat que conduzia os rumos da Revolução. Condorcet, por exemplo, que não
pertencia ao grupo, foi preso e acabou seus dias na prisão. Logo de início
emerge uma tensão entre os homens de ciência, os filósofos ou iluministas e os
homens de letras, literatos e contrários à ciência. Vale lembrar a primeira
obra premiada de Rousseau: se a ciência e as artes fazem os homens felizes. E a
resposta foi: não.Teria havido uma ligação ideológica entre o Terror e os
princípios revolucionários? A filosofia estaria relacionada com o filosofismo,
republicanismo, materialismo, ateísmo e perversão moral? Tudo indica que não.
Haja vista que os filósofos do período de 1789 a 1793 foram brutalmente
mandados à guilhotina por Robespierre. Os sobreviventes afirmam obstinadamente
que a ideologia da revolução era distinta e contrária à filosofia dos
iluministas. A inspiração foi buscada em Rousseau cujo conteúdo se inspirava
num obsessivo puritanismo moral, mesclado de autoritarismo,
anti-intelectualismo e xenofobia.
Conforme Israel, da mesma forma que hoje não se pode
explicar a Revolução francesa através da luta de classe, também não se pode
admitir de que não foi essencial ou contingente a ruptura entre Igreja católica
e Revolução. O impulso anti-cristão foi essencial e se manifestou desde o
início, como se pode observar pela atuação de Robespierre. Defendia que a
religião, como um dos componentes do contrato social, deveria continuamente ser
tutelada, isto é, cercear-lhe a autonomia. O contrato social civil deveria sobrepor-se
ao religioso. A religião fazia parte do contrato e não podia ser considerado um
órgão autônomo ou independente. O descristianização foi um componente essencial
da Revolução e a acompanhou no precedente, no desenrolar e no ulterior
desdobramento.
Israel pretende desmascarar o mito de que foram os
iluministas que inspiraram a Revolução. Para ele exatamente este mito dificulta
a compreensão dos fatos. Entende que a Revolução foi obra e graça de quem não
entendia de filosofia ou ciência. Foi obra de ficção literária que passava ao
largo e longe do pensamento filosófico, como de Locke, e científico como de
Newton. Quando a oposição se avolumou o apelo foi o Terror mandando para
guilhotina qualquer dissidente ou opositor.
Da mesma forma, Israel pensa que não foi uma matriz
radical do iluminismo que animou a Revolução. Simplesmente pensa que não houve
nada de iluminismo na Revolução. Houve, sim, uma ideologia sui generi cujo
ápice e escoadouro natural foi o Terror. Um a um os seguidores que creram que
fosse iluminismo deserdaram ou foram mortos. Foi o que aconteceu com francês
Condorcet, com o americano Paine e o adepto do culto da razão, Cloots mandado
para guilhotina por Robespierre.