sexta-feira, 23 de março de 2018

VIDA LONGA E PRAZEROSA - BAIXO COLESTEROL OU GRANDES AMIZADES? Selvino Antonio Malfatti






Uma pesquisa iniciada há 80 anos na universidade de Harvard se propôs descobrir o segredo da longevidade e do viver bem. Os pesquisadores tinham em mente um ambicioso e sábio objetivo: compreender o que permite viver bem e muito tempo. Para tanto começaram anotar tudo o que acontecia com 300 estudantes matriculados no College de Harvard entre 1938 a 1944: saúde física e mental, trabalho, família, amigos e outros dados relevantes e alguns aparentemente superficiais. O estudo já conta com 80 anos e, parece que tão cedo não findará. E o que descobriram? A resposta surpreendeu os pesquisadores, mas não artistas. Os primeiros pensavam que fosse baixo colesterol, mas segundos, como os Beatles (Love, love, love), intuíram que era o amor e a amizade. Foi isto mesmo. Que o amor e a amizade nos fazem viver bem e longamente.

Além disso, descobriram que a educação é mais importante que dinheiro e a posição social, enquanto a solidão mata, assim como matam o álcool e o fumo e as drogas. Um dos colaboradores e pesquisador do projeto, George Vaillant, disse: “não basta ser brilhante para envelhecer bem. Deves estar enamorado, ou, ao menos, ter relações afetivas fortes, na família (pai, mãe, irmãos, irmãs, tios sobrinhos, primos) e fora dela muitos amigos”.

Não deveria ser os níveis de colesterol e pressão alta a fazerem mal? Com certeza, sim, mas comparados com os laços de família influenciam menos. Os conselhos comuns de bons médicos como não fumar, beber com moderação, consumir frutas, verduras e peixes e desenvolver exercícios físicos, ainda falta mais um e, talvez, o mais importante: dedicar e usar energias com pessoas de relações.
É importante reaprender, pois traz vantagens para o cérebro. Os cientistas documentaram fartamente com testes de performance intelectual e muitos outros exames, inclusive com eletroencefalograma, repetidos por 80 anos. Até mesmo os relacionamentos sociais das crianças são importantes, tanto com as outras crianças como com adultos. O que importa é que façam. Quanto mais experiências tiverem deste tipo ou que brinquem entre si, tanto melhor.

Evidentemente nenhuma pesquisa é perfeita. Esta, por exemplo, foi aplicada somente aos meninos, pois naquela época somente sexo masculino era admitido no College. Outro agravante era que naquele tempo todos eram homens, classe média alta e brancos. Um dos primeiros a participar da pesquisa foi John Fitzgerald Kennedy, futuro presidente dos Estados Unidos, Ben Bradlee, muitos anos diretor do Washington Post. E o que aconteceu com os outros?   Alguns se tornaram empreendedores, advogados de ponta, médicos famosos. Houve também pessoas comuns e até mesmo os de vida miserável: alcoólatras, drogados e esquizofrênicos.

Com o tempo a pesquisa ampliou seu leque incorporando muitas outras pessoas, inclusive mulheres e outras atividades paralelas como «Glueck» - previsão de crimes – em cujos projetos participaram rapazes que viviam nos subúrbios de Boston. Confrontando-se os frequentadores do College e os dos subúrbios resultando conclusões significativas.

Apesar de atualmente a pesquisa estar sob fogo cerrado das críticas, alguns ainda a acham válida. Como prova a descoberta de que, por exemplo, quem é homossexual não o é por culpa dele ou por ter escolhido, nem quem é alcoólatra não é uma falha própria, mas doença. Talvez, ainda, os dados podem coadjuvar na prevenção de certas doenças – como as cardiovasculares e diabetes, por exemplo – e mais, os distúrbios do sistema nervoso ou retardar o envelhecimento. Se assim for, o sistema sanitário mundial melhoraria e haveria uma sociedade com vida mais longa e bem estar.

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