“Costumes de São Paulo”, Rugendas.
Ano letivo
encerrado, Natal e Ano Novo ficaram para trás, então, está na hora de pensar no
lazer.
Desde as primeiras teorizações, como de Aristóteles, o
lazer sempre estava relacionado ao trabalho ou seu oposto. Dizia ele que
trabalhamos para poder desfrutar do ócio. Até o advento da legislação
trabalhista, na prática, somente a classe de pessoas ricas podiam gozar deste
privilégio, pois suas posses lhes permitiam dar-se ao luxo de não trabalhar
para sobreviver. Havia também os que exerciam atividades intelectuais, como
magistrados, advogados, políticos médicos e professores, religiosos e outros
que reservavam um tempo para o descanso. Mas quem dependia de atividades
físicas dificilmente podia gozar deste privilégio, mormente quando iniciou o
período industrial. Hoje, com as conquistas sociais, criou-se artificialmente
ou legalmente um tempo livre de trabalho, conhecido como férias remuneradas ou
descanso remunerado.
As formas de lazer são as mais variadas. Podem ser
físicas, artísticas ou intelectuais. Cada categoria destas também varia no
tempo e espaço. Entre as físicas podemos citar futebol, corridas, canoagem.
Entre as artísticas pode-se mencionar teatro, escultura, pintura entre pinturas,
leituras e como intelectuais incluem-se viagens de conhecimento, palestras ou
congressos. Parta merecer o epíteto de “lazer” não pode haver retorno material
ou pecuniário, embora, uma mesma atividade para uns pode ser lazer e para outros,
trabalho. Quem ministra uma palestra está trabalhando e quem assiste pode estar
fazendo lazer.
Por isso, pode-se dizer que lazer seja um conjunto de
ocupações que os indivíduos entregam-se espontaneamente com o intuito de
descansar, recrear-se, entreter-se ou para buscar formação ou informação. O que
caracteriza o lazer é a vontade livre de entregar-se a uma atividade, sem
objetivo de remuneração ou obrigatoriedade. Como conseqüência o trabalho
profissional ou trabalho suplementar se opõem ao lazer, da mesma forma
atividades formais, como a educação formal, aquela que se é obrigado a fazer
como aulas, provas, temas e outras. Uma atividade doméstica, por exemplo, para
uma empregada não é lazer, mas para um membro da família que resolve fazer por
que gosta ou quer divertir-se pode ser lazer. Um sacerdote que oficia uma missa
é lazer, mas alguém que decide ir à missa para preencher um tempo vago,
torna-se lazer. Para que seja identificado como lazer há de preencher os
quesitos: tempo liberado (aquele que sobrou depois das obrigações profissionais),
tempo livre (tempo que sobra após cumprir todo tipo de obrigações), tempo
inocupado (tempo dos que não têm obrigações profissionais, como os
aposentados).
Mas a pergunta que insiste em ter uma resposta é a
seguinte: por que tanto esforço para conquistar um tempo para o lazer? Para que
trabalhar tanto para ter disponível um tempo para não trabalhar? No fundo é a
busca da essencialidade do ser humano, qual seja, sua dignidade. Esta significa
um valor que não pode ser substituído por outro. O preço de algo, por exemplo,
pode ser trocado por outro, porém, a dignidade não pode ser permutada por
nenhum equivalente. A dignidade é única e sem igual. Isto por que não se
submete a nenhuma lei que não seja instituída por ela mesma.
Na tratativa de configurar o lazer vimos que ele se
referia ao poder fazer o que se quer, sem obrigação. Lazer ou ócio é isto: a
essência do ser humano que é sua liberdade que lhe dá dignidade. Disso se
depreende a máxima de Cícero: “otium cum dignitate.”